O presidente do governo do Príncipe disse hoje que é preciso pôr fim à política “excludente e promotora de desigualdades” das autoridades de São Tomé e reafirmou a indignação da população pelo bloqueio ao reforço da autonomia regional.
“Temos, por isso, de acabar com a ideia, inútil, descabida e mesquinha, embora cristalizada em alguns setores políticos, de que aquilo que é potencialmente bom e exequível no Príncipe é necessariamente mau para São Tomé e aquilo que é potencialmente bom para São Tomé é necessariamente mau e inexequível no Príncipe”, defendeu Filipe Nascimento, na comemoração dos 551 anos da ilha do Príncipe, que hoje se assinala.
Filipe Nascimento realçou que na ilha do Príncipe os “constrangimentos de natureza económica e social relacionados com a eclosão da pandemia da covid-19” têm sido “amplificados ou agravados, nos últimos tempos, pela ausência de transferência de verbas do Governo central para a região,” condicionando “a satisfação de despesas de funcionamento e necessidades da população do Príncipe”.
“Existem decisões políticas que não dependem de nós, mas, que, todavia, se já tivessem sido tomadas, de certeza absoluta, que estaríamos hoje mais bem preparados para enfrentar esta crise pandémica e, sobretudo, mais preparados para configurar o nosso futuro como entidade comunitária regional,” precisou.
O presidente do governo regional voltou a criticar a rejeição do estatuto político-administrativo da Região Autónoma do Príncipe “que foi recentemente chumbado na Assembleia Nacional, estranhamente com votos de deputados eleitos pelo círculo do Príncipe”.
Para Filipe Nascimento, existe “ausência de sensibilidades [na Assembleia Nacional] para a criação de uma lei das finanças regionais, que possa contribuir para atenuar os constrangimentos decorrentes da transferência avulsa de verbas para o contexto regional”.
O líder do governo regional considerou que esta atitude é “muitas vezes condicionada por critérios de natureza político-partidária mesquinhos e que não acrescentam valor à defesa dos interesses nacionais e regionais”.
“A população do Príncipe tem dificuldades em compreender esta atitude, até pelo facto de a experiência autonómica durante a última dezena de anos denunciar, no contexto regional, ganhos extraordinários em múltiplos setores que não podem ser desprezados, por mais esforços que se possa fazer em sentido contrário”, considerou.
Filipe Nascimento realçou que a Região Autónoma do Príncipe tem neste momento “uma cobertura total de rede elétrica e prepara-se para fazer o mesmo, nos próximos tempos, relativamente à captação, tratamento e transporte de água potável para todas as comunidades no contexto regional”.
O presidente do Governo Regional afirmou que a ilha do Príncipe “não pode continuar a ser constantemente vítima do modelo de organização administrativa, de decisões políticas, sobretudo no domínio de uma política de transportes nacionais, marítimo e aéreo […] excludente e promotora de desigualdades” e pediu “a definição de uma política de transporte que ajude os agentes económicos” e “contribua para acrescentar valor no domínio económico e, sobretudo, que não proporcione, de tempos a tempos, mortes, dores e sofrimento.”
“Ninguém compreende, por exemplo, que o preço de um bilhete de avião entre as duas ilhas, com uma extensão de 140 quilómetros, durante meia hora de viagem, seja de 6 a 7 mil dobras, quase que equivalente ao preço de um bilhete de alguém que vem do exterior para o país e tenha, por exemplo, de atravessar todo o Atlântico para chegar ao território nacional”, realçou.
O abastecimento regular de combustível e produtos de primeira necessidade são outras preocupações indicadas pelo presidente do governo regional no sentido de “combater os preços inflacionados na região”.
“É inadiável um forte investimento na saúde para minimizar o sofrimento da população da ilha do Príncipe,” acrescentou Filipe Nascimento, precisando que “só no ano transato, o governo regional suportou com os seus parcos recursos mais de 4 milhões de dobras em evacuações médicas” e neste ano já foram evacuados mais de 20 doentes para São Tomé.
“Há esta necessidade premente e o Governo tem que olhar para o Príncipe e eu espero que tem sido assim, mas é precciso melhorar, como uma parcela de terra que integra o nosso território nacional que sofre a dupla insularidade e a população não pode ser penalisada por isso”, defendeu o Presidente da Assembleia Nacional que presidiu ao ato Centro dos 551 anos da descoberta da ilha do Príncipe.
“É resolver estas questões com alguma urgência e com alguma equidade também,” precisou Delfim Neves.
Segundo os historiadores, a ilha do Príncipe foi descoberta em 17 de janeiro de 1471 pelos navegadores portugueses Pêro Escobar e João de Santarém. A Ilha do Príncipe foi inicialmente batizada de Santo Antão, e depois recebeu o nome de “Príncipe”.
Em 2012, a ilha do Príncipe foi declarada reserva mundial da biosfera da UNESCO, sendo hoje um dos principais destinos de turismo ecológico mundial.