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E se STP recusasse o desenvolvimento?

Trata-se de uma tese que parte de Axelle Kabou: “E se a África recusasse o desenvolvimento”. Enquanto docente e de família docente, quero partilhar convosco esse pensamento perturbador após uma leitura que mais parecia um soco no estômago.

 

Embora não possa abordar todos os aspectos do livro, quero deixar aqui algumas ferramentas que ao andar pela rua possam encontrar o seu respectivo eco nas pessoas e no modus operandi dos nossos irmãos santolas.

 

Primeiro, há uma ideia de que o nosso desenvolvimento depende totalmente dos países mais desenvolvidos. É como se Portugal devesse-nos algo ainda, é como se o nosso projeto enquanto nação fosse ser o melhor pedinte possível. Os primeiros voltavam com dinheiro angolano, o outro veio com dinheiro de Kadafi, um terceiro louva o dinheiro chinês e um quarto volta com empréstimos do Banco Mundial e do FMI. Um quinto mais insular ainda, recebe dinheiro da Lua. Porém, quando se busca a transparência do que foi de facto feito, é como se profanássemos um templo misterioso qualquer. Talvez seja esse o Estado Teológico que Achille Mbembe falava, onde reside o monopólio da verdade.

 

Segundo, há uma ideia de que os efeitos da pobreza sejam patrimónios culturais. Como assim? – Sentimos bem com crianças maltrapilhas brincando no barro, como se isso fosse um ritual de crescimento. Mais do que isso, tentamos normalizar o que deveria nos revoltar: loucos nus e seminus pela rua; prostituição famélica e outros contos. Apenas dizemos: isso é STP. As mulheres e os homens estão convencidos que o papel masculino é de prover apenas, não seria isso uma manifestação do primitivismo?

 

Terceiro, partimos logo da noção de que a tecnologia, a indústria, a limpeza, o planeamento sejam coisas do Ocidente. Optamos por perpetuar um falso mito do bom selvagem. Pedimos por mais equipamentos, mas não conseguimos mantê-los sequer. Em vez de consertar as estradas, queremos carros ainda maiores. O mesmo santola que suja toda a rua com seus plásticos e urina, é o mesmo que separa o lixo em orgânico e não orgânico nos países por onde anda e ainda reclama do nosso atraso.

 

Quarto, o propósito do santola parece ser a mera ostentação. O que é o sucesso para os santomenses senão carros cada vez maiores, casas e um harém onde possa se deleitar. Contudo, só o Estado pode oferecer tal vida, mas claro, não por muito tempo. Achille Mbembe dizia que a feitiçaria e outros ritos são formas que o homem africano, dada a imprevisibilidade de se manter no poder e a precária saúde pública, encontrou para lidar com esses problemas apelando ao Extraordinário.

 

Logo, o jogo do desenvolvimento depende da ideia de que queremos de facto desenvolver. Axelle Kabou levanta a hipótese: dada todas as peripécias por quais passamos, podemos ainda acreditar que de facto queremos desenvolver o país? para ela: “O africano é uma constante histórica, não vê mais longe do que a ponta da sua barriga, mesmo quando é suficientemente rico para estar em condições de correr riscos.” (Kabou, p. 118)

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