O primeiro-ministro condenou o Golpe de Estado ocorrido no Gabão e defendeu o diálogo para o regresso rápido à ordem constitucional no país africano, defendendo uma “reflexão e concertação política” sobre a situação que tem se repetido em vários países africanos.
“São Tomé e Príncipe, o Governo, o Estado são-tomense a nossa aposição é clara: evidentemente que nós condenamos qualquer tipo de subversão, de inversão da ordem constitucional pela violência e sobretudo a violência armada, isto é um ponto indiscutível, não negociável”, disse Patrice Trovoada.
“Estamos agora perante um facto consumado [de Golpe de Estado], o que podemos fazer é sempre dentro do diálogo, da negociação e da não-violência, tentar encontrar as vias para o regresso rápido à ordem constitucional”, apelou o chefe do Governo são-tomense que regressou na noite de quarta-feira do Ruanda, após uma visita de 24 horas.
Patrice Trovoada sublinhou o contexto da realização das últimas eleições no Gabão “eram um bocadinho preocupante porque não havia observadores, não havia jornalistas” que também são “disposições que trazem sempre mais confiança e transparência no processo eleitoral”.
“O processo eleitoral foi agora interrompido por esse Golpe de Estado, vamos ver como fazer para um regresso rápido para a normalidade institucional”, disse Patrice Trovoada.
Questionado sobre até que ponto o Golpe de Estado pode perturbar a situação de normalidade na região africana, Patrice Trovoada, realçou que tem havido vários Golpes de Estados no continente, mas deve-se olhar para cada país de forma particular.
“Nós devemos todos trabalhar para uma certa prevenção dessas situações, o que tem a ver com uma série de dispositivos, o primeiro deles é a boa governação e também que os processos eleitorais, que são os únicos que podem autorizar a alternância no poder sejam cumpridos da melhor forma possível”, referiu Patrice Trovoada.
“Eu creio que a repetição de golpes em África leva-nos rapidamente a fazermos um trabalho de reflexão, de concertação política, não só ao nível do continente para vermos como é que nós estancamos essa situação que é antidemocrática”, insistiu o chefe do Governo são-tomense.
Sobre a visita a Ruanda, Patrice Trovoada disse que falou com o Presidente ruandês Paul Kagame também sobre a situação no Gabão, e de “uma série de concertação político-diplomática” sobre questões a nível regional.
O Presidente são-tomense também condenou hoje a “inversão da ordem constitucional” por via das armas no Gabão, assegurando que a comunidade são-tomense neste país se encontra bem e foi aconselhada a ficar em casa.
O chefe de Estado avançou que “a comunidade são-tomense está bem” e foi aconselhada “a não sair de casa”, mas é preciso estar atento ao evoluir da situação nas próximas horas.
O Gabão enfrenta desde a madrugada de hoje um golpe de Estado levado a cabo por militares, iniciado pouco depois de terem sido anunciados os resultados das eleições de sábado, segundo os quais o Presidente, Ali Bongo Ondimba, permaneceria no poder, dando continuidade a 55 anos de domínio do poder pela sua família.
Um grupo de militares do Gabão anunciou na televisão o cancelamento das eleições presidenciais que reelegeram Ali Bongo e a dissolução de todas as instituições democráticas.
Depois de constatar “uma governação irresponsável e imprevisível que resulta numa deterioração contínua da coesão social que corre o risco de levar o país ao caos (…) decidiu-se defender a paz, pondo fim ao regime em vigor”, declarou um dos militares.
O mesmo militar, alegando falar em nome de um Comité de Transição e Restauração Institucional, disse que todas as fronteiras do Gabão estavam “encerradas até nova ordem”.
De acordo com a agência France-Presse, durante a transmissão televisiva ouviram-se tiros de metralhadoras automáticas em Libreville.
Horas antes, a meio da noite, às 03:30 (mesma hora em Lisboa), o Centro Eleitoral do Gabão (CGE, na sigla em francês) tinha divulgado na televisão estatal, sem qualquer anúncio prévio, os resultados oficiais das eleições presidenciais.
A comissão eleitoral anunciou que o Presidente Ali Bongo Ondimba, no poder há 14 anos, tinha conquistado um terceiro mandato nas eleições de sábado com 64,27% dos votos expressos, derrotando o principal rival, Albert Ondo Ossa, com 30,77% dos votos.
O anúncio foi feito numa altura em que o Gabão estava sob recolher obrigatório e com o acesso à Internet suspenso em todo o país, medidas impostas pelo Governo no sábado, dia das eleições.