O presidente do MLSTP/PSD, na oposição são-tomense, criticou o “silêncio das autoridades” são-tomenses face à crise política na Guiné-Bissau, pedindo uma missão de bons ofícios da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa [CPLP] para ajudar aquele país.
Bom Jesus criticou também a posição de São Tomé e Príncipe face ao Golpe de Estado praticado pelos militares no Gabão em agosto.
“Preocupa-nos deveras a situação na Guiné-Bissau e sobretudo o efeito de contágio em relação a São Tomé e Príncipe, porque é muito fácil adotar-se estas más práticas […]. Um Governo suportado por uma parlamento com uma maioria absoluta, não vemos por que razão é que ele é dissolvido”, disse Jorge Bom Jesus em entrevista à RSTP.
Sem citar nomes, o presidente do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe-Partido Social Democrata (MLSTP-PSD) considerou que “estão a passar por cima de regras básicas democráticas”.
“Mas também nos preocupa o silêncio das nossas autoridades, sobretudo num momento em que nós presidimos a CPLP e não vemos nenhuma pro-ação da parte das nossas autoridades”, acrescentou o ex-primeiro-ministro são-tomense (2018-2022).
Jorge Bom Jesus disse esperar que “se possa reverter isso rapidamente” porque é preciso encontrar a paz, “desenvolvimento, e sobretudo que a democracia e o valor da liberdade possa vingar” em todos os países da CPLP.
“Tudo o que se puder fazer no sentido de se ajudar os guineenses a se aproximarem, a se reencontrarem acho que deve ser feito. Claro que os problemas dos guineenses são para serem resolvidos em primeira mão pelos próprios guineenses, mas os outros países e nós da comunidade temos este dever de ajudar”, sublinhou Bom Jesus.
Para isso, o líder do MLSTP/PSD defendeu que “é preciso chamar toda a gente”, nomeadamente os chefes de Estado e os ministros dos Negócios Estrangeiros da CPLP para colocar a questão da Guiné-Bissau na agenda, como “uma prioridade política” e encontrar “uma solução de bons ofícios”, sem ingerência nos assuntos internos daquele país.
Bom Jesus opôs-se à posição do primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, que defendeu que os órgãos regionais, no caso, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), devem ter a prioridade nas ações relativas à crise política na Guiné-Bissau e que a CPLP deve acompanhar a situação secundariamente.
“Eu acho que as organizações todas, seja a CEDEAO, CEEAC, CPLP, Nações Unidas […] cada uma deve atuar a seu nível e, se for o caso, de forma concomitante. O importante são os resultados. […] Isto de formalismo, de esperar a sua vez, quando nós temos o fogo a arder, não é a melhor estratégia”, defendeu Jorge Bom Jesus.
A crise política na Guiné-Bissau desencadeou-se depois de o Presidente, Sissoco Embaló, ter decretado a dissolução do parlamento, eleito em junho passado, antes do prazo constitucional para o poder fazer.
Em seguida, Sissoco Embaló demitiu o primeiro-ministro Geraldo Martins, que se recusara a formar um Governo de iniciativa presidencial, e nomeou, em substituição, Rui Duarte de Barros, episódios de uma crise que começou a ser desenhada na sequência de confrontos entre militares, nos passados dias 30 de novembro e 01 deste mês.
Sissoco Embaló classificou esses incidentes de tentativa de golpe de Estado.
O líder da oposição são-tomense também criticou a posição de São Tomé e Príncipe face ao Golpe de Estado praticado pelos militares no Gabão em agosto, defendendo que ao nível da CEEAC deve “haver um espaço de concertação político-diplomática para que de facto se possa tomar decisões em consenso para não haver vozes dissonantes”.
Jorge Bom Jesus defendeu a soberania de cada Estado, mas argumentou que países menores como São Tomé e Príncipe devem fazer o esforço de estar em sintonia “com os países maiores” antes de avançar “solitariamente” nas suas posições.
“Eu fiquei um bocado perplexo quando nós recebemos aqui em São Tomé o Presidente [de transição] do Gabão com pompa e circunstancias [e] agora eu oiço que há alguma reserva de Angola. São Tomé e Príncipe não fica muito bem na fotografia”, referiu Jorge Bom Jesus.