O Projeto Ergues, financiado pela cooperação portuguesa, apresentou hoje as segundas edições do dicionário da língua gestual e o manual de português para surdos em São Tomé e Príncipe, obras consideradas como “passo decisivo” para promoção da inclusão no arquipélago.
O Dicionário de Língua Gestual de São Tomé e Príncipe é bilingue, incluindo, nomeadamente, a língua gestual de São Tomé e Príncipe e a língua portuguesa. Está organizado em 21 áreas temáticas e tem uma nomenclatura de 470 gestos, acompanhados por palavras e ilustrações.
Segundo o professor e investigador da Universidade Católica Portuguesa, Paulo Vaz de Carvalho, o dicionário apresenta “muita coisa nova” em relação à versão anterior, de 2014, além de incluir um código ‘QR’, permitindo o acesso através da internet.
“É um primeiro passo, mas ainda há muita coisa por fazer, porque é uma língua emergente. O ideal é registarmos o máximo de gestos possível para que ela se pudesse estruturar e que as crianças e as famílias possam usar essa língua no seu dia a dia”, defendeu Paulo Vaz de Carvalho.
A segunda edição do Manual de Português para Surdos em São Tomé e Príncipe “é uma versão revista e aumentada face a 2019” e dirige-se a alunos do primeiro ciclo do ensino básico (do 1.º ao 4.º ano), relatando “temas da vida quotidiana dos surdos, a sua relação com a escola, a sua posição na família, as emoções e as suas relações com o mundo exterior”, lê-se na nota de imprensa distribuída pelo projeto Ergues.
O investigador Paulo Vaz de Carvalho sublinhou que o manual representa um avanço em relação a Portugal onde, segundo disse, os professores de português que trabalham com pessoas surdas ainda não têm um manual e próprio.
O embaixador de Portugal em São Tomé e Príncipe, Luís Leandro da Silva, considerou que “as duas obras representam um passo muito importante na construção de um sistema educativo mais inclusivo” no arquipélago.
“Estes instrumentos não são apenas publicações revistas e aumentadas. São ferramentas de apoio prático que asseguram o acesso ao conhecimento, a igualdade de oportunidades e o exercício de cidadania”, disse o diplomata português, sublinhando o trabalho colaborativo de várias instituições envolvidas no processo.
Luís Leandro da Silva disse ainda que o manual e o dicionário “irão permitir ao sistema educativo avançar para práticas de ensino que promovem a aprendizagem, favorecem a inclusão e contribuem para a transformação social”.
A secretária-geral do Ministério da Educação de São Tomé e Príncipe, Eurídice Medeiros, em representação da ministra da tutela, afirmou que o lançamento da obra reforça o sentido do lema do presente ano letivo “Por uma educação inclusiva, promotora da cidadania e fortalecida pela família”.
“Com estas publicações provamos que a inclusão não é apenas um ideal a perseguir. É uma ação concreta, traduzida em políticas públicas, em projetos consistentes e em resultados tangíveis que chegam às nossas escolas e às nossas crianças”, afirmou Eurídice Medeiros.
A representante da ministra da Educação de São Tomé e Príncipe reafirmou o compromisso da instituição “com a educação para todos, garantindo que nenhuma criança será deixada para trás, independentemente da sua condição social, física ou sensorial”.
“A educação inclusiva está no centro das nossas prioridades e continuará a orientar cada passo da nossa ação”, sublinhou Eurídice Medeiros, expressando “profunda gratidão” aos envolvidos no projeto, incluindo a cooperação portuguesa.
As segundas edições do Dicionário de Língua Gestual de São Tomé e Príncipe e do Manual de Português para Surdos foram produzidas no âmbito do projeto Ergues, que é financiado pela Cooperação Portuguesa através do Camões IP, e coordenado e coofinanciado pela Associação Instituto Marquês de Vale Flôr.