Carta Aberta à Vossa Excelência: confissões silenciosas

África -

É para mim evidente que o mais importante na ilha é o poder simbólico de quem diz e não o que foi dito. Cônscio de meu poder social inexistente aposto totalmente do meu intelecto que não resiste à prova do “sobrenome” e nem do “status social”. Imagino que talvez fosse mais significativo receber os parabéns de um Diplomata ou um homólogo europeu qualquer. Mas prefiro falar consciente da minha inviabilidade material e uma nova esperança que me alenta na possibilidade de poder participar dando meu contributo. É capaz de minhas palavras nem terem resposta ou serem lidas, aliás, sou só mais um e representante dos “invisíveis”.

Não há dúvidas que uma das habilidades mais necessária e antiga de um líder de uma nação continua sendo a capacidade de separar os bajuladores dos honestos. Separar os mercenários dos grandes patriotas. E é pela qualidade dos conselheiros que se sabe a capacidade de um líder. Vossa Excelência, não quero ser presunçoso e acreditar que as minhas visões são as melhores ou as mais eficazes, acredito sinceramente na Vossa sapiência e prudência.

A minha geração é marcada por jovens aconselhados pelos pais a se calarem, por desempregados que acabaram alcoólatras e pelos loucos que se multiplicam na praça pública diariamente como prova de miséria material. geração de pessoas que pagam e se vendem para ganharem hambúrguer especial e uma cerveja algumas vezes durante a semana. Minha geração tocou na fome e desemprego ao ponto de se tornarem vendedores de informações e difusores de contra-informação… todo mundo se sentia vigiado e o medo enlouquecia-nos. Minha geração participou em tantos concursos e em todos eles foram reprovados por motivos ignotos e com medo de reclamarem para não serem retalhados. É o papel de um líder dar-nos a confiança que não seremos atropelados por pensar diferente e garantir esse diálogo.

Muitos para obterem o favor da Vossa Excelência levantarão bandeira do partido e até poderão fingir uma devoção digna dos santos à Igreja, muitos que no momento da dúvida só olhavam para os seus umbigos. Espero que não se esqueça de que cada membro escolhido para algum cargo é a imagem do Governo. Se um diretor mente ou comete peculato, é o Governo quem o faz. Na política as aparências são tão importantes quanto a essência. Toda governação tem inimigos naturais, todos os outros quanto foram beneficiados com o anterior regime tende a desprezar o novo que lhes tira os privilégios antigos.

Todavia, a política é uma extensão da economia e a prosperidade económica leva ao desenvolvimento social. Os anteriores governos foram inaptos na criação de novos postos de trabalho e todos os pequenos empreendedores foram estrangulados e assassinados por uma sociedade cada vez mais sem poder de compra. Os empreendedores nacionais sofrem de uma carência de incentivos fiscais. Se a economia não estiver bem, qualquer Governo cairá por melhor que se ache. O mercado é imprevisível, quem achar que possui todas as variáveis para manipular os valores será forçado a declarar humildade diante das desgraças que virão, daí o dar mais liberdade de comércio e seriedade científica como instrumentos de desenvolvimento.

Aceite, pois, Vossa Excelência esta pequena oferenda de palavras e votos de boa governação em meu nome. Muitos a partir de hoje vos oferecerão coisas, jantares, propostas de negociatas incríveis, facilidades até favores em troca de outros. Cada vez que isso acontecer lembre-se dos dias em que essas mesmas pessoas desprezavam a Vossa Excelência, e que agora agem não pensando em si, mas das facilidades que poderão desfrutar. Da próxima vez que um colega meu de Redenção (Brasil) manifestar o interesse em voltar ao país, gostaria de dizer “desta vez” que poderá voltar em paz e que tudo dará certo.

Nada tenho, nada sou, apenas conservo a humilde possibilidade de poder ser lido!

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