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Tretas & Politiquices

“As intervenções dos cidadãos não devem apenas cingir-se no direito e dever de votar no dia dos votos, muitas vezes motivadas pelo dinheiro espalhados por esses Partidos, cuja origem se desconhece e não a avaliação consciente dos mesmos, como tem vindo a acontecer. O nosso escrutínio deve ser constante.”

A política é uma ciência e na minha opinião todos os que pretendem tê-la como profissão, devem obter ao menos uma formação básica nesta área do saber, para se evitar erros que prejudicam os seus posicionamentos dentro dos próprios Partidos a que pertencem, quando estiverem no poder, assim como na oposição. A formação em política vai determinar muito a qualidade do ambiente político numa sociedade e evitar crises muitas vezes por desconhecimento das regras básicas de quem quer estar na política.

Fernando Simões

Não é por acaso que muitos Partidos Políticos de outros países avançados, têm escolas de formação política para seus membros, porque nem todos tem uma licenciatura em Ciência Política ou com ela relacionada.

Lembro-me que nos primórdios da nossa independência o então partido único, MLSTP tinha uma escola de forma política e patriótica. Essa escola o que me parece deixou de existir não sei por que razão. A forma como se faz política aqui no Pais há uns tempos a essa parte, permita-me dizer, que tem sido um ‘’desastre’’. Como em todos os sectores da sociedade, a política também tem regras que devem ser estritamente cumpridas. Não pode valer tudo.

Uma das regras importantes é o estrito cumprimento das Leis em vigor porque é esse instrumento que regula toda a atividade duma sociedade. As Leis são elaboradas e aprovadas pelos políticos e devem ser de cumprimento obrigatório para todos os cidadãos. Sendo obrigatório para todos, os políticos e governantes devem dar exemplos e serem os primeiros a cumpri-la para ter a moral para exigir o seu cumprimento. Se isto não acontece então será o fim de tudo.

Nestes últimos tempos tem havido factos políticos que têm suscitado algum debate no ambiente político são-tomense, tal como: A velha questão dos 30 milhões de euros de dívidas ocultas com Angola por esclarecer até a data; incumprimento da Lei Eleitoral quanto a prestação de contas dos candidatos às últimas eleições presidenciais; Criação do Movimento Político BASTA.

Sobre os 30 milhões, a questão voltou a ser levantada pelo ativista angolano Rafael Marques, seguida de trocas de correspondências entre este ativista e um elemento da direção do ADI. O estranho é que esse processo já havia sido arquivado pela Procuradoria-Geral da República de São Tomé e Príncipe, por razões que a opinião pública desconhece, quando devia ser do interesse dos visados o cabal esclarecimento do caso pelas instâncias judiciais. Ora, se por motivo que desconhecemos os visados não estão interessados a esclarecer esse assunto, os contribuintes nacionais têm o direito a essa clarificação.

Outra questão é respeitante a Lei Eleitoral quanto a prestação de contas dos candidatos às últimas eleições presidenciais. Quanto a isso, a Lei não foi cumprida por todos os candidatos que participaram nessas eleições presidenciais segundo o Tribunal Constitucional. Repara que se tratou de uma eleição para escolher o mais Alto Magistrado do País. Perante esse incumprimento da Lei e em vez de haver por parte dos implicados um pedido de desculpas à Nação, tentam por todos os meios encontrar subterfúgios para o não pagamento das coimas prevista resultantes do incumprimento. Seja qual for o desfecho desse processo, não deixara de ser uma mancha grande na conduta da classe política são-tomense e muito mau exemplo para sociedade.

O caso da criação do Movimento BASTA, tudo normal se não fossem dois factos que francamente não consigo entender por parte de alguns políticos da nossa praça. Os principais promotores do tal Movimento, alguns fazem parte da chamada Nova Maioria que tem governado o País. Portanto, não estão isentos do que correu mal na atual governação. Não se entende então, as promessas que têm sido veiculadas, como por exemplo, a criação de 4 mil postos de trabalho sem, contudo, explicar, como é que vão criar todos esses empregos. Outro facto é a estranha submissão de um Partido histórico como PCD no tal Movimento. O mínimo é uma clara humilhação, talvez numa tentativa de salvar esse Partido que quase já não tem expressão eleitoral. Bem ou mal, tudo isso vai ficar esclarecido no próximo dia 25 de setembro próximo.

O sociólogo/político alemão Max Weber dizia: ‘’Há duas maneiras de fazer política. Ou se vive ‘’para’’ a política ou se vive da política…’’ A maioria dos nossos políticos optaram pela forma mais perniciosa de fazer política que é viver e aproveitar dela. É um pouco isto que temos observado no País e é a razão do nosso subdesenvolvimento crónico.

Aquilo que se tem constatado da nossa classe política, e aqui, quero me referir a todos os Partidos Políticos da nossa praça, é o que chamo de ‘’Tretas & Politiquices’’. Não há uma política séria que concorre para o desenvolvimento harmonioso do País. Os Partidos que estão a governar o País com o destaque para o MLSTP, deviam ter programas mais assertivos em função dos meios financeiros de que o País dispõe. Os fundos mobilizados junto dos nossos parceiros deviam ser melhor geridos e controlados. É verdade que tem havido um grande esforço nesse sentido para o desenvolvimento agropecuário, construção de infraestruturas sociais e outros equipamentos essenciais para o desenvolvimento. Apesar disso, fico com a sensação de que se podia fazer um pouco mais, apesar da situação de crise pandémica de Covid que atravessou quase todo o tempo desta governação, assim como o desastre natural ocorrido no País no final do ano passado e ultimamente a guerra na Ucrânia. Outras razões que perturbaram também a governação, segundo o meu ponto de vista, são pequenos conflitos inúteis e sem sentido que aconteceram no seio do MLSTP, como alguns jogos pouco claros, interesses pessoais exacerbados de alguns, deslealdade institucional etc.

O ADI é o único Partido da oposição e curiosamente foi o Partido que governou o País sozinho nos últimos quatro anos anterior a estes. De oposição não se tem visto nada a não ser críticas sem sentido e sem nenhum conteúdo. O ADI contesta tudo, mas nunca apresenta uma proposta válida de melhoria para o País.

O Partido está mais preocupado a chegar ao poder o mais rapidamente possível, não sei com que objetivo, se tivermos em conta o desastre dos quatro anos que esteve lá.

Para além de tudo isso, existe uma situação muito confusa e estranha no seio do ADI: Liderança ausente do País há quase quatro anos, deserções ou afastamento de alguns dos seus membros importantes, casos de corrupção em que supostamente alguns dos seus dirigentes estarão envolvidos etc.

Perante esse ambiente político, e tendo em conta que não existe sociedade sem Governo, nós os cidadãos devemos ter uma intervenção mais ativa, usando os instrumentos previstos na nossa Constituição para protestar, denunciar, penalizar e afastar esses maus políticos na direção do País, em vez de entrarmos nos jogos dos mesmos com a nossa passividade, indiferença ou mesmo cumplicidade. Deixar tudo como está para ver como fica não é o melhor caminho. É claro que o objetivo desses maus políticos é apenas o tal aproveitamento político que me referi atras.

As intervenções dos cidadãos não devem apenas cingir-se no direito e dever de votar no dia dos votos, muitas vezes motivadas pelo dinheiro espalhados por esses Partidos, cuja origem se desconhece e não a avaliação consciente dos mesmos, como tem vindo a acontecer. O nosso escrutínio deve ser constante.

Fernando Simão

 

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