O primeiro-ministro são-tomense alertou hoje, no seu discurso na Assembleia Geral da ONU, para as falhas na proteção do planeta e apelou por reformas das Nações Unidas e instituições financeiras internacionais “para um multilateralismo reinventado e mais solidário”.
“Perante os desafios persistentes e crescentes que permanecem, particularmente em termos de pobreza, fome, desigualdades e questões ambientais, para além dos nossos discursos, nós, os líderes das várias nações aqui representadas, devemos questionar-nos e reconhecer as nossas falhas em proteger o nosso planeta e garantir a prosperidade partilhada até 2030”, declarou.
Patrice Trovoada referiu-se ao caso de São Tomé e Príncipe, um pequeno Estado insular, “que goza de uma democracia efetiva há mais de 30 anos e que ainda está em desenvolvimento”, como “uma das principais vítimas das alterações climáticas, da degradação dos ecossistemas e da dependência económica”.
“O meu país vive uma situação de verdadeira urgência económica e financeira a curto prazo, bem conhecida dos nossos principais parceiros, ao mesmo tempo que atravessa um processo complexo de transição para a fase média de desenvolvimento e prossegue uma política adaptada à sua realidade, respeitando a diversidade multicultural e os direitos humanos”, sublinhou o chefe do Governo são-tomense.
Patrice Trovoada disse que o seu país se tem esforçado, “com algum sucesso, por adotar os códigos, as recomendações e as boas atitudes que visam a realização dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável”, pedindo que não se hesite “em apontar o dedo aos responsáveis pelas perturbações climáticas no seio do G20, ou aos órgãos de governação económica mundial”, que continuam a ignorar os objetivos sociais e ambientais, nomeadamente, negando ao país “o acesso a recursos financeiros em quantidades e condições razoáveis”.
O primeiro-ministro são-tomense alertou para a “crescente polarização e fragmentação do mundo e da governação global, com a sua crescente quota de populismo e nacionalismo”, bem como dos “golpes de Estado e as tentativas de subversão da ordem constitucional”, que são cada vez mais frequentes, associado aos conflitos de longa data, como os da Palestina e de Cuba, e os do Iémen, da Síria, do Sudão e da Líbia, que seguem o mesmo caminho.
“Os conflitos armados em violação do direito internacional, sejam eles quais forem, também recebem um tratamento diferenciado. A nossa condenação da invasão da Ucrânia pela Rússia foi clara e sem hesitações, porque respeitamos o direito internacional e a Carta das Nações Unidas. Infelizmente, os refugiados e os mortos não são iguais em direitos e em dignidade num mundo que se diz civilizado”, lamentou o líder do executivo são-tomense.
“Parece que, atualmente, só as pandemias mundiais são capazes de nos unir e de nos mobilizar”, acrescentou.
Patrice Trovoada defendeu que “a indiferença e a hipocrisia são inaceitáveis”, considerando que os “problemas de países pobres tendem a tornar-se também os problemas dos países ricos”, nomeadamente a “disparidade demográfica, disparidade económica, desregulamentação climática, perda de confiança institucional”.
No entanto, o primeiro-ministro são-tomense considerou que “existe ainda esperança de encontrar um novo impulso” através de reforma das organizações multilaterais, “a começar pelas Nações Unidas e pelas instituições de Bretton- Woods, para um multilateralismo reinventado e mais solidário”.
“Estamos convencidos de que sociedades pacíficas, equitativas e sustentáveis, com jovens instruídos e formados, com boa saúde, são do interesse geral e que, por isso, devemos usar o bom senso para evitar ruturas maiores e imprevisíveis, e ainda dispomos dos meios técnicos, financeiros e humanos para reformar o sistema político internacional”, defendeu Patrice Trovoada.
O primeiro-ministro são-tomense assegurou “o firme compromisso” do seu país “de colaborar ativamente com os seus parceiros regionais e internacionais em todas as iniciativas que visem erradicar todos os atos desumanos, degradantes para os seres vivos e o ambiente, e prejudiciais aos valores humanistas e de liberdade”.
Patrice Trovoada, apelou, ainda, ao empenho de todos para acabar com o “enorme défice em termos de autonomização e igualdade de oportunidades, nomeadamente no que diz respeito à participação das mulheres nos órgãos de decisão política”.