44 anos de independência de STP: que país queremos nos próximos 44 anos?

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Rádio Somos Todos Primos

Dalila Agostinho das Neves

No dia 12 de julho de 1975, São Tomé e Príncipe libertou-se da dominação dos portugueses – conquista que nunca deve ser colocada em causa. No entanto, torna-se necessário refletirmos sobre os desafios que ainda enfrentamos. Urge pensarmos no país que estamos a construir e que esperamos ter nos próximos 44 anos. São Tomé e Príncipe é um país maioritariamente jovem com uma taxa de crescimento populacional anual de, aproximadamente, 3% (com tendência para aumentar).

Em 2018 cerca de 62% tinha menos de 25 anos de idade.Estes milhares de jovens constituem milhares de vozes, de agentes, que apoiados com investimentos necessários em saúde, educação, emprego e participação, podem contribuir para o desenvolvimento do país.Todos temos consciência do enorme potencial que constitui a nossa juventude e é importante que tenhamos, igualmente, consciência do desafio que isto representa.

Este ano nasceram, no país, 3711 crianças – crescimento que representa, sem dúvida, um fator de pujança, mas vejamos e analisemos, superficialmente, alguns desafios enfrentados pelos nossos jovens :

A gravidez precoce. Muitas jovens e adolescentes vêem o seu futuro comprometido por causa da gravidez precoce e indesejada. Sabemos que em muitos casos, a gravidez implica o abandono escolar e a entrada precoce no mercado de trabalho. Podemos até dizer que muitos desses casos resultam da pobreza e leva a um reforço da mesma, pois a jovem enfrentará dificuldades na inserção no mercado de trabalho qualificado. A gravidez precoce constitui, igualmente, riscos de saúde para a mãe e para a criança.

A desigualdade do género. Apesar da mulher constituir cerca de 51% da população, o país ainda não efetivou, a nível nacional, nenhum programa para a promoção da igualdade e equidade de género. Temos assistido, sistematicamente, adoção de medidas pontuais para resolução de vários problemas que afetam as nossas mulheres. Necessário se torna, após o reconhecimento do papel, inquestionável, da mulher para o desenvolvimento e implementação de um programa nacional de empoderamento feminino com o intuito de combater essa segregação profissional de que as nossas mulheres são vítimas – fenómeno que se acentua com a gravidez na adolescência e o abandono escolar – e todas as formas de discriminação de que as mulheres enfrentam no nosso país.O desemprego jovem.

São Tomé e Príncipe apresentava, em 2018, uma taxa de desemprego jovem que rondava os 22,6% e muitos destes jovens acabam por encontrar alternativa como vendedores ambulantes na nossa capital. A falta de emprego significa a falta de renda que refletirá no acesso à uma alimentação de qualidade. A migração acaba por ser uma das consequências do desemprego jovem que desejam fugir da pobreza e alcançar uma vida melhor.

A criminalidade e a delinquência juvenil. Temos assistido a um aumento da criminalidade entre os jovens santomenses, onde a maioria dos que recorrem a este ato não tiveram contato com a educação, ou se preferirmos tiveram pouca educação. O país tem conhecido, também, o aumento da delinquência juvenil praticada, principalmente, pelos chamados “meninos de rua” e pelos “meninos na rua”. A delinquência juvenil constitui um dos maiores desafios no combate a criminalidade.Como diria o brasileiro Paulo Freire, “A educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo. ”A depressão e ansiedade. A juventude santomense tem sido, também, vítima dos problemas mentais – que afeta principalmente os jovens entre 17 e 25 anos. A depressão tem sido um assunto ainda não muito tratado no país, no entanto, pode ser a causa para o aumento dos problemas mentais que tem afetado a juventude santomense.

Consumo de álcool e substâncias psicotrópicas. É notório o aumento do consumo de bebidas alcoólicas e das substâncias psicotrópicas pelos nossos jovens. Encontramos, frequentemente, nos nossos quiosques grupo de jovens que se refugiam no álcool e no tabaco como forma de fugirem de vários problemas que enfrentam. Já assistimos, hoje, no país jovens que dão entrada no Hospital Central sob efeito das substâncias psicotrópicas, gerando preocupações para os pais, as autoridades e o país. É verdade que o futuro do país está nas mãos dos jovens, entretanto para que possam desempenhar o seu papel da melhor forma possível precisamos refletir sobre o investimento que temos feito nesta camada populacional.

É preciso que os jovens sejam capacitados, encorajados e formados para responderem aos desafios sociais que lhes são colocados. É, igualmente, preciso que se encontre na juventude um verdadeiro parceiro para o desenvolvimento, encarando os gastos feitos como um investimento e não como um desperdício sem retorno.

Autor: Dra. Dalila Agostinho Das Neves

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