“Além de alguns atrasos e questões que têm a ver com o processo e organização, acho que as coisas estão a correr bem”, afirmou hoje à Lusa Patrice Trovoada, próximo da sua residência em Vila Maria, na capital, São Tomé.
O candidato da Ação Democrática Independente (ADI) disse ter “uma preocupação, ligada à presença dos jornalistas, para poder fazer a cobertura em direto da contagem dos votos”.
“É algo fundamental, estamos habituados em São Tomé e Príncipe e que facilita a transparência do processo. Mas parece que o Governo, pelo menos até esta manhã, não tinha dado os meios logísticos para que isso acontecesse”, referiu.
Contactado pela Lusa, o diretor da Rádio Nacional, Manuel Barros, afirmou que “nada impede a transmissão dos resultados em direto”, como acontece habitualmente nos atos eleitorais em São Tomé e Príncipe.
Por outro lado, Patrice Trovoada lamentou que populares tenham feito uma barricada no Bairro do Hospital, com 1.093 eleitores, na capital são-tomense, a única circunscrição no país onde hoje não houve votação, e rejeitou qualquer responsabilidade da ADI no protesto.
“Quem está mais interessado que se vote hoje é o ADI. O Bairro do Hospital é um bairro de jovens que há muitos anos conhece problemas graves, sobretudo em matéria de água. Que fique claro: o ADI quer que se vote no bairro”, acrescentou.
Além destes problemas que identificou, Patrice Trovoada considerou que “até agora”, ao final da manhã, “as coisas estão a correr bem”.
“Há uma boa afluência às urnas, as pessoas estão calmas e serenas. Acredito que, da maneira com estamos a presenciar o ato, os são-tomenses vão de facto poder exprimir a sua vontade”, declarou.
Patrice Trovoada está hoje na capital são-tomense, mas não pode votar porque não foi feita a atualização dos cadernos eleitorais, impedindo-o de transferir o seu recenseamento da Amadora, Portugal, para o país.
“É algo triste, mas não sou o único. Mesmo no interior do país, há pessoas que mudaram de residência e que têm imensas dificuldades de se dirigir às antigas mesas de votos, já que não houve atualização dos cadernos eleitorais”, comentou.
O candidato referiu que “evidentemente não é possível” ir hoje a Portugal para votar.
“Tenho esse ‘handicap’, gostaria de dar aos são-tomenses mais uma prova, mais um exemplo de civismo. Infelizmente, estou cá em São Tomé e Príncipe sem poder votar”, lamentou.
Sobre a responsabilidade desta situação, que nas contas da ADI, impede cerca de nove mil jovens que completaram 18 anos desde a última atualização dos cadernos eleitorais, o ex-primeiro-ministro considerou que o país “regrediu em termos de execução daquilo que são as tarefas básicas do Governo”.
“O meu sentimento é dividido. Se é por ineficiência, desleixo, amadorismo ou uma vontade explícita de proibir e negar a muitos jovens a possibilidade de votar. Eu não atribuo facilmente a culpa a um dirigente quando se trata de privações de direitos a cidadãos, mas é um assunto bastante grave quando vai privar de direitos milhares de são-tomenses”, acrescentou.
Os cerca de 123 mil eleitores de São Tomé e Príncipe são chamados hoje a votar nas eleições legislativas, autárquicas e regional, com os votantes na diáspora a eleger, pela primeira vez, dois deputados pela Europa e África.
As urnas abriram às 07:00 e encerram às 17:00 locais (mais uma hora em Lisboa). Nas duas ilhas que compõem o país, haverá um total de 309 mesas de voto para os 123.301 eleitores.
No total, 11 partidos e movimentos, incluindo uma coligação, concorrem hoje aos 55 lugares da Assembleia Nacional de São Tomé e Príncipe.
Pela primeira vez, 14.692 cidadãos residentes em 10 países da Europa e África elegem um deputado por cada círculo. Os restantes 53 deputados são escolhidos pelos seis distritos da ilha de São Tomé e pela região do Príncipe.
Os eleitores são-tomenses têm igualmente de escolher os próximos presidentes das autarquias e o Governo Regional do Príncipe também vai a votos.
Fonte: LUSA