“Os pequenos tiranos que tarde escalaram o tejadilho e do alto avistam um globo minguado” (2006, p. 46)
Creio eu que São Deus Lima quando imaginou a escalada ao tejadilho (teto de veículos, como diligência, coche, liteira etc.) não imaginou que os nossos tiranos haviam subidos em tetos de seus Prados e sofreram de tal demência que o globo lhes parecessem tão minguado (pequeno), quase que bolinha de berlinde gerando confusões entre pequenas crianças.
Aparentemente, o Prado é um sinal de status social. Uns andam de carro, outros andam de Prado. Mesmo o mais ignorante em termo de viaturas facilmente reconheceria a exuberância de um Prado, não pelo Prado em si, mas pela arrogância que acompanha os seus condutores. É a primeira coisa que exigem quando são alavancados para os novos “tachos”.
O mais curioso é que é o Estado quem mais investe na compra de tais viaturas, patrocinam frotas cuja manutenção é um soco no estômago do cofre de Estado. Pois bem, “se diversos são os meios de aos reinados chegar, quase sempre semelhante é a maneira de reinar” (La Boetie, 1576). Os nossos compatriotas não respeitam um soberano que não surja em fatos finos e Prados luxuosos como prova última da supremacia intelectual.
A questão é: porque eles compram os Prados com o dinheiro público? R: – Porque funciona e mantém a governabilidade. Porque o povo não entende que está lesando o tesouro nacional? R: – Porque o povo não consegue distinguir bens públicos de coisa privada. Quem vende esses Prados e sobre que condições de concurso público? R: – mistério da fé! Por fim, qual é o destino dos Prados? R: – (sem resposta)… estão ao menos no inventário?? (não sabemos).
Por fim, uma velha coleção de “Forma-te e forma o teu camarada” onde carrega o discurso do ex Secretário-geral Manuel Pinto da Costa profetizava-se ali a sina dos santolas:
“Muitos dos nossos compatriotas ainda não compreenderam que a verdadeira independência só se consegue com o esforço e sacrifício de todo um povo. Se Resolvermos trabalhar mais e mais sem consentir sacrifícios, arriscamo-nos a cair outra vez na dominação estrangeira, embora esta vista outra capa.” (12/08/1975, p. 37)
Com efeito: “o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, […]” (João 1:14). Ou seja, completou-se a profecia do nosso ex- Presidente em quadros sombrios, a sua “glória” é visível.
Com um pouco mais de sarcasmo afirmo: é difícil mudar esse padrão, os Prados têm dado super-poderes aos nossos pequenos burgueses, há quem voe , há quem ganhe super-velocidade, há até que ganhe super-força… na calada da noite são como crianças no colo do Pai (Estado) do qual já não sabem mais como viver sem!