Ana Paula Racaj é a primeira médica santomense que tem utilizado as redes sociais de forma recorrente e inovadora para falar e esclarecer dúvidas sobre várias questões na área de saúde, particularmente sobre a saúde sexual, onde “os temas são considerados tabus”.
A jovem médica formada em clinica geral em Cuba, voltou para São Tomé e Príncipe onde esteve pouco mais de um ano a trabalhar nos serviços pediátricos do Hospital Central Dr. Ayres de Menezes, em São Tomé, mas está agora em Espanhã onde se prepara para fazer a sua especialidade.
Saúde sem Tabu é o mais recente projeto criado pela jovem médica. O projeto foi lançado a menos de duas semanas e pretende abordar alguns temas considerados “tabus” pela sociedade Santomense. “Nós mulheres temos ainda muito tabus com o nosso corpo, com nós mesmas, com a sociedade […] Nós não podemos falar de certos temas porque ainda continuam a ser um tabu” . Ana Paula deixou claro que “Saúde sem Tabú” não se trata de aulas de medicina, mas sim um espaço de dicas, esclarecimentos e intereção sem “tabú” com Homens e Mulheres.
Neste momento o projeto “Saúde sem Tabu” está no facebook e no instagram. “É uma página sem julgamentos, é uma página aberta, , é uma página que vamos falar de tudo um pouco” explicou a jovem médica advertindo que ” se calhar as pessoas vão se assustar um bocadinho porque a nossa sociedade santomense ainda está um bocadinho fechada quanto a certos temas, mas eu vim para quebrar isso“.
Ana Paula reconhece que a “internet é um problema em São Tomé” e que isso será uma limitação para que a mensagem chegue ao seu principal público-alvo que é a sociedade santomense. Embora a televisão não seja o seu foco imediato, a jovem médica disse que “se por ventura aparecer [um convite da Televisão Santomense] seria muito bom porque já conseguiria abranger uma parte do público santomense que não têm internet“. “Se eles [Ministério da Saúde ou TVS] fizerem uma proposta, para fazer vídeos para televisão eu não tenho problemas com isso“.
Falando sobre a saúde em São Tomé e Príncipe Ana Paula Racaj considerou que “o sistema de saúde [santomense] por não ser prioritário do nosso Governo acaba por ser muito debilitado“. Exemplo disso, segundo Ana Paula é a não aposta do Governo na formação de médicos especialistas santomenses. “Eles [o Governo] investem para contratar especialistas de outro país […] mas eles não investem nos próprios médicos santomenses para poderem ser especialistas e darem o melhor para São Tomé“.
Ana Paula garante que há vontade por parte dos médicos santomenses para fazerem especialidades, mas como o Governo não apoia esta especialização muitos acabam por abandonar o país. “Eu conheci médicas que estavam atrás de especialidades […] os de 30, 40 anos queriam sim e a vontade era imensa, mas não havia forma então acabavam por irem-se embora e não voltavam para São Tomé por falta de oportunidade.“
“Eu não vou esperar sete anos para depois para fazer especialidade” afirmou a jovem médica que deixou o trabalho na pediatria do Hospital Ayres de Menezes e pelos seus próprios está agora em Madrid aonde prepara-se para iniciar a especialidade em pediatria ou em ginecologia. Ana Paula Racaj disse que o país precisa de “especialidades básicas”. “Precisamos de pediatra, precisamos de médico interno, precisamos de ginecologistas, precisamos de pessoas que trabalham com o raio x, com ecografia e o Governo em si deveria investir, mas não há“.
Da experiência de trabalho que teve no Hospital Central, a jovem médica considerou que “falta união verdadeira de todo profissional de saúde em prol de uma causa, em prol do paciente.”
Veja a entrevista completa e saiba o que a jovem médica Ana Paula Racaj disse sobre o relacionamento entre os técnicos da saúde e paciente; a venda de medicamentos na rua e os contributos dos recém formados para melhoria do Sistema de Saúde Santomense.