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As próximas décadas em São Tomé e Príncipe

As próximas décadas vão ser de luta feroz entre os que querem a rutura com o passado e o triunfo das reformas, isto é, aqueles que querem o progresso e o desenvolvimento e aqueles que querem viver no passado e do passado, sugando o suor dos que trabalham e mantendo o país de joelhos e de mãos estendidas, a pedinchar.

Fui convidado pelos Jovens São-tomenses em Portugal, através de Josimar Afonso, a intervir como orador, no Painel “ As Próximas Décadas em STP “, da Conferência “ Dentro e Fora, Construindo STP “, realizada por ocasião do 45º aniversário da Independência Nacional.

A intervenção, de cerca de 10 minutos, que então proferi, baseou-se no seguinte texto:

“AS PRÓXIMAS DÉCADAS EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

STP tem vivido uma crise profunda, prolongada e abrangente, que afeta todos os sectores, indo do económico e financeiro, ao político, social, cultural e moral. Em consequência disso, o  país produz apenas cerca de 7% das receitas necessárias à cobertura anual das suas despesas de investimento; trabalha-se muito pouco; o desemprego atinge largas franjas da população, sobretudo jovem; os serviços de saúde, educação, água,  energia e saneamento não têm a qualidade que seria desejável. Não existem códigos de conduta nem valores éticos e morais que pautem a conduta dos cidadãos. O dinheiro, aqui e agora, é o valor universal, largamente idolatrado, tornado medida de todos os outros valores.

Por outro lado, o país tem potencialidades imensas que não consegue desenvolver: um mar imenso e rico em recursos, 160 vezes superior à sua superfície terrestre; terras aráveis abandonadas ou deficientemente exploradas; ótimas condições para o desenvolvimento do turismo; uma população jovem, bastante criativa, largamente urbanizada, ávida de conhecimentos e aberta às novas tecnologias; uma população pacata, acolhedora, crente, disponível para dar o que lhe for solicitado, desde que receba, em troca, alguma compensação; uma diáspora prenhe de recursos, entretanto, quase inexplorados.

Os prolongados anos e décadas de crise persistente e marasmo, em contramão às promessas mirabolantes de sucessivas vagas de dirigentes, que os cidadãos foram vendo surgir do nada e, no momento seguinte, tornarem-se grandes senhores, barrigudos e endinheirados, contribuíram para despertar no cidadão a consciência das causas que impedem o país de acabar com a crise e  desenvolver-se. Daí a consciência firme de que a mudança é urgente e essencial à nossa sobrevivência coletiva; de que são tão indispensáveis as ruturas com as más práticas como as reformas com vista à correção destas.

Pelo que, as próximas décadas têm, obrigatoriamente, de ser de mudanças profundas, consubstanciadas em ruturas com as más práticas e em reformas, rumo ao progresso e ao desenvolvimento.

O são-tomense não tem razões para acreditar nos dirigentes do país, nos partidos que os enquadram, nem, tão pouco, nas instituições encabeçadas pelos referidos dirigentes. Salvo raríssimas exceções, os dirigentes, ao invés de servirem o país, servem-se, apenas, a eles próprios e aos seus círculos de amizade, de familiares ou partidários; privatizam os recurso e as oportunidades e  fazem do nepotismo e do clientelismo ferramentas de gestão, sem a devida responsabilização.

Perante esta situação, os cidadãos têm que assumir as suas responsabilidades, tomando nas suas mãos o seu destino, deixando para trás o conforto em que se encontravam, a espera dos favores dos dirigentes.

Este é o primeiro momento da interminável cadeia de ruturas e reformas que viveremos nas próximas décadas – o despertar do cidadão que, progressivamente, vai tomar nas suas mãos o seu próprio destino. O despertar do cidadão para o Exercício da Cidadania Ativa, Consciente e Responsável.

Perante a incapacidade dos partidos se comportarem como pessoas de bem, pondo-se ao serviço do país, os cidadãos veem-se na necessidade de se  unirem para enfrentarem com confiança e segurança, os inúmeros desafios do dia a dia.  Só unidos estaremos em condições de definirmos  objetivos comuns, centrados em interesses comuns. A união faz a força e cimenta a determinação da maioria. Porque o caminho a seguir, não nos iludamos, vai ser recheado de armadilhas pois, os que hoje se servem dos cidadãos e do país para continuarem de barriga e bolsos cheios e abocanharem tudo só para eles, não vão baixar os braços. Eles vão fazer tudo para que nada mude, para que tudo continue na mesma.

As próximas décadas vão ser de luta feroz entre os que querem a rutura com o passado e o triunfo das reformas, isto é, aqueles que querem o progresso e o desenvolvimento e aqueles que querem viver no passado e do passado, sugando o suor dos que trabalham e mantendo o país de joelhos e de mãos estendidas, a pedinchar.

