“Faz parte dos meus sonhos, quem sabe, um dia poder também abrir uma escolinha de atletismo ‘Naide Gomes’ em São Tomé e Príncipe e poder ensinar aos miúdos aquilo que aprendi ao longo da minha carreira, que não foi pouco”, disse numa entrevista à Lusa.
A ex-atleta de 35 anos despediu-se no passado dia 26 de março da carreira no atletismo, em que se destacou na disciplina de salto em comprimento.
Com 10 medalhas conquistadas em campeonatos europeus e do Mundo, Naide Gomes não resistiu aos efeitos de uma lesão no tendão de Aquiles, que a manteve afastada das pistas desde 2013.
Batizada Enezaide do Rosário da Vera Cruz Gomes, representou São Tomé e Príncipe nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, quando ainda se encontrava na fase inicial da carreira.
Em 2001, obteve a nacionalidade portuguesa, país em que vivia desde os 10 anos, e passou a representar Portugal nas pistas.
Essa representação aconteceu pela primeira vez numa grande prova internacional, em 2002, nos Europeus de pista coberta, em Viena, onde conquistou a medalha de prata no pentatlo.
“Eu só comecei no desporto cá em Portugal. Em São Tomé, naquele tempo, não se dava muita importância ao desporto, porque também não havia meios”, disse Naide Gomes.
Segundo a ex-atleta, mesmo hoje em dia “não há assim tantos meios” para o desenvolvimento do desporto, nomeadamente o atletismo, em São Tomé e Príncipe.
“Por exemplo, acho que não há nenhuma pista de atletismo. Há um campo de futebol, mas creio eu que não reúne as condições necessárias para um treino como nós temos aqui em Portugal”, sublinhou.
A ex-atleta referiu que em São Tomé, “a nível do atletismo não há grande relevo, mas há outras modalidades como o judo, o basquete e o futebol que estão a crescer”.
“Espero que o governo em São Tomé e as pessoas vejam isso, que apostem mais porque realmente o desporto é necessário para os jovens, porque dá uma bagagem enorme, faz com que os jovens tenham esperança, uma vida melhor e um futuro melhor”, acrescentou.
Agora do lado de fora das pistas, Naide Gomes tem outros projetos.
“Obviamente, estou numa fase em que terminei a carreira e estou ainda gerir isto tudo o que me aconteceu. Mas é um facto: anunciei o fim da minha carreira, há relativamente pouco tempo, porque também estou grávida e este é um grande projeto, um projeto de vida. Acho que é a minha maior competição, será a minha maior medalha”, declarou.
Num futuro mais imediato pretende trabalhar como fisioterapeuta, já que terminou o curso no ano passado, e também como treinadora no atletismo para, como diz, “passar a bagagem e tudo o que aprendeu aos jovens”.
Orgulhosa das raízes são-tomenses, Naide Gomes não esquece que a sua educação se baseou nos costumes e cultura daquele país, onde deixou muitos familiares, como a avó, tios e primos.
“Lembro-me perfeitamente da minha infância em São Tomé, na rua, pois todas as brincadeiras eram feitas ao ar livre: subir nas árvores, atravessar os rios. É por isso que gosto tanto de ar livre, como gosto deste parque (Parque da Paz, em Almada) porque faz lembrar um pouco São Tomé, o tropical, a vegetação tão verde”, sublinhou.
Sobre São Tomé e Príncipe na atualidade, Naide Gomes considera que o país já melhorou bastante, ao nível económico, político e social, comparativamente ao tempo em que lá viveu.
“Pelo que sei, através do relato de pessoas e por aquilo a que assisto através da televisão, realmente houve uma melhoria, mas ainda há muito por fazer”, reconheceu.
Naide Gomes acredita sendo São Tomé e Príncipe um “país tão pequenino (…) não era preciso muito para que aquilo funcionasse. Tenho esperança que se torne um pequeno grande país, porque somos duas ilhas pequeninas”, disse.
“É um paraíso que deve ser realmente aproveitado, a nível de turismo, e espero também fazer parte da promoção. Se quiserem que eu ajude, estou disponível para a promoção do país onde eu nasci”, acrescentou, concluindo que agora, com mais tempo, pretende visitá-lo com mais calma e lá passar mais tempo.