A RSTP divulga o conteúdo da carta dos estudantes santomenses enviada ao Governo de São Tomé e Príncipe há 1 mês, mas que não foi respondida até ao momento. Estes estudantes encontram-se de quarentena nas suas respectivas universidades reclamando informações e contactos das autoridades de São Tomé e Príncipe.
O Governo abordou a situação dos estudantes em duas sessões de Conselho de Ministros, anunciou apoio financeiro para os estudantes da cidade Wuhan, mas à RSTP os referidos estudantes afirmaram que “nunca receberam qualquer apoio adicional do Estado santomense.”
Carta dos Estudantes Santomenses na China
Ao Exmo. Senhor Primeiro-ministro e Chefe do Governo,
Dr. Jorge Bom Jesus
ASSUNTO: PEDIDO DE REPATRIAMENTO
Excelência; É de conhecimento ao nível internacional a situação da epidemia (Coronavírus), que assola a China neste momento, propagando-se pelo mundo afora, sendo a província de Hubei onde nos encontramos, o epicentro deste vírus e por isso a mais afectada, facto que, certamente, vós sabeis e toda a população do nosso país tem acompanhado atentamente;
Considerando o quadro evolutivo, o perigo de contaminação e o estado psicológico em que nos encontramos, nós estudantes São-tomenses residentes na Cidade de Wuhan, província de Hubei na China, vimos pela presente requerer o nosso REPATRIAMENTO pelos seguintes motivos:
1 – A propagação do Coronavírus tem sido muito acelerada, especialmente nesta Cidade, todos os dias o número de novos casos registados varia entre 1500 a 3000 e tal, sem contar os números de casos suspeitos e de mortos;
2- A Cidade está isolada sob quarentena por um tempo indeterminado e o início das aulas fora adiado nos mesmos moldes;
3- As Universidades como forma de prevenção e para garantir a nossa segurança, proibiu a saída e entrada dos estudantes, porém não temos mantimentos em casa para o sustento até o fim desta novela, apesar de haver algumas universidades que abriram as cantinas escolares para facilitar a alimentação dos estudantes, contudo nem todas têm tido este procedimento, entretanto, o medo de contaminação impede que os estudantes saiam de quarto para irem à cantina, até porque já se registam casos de estudantes estrangeiros contaminados, dos quais alguns são do prédio e universidades em que estão alguns colegas são-tomenses;
4- Os supermercados e mercados próximos às universidades, a maioria estão fechados, aqueles que estão abertos os produtos estão escassos e o preço é um balúrdio, o que não sabemos até quando conseguiremos suportar, e, sem falar que não podemos sair para fazer compras;
5- As máscaras acabaram nas lojas/supermercados, não obstante possa haver uma ou outra loja/supermercado em que haja máscaras, que além de estarem bem distantes das universidades, vendem-na a preço de ouro! Sem referir que a máscara na verdade, não nos garante a segurança, sendo apenas uma medida preventiva básica, se considerarmos o médico que apesar da vestimenta médica e todos os meios de protecção que usava, ainda assim foi contaminado pelo coronavírus;
6- A vida aqui tem sido um horror ao som da ambulância que circulam transportando os doentes sem parar, as redes de informações sobre o índice de aumento e disseminação da epidemia, as ondas de notícias de que vários países têm repatriado os seus cidadãos, o medo de ser o próximo a ser contaminado, a insónia causada pelo excesso de preocupação, o tédio de vivermos confinados entre 4 paredes sem dias previstos para sair, a agonia pela falta de comunicação da vossa parte e a incerteza de tudo a nossa volta, particularmente de quando tudo isso irá acabar! Estamos vivendo com Deus na boca, porque o risco de contaminação a que nós estamos expostos é muito grande, por isso o facto de não estarmos contaminados, não implica dizer que estamos bem e muito menos dizer que estamos seguros!
Excelência; Do que fica exposto, acreditamos que não resta dúvidas de que o nosso REPATRIAMENTO REQUER URGÊNCIA! Por acaso, estareis esperando até que alguém seja contaminado para dizer que estamos mal e agilizarem? Esperais a situação não ter mais alternativas para vir lamentar? Muitos nos apelam pela calma e paciência…Até quando? Apenas nós sabemos o que sofremos por aqui!
Senhor Primeiro-ministro, nós estamos cientes das condições económicas e financeiras em que o nosso país atravessa, todavia somos filhos de S. Tomé e Príncipe e a nossa vida não tem preço, é dever do Estado nos proteger, não somos culpados do que está ocorrendo e, por isso, vimos implorar a vossa clemência para junto aos parceiros internacionais de cooperação, providenciarem o mais rápido possível para que o nosso repatriamento se concretize!
Estamos dispostos a ficar em quarentena ainda que seja por 1 mês, para garantir a segurança sanitária da população, mas no nosso país e fora desta Cidade onde até o ar que respiramos nos apavora e cada passo constitui um perigo eminente!
Aguardamos a vossa resposta com esperança de que seja positiva.
Com os melhores cumprimentos.
Com cópia ao: Presidente da República; Presidente da Assembleia Nacional; Embaixadora de S. Tomé e Príncipe acreditada na Rep. Pop. da China
Wuhan – China, aos 04 de Fevereiro de 2020
Os Signatários;
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