Rádio Somos Todos Primos

Sobre o dia de África

África

"Sobre o dia de África" Photo Credit -ww.irishaidfellowships.ie

Das pessoas que encontrei no meu quotidiano e por experiência de companheiros de jornada das ideias, parecem conservar o pensamento que boa parte das pessoas nem sabem porquê do dia de África.Tomado por certa curiosidade perguntei às pessoas, só souberam dizer que era feriado e haveria festival no parque; que alguma “dama” está publicou em seu perfil de facebook algum decote africano; que algum grupo de animação de afro-house estará dançando na noite; que tem discotecas móveis e muita “drena”… Muita “corrente”.

 Quanto a essa forma de pensar, parecia-me algo bem distribuído, não importava o grau de escolaridade, a lascívia e a tendência para ausência de reflexão parecem carcomer toda nossa estrutura social democraticamente. 

Na diáspora é o dia dos africanos dançarem e exibirem a arte africana. Uns acabam bêbados e conseguem engatar pela curiosidade inocentes estrangeiros. Lá fora, na diáspora, uns até tentam promover palestras de reflexão, como devem suspeitar, quase ninguém vai. Aparentemente as palestras ocorrem pela manhã ou pela tarde, horário de embelezamento ou preparação para as festividades que decorrem na madrugada.

Os estudantes, sobretudo os são-tomenses, poucos parecem se distinguirem por sua inteligência, análise crítica, raciocínio matemático avançado… entre outras façanhas que exigem disciplina e estudo criterioso. Mas ao se tratar de danças, quem está na moda ou tem “swagg”; quem é o maior copulador; quem é o melhor jogador… aí sim nos destacamos, e ficamos somente nisso. E claro, temos os melhores pedantes e intelectuais fracos que a humanidade já concebeu.

Daqueles intelectuais de eventos, os convidados a darem opiniões, aparecem bem aparatados, cabelo bem arranjado, mas ficam só nisso. Incapazes de atos revolucionários,  são bajuladores na expectativa de se darem bem na vida com aparência de superioridade intelectual.

E o sistema os recompensa por isso. Fazem sucesso entre os cegos; fazem discursos floridos entre os surdos; e ao andarem de peito erguido na praça, os mais profundos ouvem o barulho que fazem por falta de conteúdo. E exigem serem chamados de doutores.

Curiosamente, há mais estrangeiros querendo saber da nossa história do que nós mesmos. São eles quem promove os debates sérios enquanto a África dança, come e bebe. São eles quem levanta questões sobre a geoestratégica do golfo da guiné; sobre as comodities.

E sobre a abominação do Franco CFA? Sobre o neocolonialismo? Sobre o racismo institucional endêmico? Sobre a condição de empregabilidade? Sobre como temos tantos recursos e continuamos pobres? Sobre a educação que ensina uma criança que a história do mundo é a história da Europa? Sobre o projeto de nação?

O que tem feito a Unidade Africana que Hailé Selassié tanto lutou??

Enquanto isso,…longe, outros países imperialistas nos colocam em suas agenda num conluio com a burguesia africana… bem, estaremos dançando, embebedando e produzindo mais mão de obra numa exibição nefasta de promiscuidade e consciência enjaulada.

Não deixando de lado alguns estudantes que são vozes isoladas, alguns intelectuais condenados ao silêncio forçado para não irritarem os “intelectuais de eventos”.

Meu sincero elogio aos alunos que realizam eventos e quase ninguém aparece. Aos pensadores revolucionários que falam da África atacando as raízes dos problemas e não ficam numa dialética simplista de colono e colonizado. Que no próximo ano possamos ir além de pão e circo, precisamos refletir seriamente a condição do africano.

Por: Ivanick Lopandza

Exit mobile version