O cidadão consciente e ativo, agora transformado em Agente de Mudança, tem pela frente um caminho longo e espinhoso. Porque sendo um animal de hábitos, o ser humano esta vocacionado para fazer sempre as mesmas coisas e da forma como  se habituou. Não muda facilmente. Por isso, será necessário muito trabalho, muita dedicação, muita determinação e muita vontade para se manter Acesa a Chama da mudança.

Os Agentes de Mudança terão por lema – UNIR, REFORMAR, MORALIZAR e DESENVOLVER,

As ações por eles desenvolvidas em prol da mudança, visarão:

UNIR – para melhorar as condições de vida, criar emprego  e combater as desigualdades;

UNIR – para moralizar e humanizar, resgatando os valores da são-tomensidade;

UNIR – para reformar a sociedade e o Estado, rompendo com as más práticas, privilegiando a reforma da justiça, da educação e formação e da saúde; promovendo uma sociedade aberta e tolerante, mais justa, igualitária e fraterna, alicerçada na família e nos valores da são-tomensidade;

UNIR – para desenvolver e combater a exclusão e a marginalidade.

Nos primeiros momentos, os Agentes de Mudança estarão em minoria. Todavia, com o decorrer dos tempos, a justeza do seu posicionamento, a lucidez e determinação dos dirigentes que forem emergindo, o sucesso que for pontualmente alcançado na luta para tornar STP melhor, o tom sempre tolerante, cordato e construtivo das suas intervenções, mobilizarão um número cada vez maior de cidadãos, tornando-se atores incontornáveis na  sociedade são-tomense.

E assim, nas próximas décadas, recriaremos um novo STP, próspero, desenvolvido e de todos para todos.

Ousemos “ por a mão “, que Deus nos ajudará!

MUITO OBRIGADO PELA VOSSA ATENÇÃO “

Porém, em atenção aos  comentários de alguns participantes, decidi transformar o anexo anterior no seguinte:

STP encontra-se num beco com saída, mas os dirigentes\ a classe política atual não quer nem está interessada em promover a saída do país do referido beco. Pelo que, no meu entender, as próximas décadas serão de MUDANÇAS profundas, de ruturas e de reformas, que conduzirão à emergência de uma nova classe dirigente, esta sim, vocacionada para romper com a crise instalada e promover o progresso e o desenvolvimento de STP. Trata-se de um processo, umas vezes acelerado outros lento, sinuoso, acidentado, mas que as Forças de Mudança, pelas razões que explico no texto anterior, acabarão por vencer.

Um olhar atento para  as DEZ ruturas\reformas, no meu entender, mais urgentes e significativas, vai ajudar-nos a compreender as razões porque os dirigentes atuais não têm o mínimo interesse nem, tão pouco, vontade e determinação para aplica-las:

 

AS DEZ RUTURAS\ REFORMAS MAIS URGENTES E SIGNIFICATIVAS:

1 – Estudo aprofundado, sistemático e contínuo da cultura nacional, dos hábitos e costumes,  das crenças e valores nacionais, de forma a torna-los veículos do progresso e do desenvolvimento.

2 – Reforma profunda da Educação e da Formação, adequando-as ao Projeto Endógeno de Desenvolvimento Sustentável e à consolidação da Identidade são-tomense.

3 – Resgate dos valores cívicos, morais e culturais que conformam a são-tomensidade.

4 – Conceção, aprovação e aplicação, com ampla participação, do Projeto Endógeno de Desenvolvimento Sustentável, representativo dos reais interesses dos são-tomenses, em geral e, muito particularmente, do das camadas mais desfavorecidas.

5 – Identificação de um parceiro – país, países ou organização, –  com que STP se deve associar, criando uma nova realidade sustentável, nos diversos  aspetos. Orgulhosamente sós, como até agora temos estado, vai contra os interesses da grande maioria dos são-tomenses.

6 – Redimensionamento do Aparelho do Estado de modo a ajusta-lo, progressivamente, à sua base produtiva.

7 – Reforma da Justiça, combate sem tréguas à corrupção, à injustiça, à desigualdade e à exclusão. Reposição da autoridade do Estado.

8 – Reconhecimento do trabalho árduo e do mérito como critérios únicos de ascensão social e de acesso às  oportunidades.

9 – Infraestruturação digital, concebida como fator transversal, suscetível de contribuir, largamente, para satisfazer as necessidades dos sectores da saúde, educação e formação, agricultura, pescas, banca, administração pública, justiça, entre outros.

10 – Estabelecimento de  parceria com a diáspora, definindo os termos e condições em que ela  tem voz e capacidade de intervenção, na vida nacional.

Acreditar que a classe política atual, por um momento que seja, aceita assumir esse conjunto de ruturas\reformas, será acreditar que ela aceita suicidar-se!  Pois,  bloqueios com que se pretende romper e reformar, são o fundamento do poder que detém e do domínio que exerce  sobre a Sociedade e o Estado.

São Tomé, 15 de Julho de 2020

 

FILINTO COSTA ALEGRE

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