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CNJ acusa o Estado de cometer “crime moral” contra a juventude são-tomense durante 5 décadas

CNJ

O Conselho Nacional da Juventude (CNJ) acusou o Estado são-tomense de “cometer crime moral” contra a juventude do arquipélago, denunciando que as promessas feitas ao longo de cinco décadas transformaram-se em “frustração, desemprego, miséria, migração forçada e humilhação”.

Milhares de jovens deixaram o país – não porque não o amam, mas porque aqui não há nada a esperar. Países como França, Inglaterra, Suíça, Brasil e sobretudo Portugal, tornaram-se refúgios para os nossos melhores cérebros. Uma fuga silenciosa, mas devastadora, provocada por um Estado falido moralmente, que prefere pagar favores políticos em vez de investir na educação, na formação e no empreendedorismo jovem”, refere a organização, num comunicado enviado à RSTP.

Meio século de liberdade política, mas também meio século de promessas quebradas, de políticas vazias, de ciclos repetidos de frustração”, adianta.

De acordo com o documento, assinado pela secretária-geral, Dulcezia Botelho, o CNJ denunciou ainda a exclusão total das comemorações oficiais dos 50 anos da independência nacional, comemorado a 12 de julho, sublinhando que “a juventude não participou de nenhuma comissão, nem foi consultada na tomada de decisões”.

Recebemos apenas 40% do OGE destinado as nossas atividades, num claro sinal de desprezo institucional. Este incumprimento da parte do Governo não nos permitiu realizar o Encontro Nacional da Juventude, conforme o nosso plano de atividade”, refere o comunicado.

Para o CNJ, nenhum dos 18 governos que passaram pelo poder desde 1975 teve a “coragem, vontade ou visão de colocar a juventude no centro das políticas públicas”.

Todos nos falaram em progresso, todos nos iludiram com frases de ocasião, todos prometeram um futuro melhor. Mas a realidade que enfrentamos é outra”.

O Conselho foi mais longe: “Fomos sistematicamente usados como massa de manobra, como plateia para discursos vazios, como número em estatísticas manipuladas, mas nunca como parceiros na construção do país. Não porque somos ignorantes, mas porque confiámos em demasia. Fomos educados a respeitar os nossos líderes, mas esses mesmos líderes falharam-nos. Usaram-nos e descartaram-nos”.

Segundo o documento, o Conselho Nacional da Juventude garantiu que para os próximos 50 anos, “vai fiscalizar, denunciar e exigir” para que a mudança seja notória.

Não vamos passar mais 50 anos calados. Não vamos esperar mais 50 anos para sermos ouvidos. […] Não aceitaremos mais desculpas. Não acreditamos mais em justificações esfarrapadas. Estamos cansados de ser enganados e estamos preparadas para exigir o que nos pertence. Temos direito a educação digna, a emprego, a saúde, a participação política, à liberdade e ao respeito”, declarou a organização.

No entanto, o CNJ anunciou para breve que irá submeter ao Governo e outros órgãos da soberania a Carta Nacional da Juventude, um documento feito pelos jovens, com os “retratos de 50 anos e a visão e os almejos da juventude para os próximos 50 anos”.

O futuro de São Tomé e Príncipe, terá de ser construído com base na inclusão, na transparência, na verdade, no trabalho sério e no envolvimento real da juventude. O Horizonte 2075 não pode ser um novo ciclo de promessas. Tem de ser o marco de uma nova era. E isso só será possível com coragem para romper com os vícios do passado e ousadia para construir algo novo”, lê-se no comunicado assinado pela secretária-geral do CNJ.

Apelamos ao atual Governo e aos que virão: chega de desculpas. Sejam líderes, não gestores do fracasso. Tomem decisões com a juventude, não sobre a juventude. Dêem-nos espaço, dêem-nos meios, dêem-nos responsabilidade. Ou então, preparem-se para nos ver nas ruas, nos fóruns, nas comunicações sociais e nas urnas”, concluiu.

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