Sombras do Poder: Prisões, Mortes e Golpes de Estado em STP

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Documentário "Sombras do Poder"

Sombras do Poder é o título do documentário do jornalista Jerónimo Moniz e o realizador Nilton Medeiros lançado este sábado, 18 de Janeiro, na sede da UCCLA, União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, em Lisboa. No documentário os entrevistados retratam várias prisões e condenações arbitrárias, torturas, assassinatos e histórias dos Golpes de Estado que aconteceram em São Tomé e Príncipe a partir de 1975.

Segundo Jerónimo Moniz, “este documentário faz parte do projeto retalhos de uma história” que tem como objetivo “retratar aspectos da história política de São Tomé e Príncipe de forma que a nova geração não fique sem saber o que aconteceu e tome conhecimento dos factos reais“.

No documentário de quase uma hora, cerca de 10 protagonistas no processo de luta pela independência e outros conflitos políticos que aconteceram em São Tomé e Príncipe no pós independência contam as suas versões dos fatos. “Esta história particularmente (Sombras do Poder) é contada na primeira pessoa pelos protagonistas, então é a verdade dos protagonistas. Pode existir outras verdades” admitiu Jerónimo Moniz, numa alusão ao facto de vários outros protagonistas contactados pela sua equipa não terem aceitado falar para o documentário.

Jerónimo Moniz e Nilton Medeiros falam sobre “Sombras do Poder”

Um destes protagonistas, várias vezes citado pelos entrevistados, é Manuel Pinto da Costa, primeiro presidente da República de São Tomé e Príncipe e então Presidente do MLSTP, que é acusado pelos depoentes de ter ordenad várias prisões arbitrárias e torturas e assassinatos de cidadãos que alegadamente teriam opiniões contrarias e eram acusados de conspirarem contra o regime. Em primeira pessoa, as alegadas vítimas do poder dizem que “o regime só queria fazer rolar cabeças” . Uma das intervenientes diz que chegou-se a votar na Assembleia uma lei para introdução da pena de Morte em São Tomé e Príncipe e admitia-se fuzilamentos políticos uma vez que juridicamente não era possível.

Os antigos presidentes da República, Miguel Trovoada e Fradique de Menezes, também são citados e aparecerem em registo audio no documentário que dá voz há alguns dos envolvidos nos Golpes de Estado perpetrados no país.

O lançamento do documentário contou com a presença de dezenas de são-tomenses que encheram o auditório da UCCLA, inclusive o embaixador de São Tomé e Príncipe em Portugal. António Quintas , numa curta intervenção considerou que “era preciso de facto, termos várias outras verdades“. “Estas verdades existem” disse António Quintas para depois referir que quando entrou no MLSTP “não tive oportunidade de participar nos assuntos” que são apresentados no documentário. O Embaixador lançou criticas a investigação feita pelos autores e defendeu que “do ponto de vista intelectual devemos produzir este tipo de trabalho com alguma análise” frisando que “há outras visões sobre o processo de independência de São Tomé e Príncipe” diferentes das apresentadas no documentário.

Embaixador, António Quintas fala sobre o documentário Sombras do Poder

A intervenção do Embaixador foi pouco aplaudida pelos presentes e mereceu ração imediata e efusiva do realizador Nilton Medeiros que num tom agressivo esclareceu ao diplomata referindo que ” o filme [documentário] esboçou-se simplesmente na perseguição das pessoas, prisões arbitrarias e (assassinatos)“. “O filme é simplesmente para mostrar as novas gerações aquilo que se passou em São Tomé para nós tentarmos compreender o que se está a passar no presente e para nós perspectivamos um futuro melhor, sem ódio e sem rancor“.

Já no final da sessão de lançamento, Nilton Medeiros referiu que ” já vimos que este documentário vai ser e já está sendo polémico” tendo referido que ” estamos cientes do trabalho que fizemos e sabemos das críticas que advirão“. Sobre a possível censura na divulgação do trabalho na Televisão São-tomense (TVS), Nilton Medeiros disse que ” eu não tenho razões para desconfiar da TVS. Eu acredito piamente que a TVS vai passar“, concluiu. O Embaixador, António Quintas “falando em nome do país” também disse acreditar que o documentário vai ser passado “porque nos últimos tempos nós temos assistido documentários críticos” a serem passados na TVS.

Segundo os autores da “Sombras do Poder” o documentário deverá ser lançado ainda no primeiro trimestre deste ano em São Tomé e Príncipe, sendo que prevê-se ainda outras sessões de apresentação em Portugal.

Historiador Augusto Nascimento sobre “A Sombra do Poder”

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