Sendo que, para este primeiro artigo, conto-vos a história da Regina Almeida, uma jovem guerreira, de 22 anos, que, como a maior parte dos jovens, sonha em terminar o seu ensino secundário e, quiçá, tirar um curso superior, sonho que fora interrompido quando descobriu, aos 17 anos, que estava grávida e teve que ir viver com o pai da criança.
Conta ela: “Eu vivia com a minha avó, tinha 17 anos e frequentava o nono ano. Quando contei que estava grávida, ela disse-me que eu tinha que ir viver com o pai da criança.” Com o olhar fixo no horizonte e a incerteza no futuro, que já é incerto, ela fala da sua infância e do tempo que vivia com avó, sem ter a oportunidade de ver o rosto da sua mãe durante, pelo menos, 5 anos e de não se lembrar do dia que tivesse visto o rosto do pai, e do quanto desejava que o ser que crescia dentro dela tivesse uma vida e uma infância diferente da sua.
Chorava imensas vezes por saber que teria que abandonar os estudos, por causa da situação em que se encontrava, e por ver comprometido o futuro com que sonhara, mas encontrou, em Deus e nas colegas que já foram mães, a força que necessitava para prosseguir. E assim o fez. “Algumas colegas que já eram mães vieram falar comigo, disseram-me para não ficar triste porque poderia continuar a estudar quando a criança nascesse.”
A Regina regressou aos estudos dois anos depois, mas conta-nos que durante a gravidez tentou ir às aulas, porém, pelo facto da nova morada ter ficado muito distante da escola e a mesma ter que fazer o trajeto a pé, com o avançar da gravidez teve que desistir.
Neste ano letivo 2018/ 2019 , a jovem vai frequentar o 12º ano na área de Humanidades. Diz-nos ela, confiante e determinada, que não poupará esforços a fim de conseguir terminar o seu ensino secundário, entrar para a Universidade e futuramente formar-se em Direito. “Passei para 12º ano, irei frequentar ultimo ano do curso profissional em Humanidades e o meu sonho é, depois de terminar, conseguir ter um curso superior em Direito (risos) e poder trabalhar como advogada.”
Quando questionada o porquê da escolha do curso, respondeu que fica triste com os casos de pessoas que não conseguem lutar pelos seus direitos pela falta de meios para pagar um bom advogado.
Segundo ela os desafios enfrentados têm sido cada vez maiores, pois, para além de trabalhar como empregada doméstica, faz doce de côco para enviar para Porto Alegre (morada atual da mãe) para vender e com essa crise energética torna tudo muito mais difícil.
“Eu trabalho como empregada doméstica e também faço doce de côco para a minha mãe vender em Porto Alegre, onde ela vive. Às vezes, quando não há luz, tenho que colocar despertador, para, mais ou menos, à meia-noite acordar, caso contrário a massa se estraga, mas, se não houver luz volto a dormir e não há outro jeito se não deitar fora a massa. Quando a luz vem, fico acordada normalmente, da meia noite até as 9 da manhã a fazer doce, muitas vezes chego atrasada no trabalho e quase que não consigo ter tempo para estudar.”
Depois de terminar o trabalho, engana-se quem pensa que o dia da Regina “a jovem guerreira” teria acabado! Ela tem que, no fim do dia, pegar a filha na escola, ir à casa fazer o jantar e, só depois, seguir para as suas aulas. Algumas vezes deixa a filha com o pai e outras com o irmão mais novo.
“Às vezes a menina fica com o pai, mas quando ele não pode tenho que levá-la ao meu irmão em Cova Barro. Então, tenho que sair de Madre de Deus, a pé, até Cova Barro, onde mora o meu irmão e, só, depois vou à escola, em Bombom. E quando a aula termina, às 22 horas tenho que fazer o mesmo trajeto, só que desta vez é de volta para casa.”
A jovem mãe, ainda acrescenta que, tem que andar rápido para estar inserida no grupo de alunos que, também, estudam à noite porque tem medo, principalmente nos dias que não há luz.
Sente-se grata, pelos objetivos alcançados até então, e faz questão de deixar palavras de agradecimento à sogra, que sempre está disponível para dar-lhe bons conselhos e incentivá-la a não abandonar os estudos, não se esquecendo da sua patroa pela tolerância e paciência pelas vezes que chega atrasada ao trabalho.
Para os vizinhos e amigos, a Regina, representa a fonte de inspiração e a prova de que nada é impossível se trabalharmos com foco, determinação em direção aos objetivos traçados.
Para as jovens que estudam e têm uma vida sexualmente ativa, ela aconselha a prevenir sempre, para aquelas que estão grávidas, aconselha a não perderem a fé e o ânimo, mas acreditar que esta fase vai passar e vão poder retomar as suas vidas, apesar de ser um grande desafio.
De: Dalila Agostinho das Neves