Chefe do Estado-Maior das FASTP pede desculpas à Nação e demite-se após ataque a quartel

“Peço desculpas. […] A minha educação e a minha formação não me permitem aceitar tal atrocidade e atos de traição que lesam a pátria”, afirmou Olinto Paquete em comunicado de imprensa.

País -
Rádio Somos Todos Primos

O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de São Tomé e Príncipe pediu hoje a demissão, e desculpa à Nação são-tomense denunciando “atos de traição” e condenando os “factos horrorosos” que envolveram a morte de quatro detidos após um ataque ao quartel-general das Forças Armadas.

“Acabei de entregar a sua excelência o Presidente da República e comandante supremo [das Forças Armadas] o meu pedido de demissão”, anunciou hoje em comunicado de imprensa o brigadeiro Olinto Paquete.

Na comunicação à Nação o brigadeiro considerou que durante o assalto ao quartel-general militar por “um grupinho de indivíduos à paisana, com ajuda de militares do exército”, ocorrido na passada sexta-feira, a reação das Forças Armadas “foi pronta, mas demorada” e lamentou os episódios posteiros as detenções.

“O nosso objetivo era a preservação da vida, o que durante a operação foi conseguido. Os factos posteriores, inexplicáveis, horrorosos, comprometeram tudo de bom que foi feito”, adiantou.

“Parece-me que foi uma encomenda, pois obedeceu a um plano criteriosamente estabelecido, culminando com a publicação de imagens [quarta-feira], pelas 18:00 [locais, a mesma hora em Lisboa], de coisas que eu não sabia porque me informaram com dados falsos”, disse.

O brigadeiro reconheceu ter prestado “informações falsas à Nação” sobre a morte dos quatro detidos, que tinha justificado antes com ferimentos causados por uma explosão, no caso dos três assaltantes, e, no caso do suposto mandante do ataque Arlécio Costa – detido após o ataque pelos militares – por se ter “atirado da viatura”.

“Peço desculpas. […] A minha educação e a minha formação não me permitem aceitar tal atrocidade e atos de traição que lesam a pátria”, afirmou ainda, justificando desta forma o seu pedido de demissão, que ocorre poucas horas depois de ter participado numa reunião convocada pelo chefe de Estado com as altas patentes do exército, e com o primeiro-ministro, Patrice Trovoada, e o ministro da Defesa e Ordem Interna, Jorge Amado.

Esta quarta-feira foram divulgados nas redes sociais vídeos que mostram um detido – que viria a morrer –, deitado no chão, ensanguentado e com as mãos amarradas atrás das costas, a ser agredido por um militar com um pau, enquanto vários outros militares assistem. Outras imagens mostram detidos deitados ou ajoelhados no terreiro do quartel, com as mãos amarradas e com ferimentos.

No próprio dia do ataque e nos dias seguintes foram amplamente disseminadas imagens dos homens com marcas de agressão, ensanguentados e com as mãos amarradas atrás das costas, ainda com vida, e também já na morgue.

Hoje de manhã, o Governo são-tomense anunciou ter feito uma denúncia ao Ministério Público para que investigue a “violência e tratamento desumano” de militares contra detidos após o ataque ao quartel-general das Forças Armadas.

O assalto foi classificado pelo primeiro-ministro e pelo Presidente da República como “uma tentativa de golpe de Estado” e condenado pela comunidade internacional.

Vários analistas têm apelado à demissão em bloco das chefias militares e do ministro da Defesa Nacional, após as imagens que têm sido divulgadas nas redes sociais.

Após o anúncio do brigadeiro Olinto Paquete, a Presidência da República anunciou que o chefe de Estado Carlos Vila Nova convocou para esta sexta-feira, pelas 08:00, “o Conselho Superior de Defesa Nacional Extraordinário, com carácter de urgência”.

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