O “dito pelo não dito”- Agostinho Fernandes explica a sua renúncia e responde Patrice Trovoada

“O único crime que eu cometi no ADI foi ter me apresentado como candidato à um congresso eletivo marcado pelo partido num contexto de vazio de liderança e num contexto que não havia nenhum outro candidato”

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Rádio Somos Todos Primos

Eleito Presidente do Partido ADI no congresso realizado no dia 25 de maio de 2018, Agostinho Fernandes renunciou à liderança do partido no dia 03 de junho de 2020, colocando fim à uma presidência sempre contestada e não reconhecida por uma grande parte dos militantes do ADI, inclusive o seu principal líder, Patrice Trovoada que também foi eleito Presidente do Partido no mesmo ano que Agostinho Fernandes, em Setembro de 2018.

Na Grande Entrevista da RSTP Agostinho Fernandes reafirmou que “o meu propósito sempre foi e continua a ser o propósito de promover a união dentro do ADI”. Agostinho Fernandes diz que a sua direção eleita no congresso de março se manteve fiel, mas “infelizmente algumas pessoas contestaram o congresso” pondo em causa o objetivo da sua direção.

Desde então, acentuou-se a crise no partido ADI levando a divisão do partido que levou a realização de outro congresso em Setembro e eleição de outro Presidente, Patrice Trovoada. “Esse outro congresso fez com que existissem, aos olhos dos militantes, duas lideranças”.

Com duas lideranças o maior partido político de São Tomé e Príncipe, vencedora das eleições legislativas de 2018 ficou sem ação. “Os militantes do ADI, depois do segundo congresso, pediram encarecidamente que a nível da direção do partido se chegasse a um consenso para sair desta situação” disse Agostinho Fernandes. Para responder a esse pedido dos militantes e para que “os interesses superiores do ADI fossem salvaguardados” Agostinho Fernandes diz que a sua direção.”

Agostinho Fernandes

“Eu tinha duas possibilidades”

Durante a sua liderança, Agostinho Fernandes disse que tinha duas possibilidades. “Uma era uma perspectiva de imposição, outra era uma perpetiva de busca de consensoseu preferi uma perspetiva de busca de solução, de busca de consenso.”

“O Dito pelo não Dito”

“Depois do congresso de setembro [que elegeu uma segunda direção do ADI] o Dr. Orlando da Mata [vice-presidente da direção do ADI liderada por Patrice Trovoada] aproximou-se de mim para iniciarmos esse trabalho de solução pacífica” revelou Agostinho Fernandes dando conta que as duas partes criam comissões, de um lado Ekneide Santos e Álvaro Santiago, por parte da direção de Agostinho Fernandes e do outro lado, Orlando da Mata, Elísio Teixeira e Alexandre Guadalupe por parte de Patrice Trovoada. “É com essas pessoas que nós tivemos a discutir e a negociar ao longo desses meses tendo chegado a um consenso que seria portanto a realização de um novo congresso eletivo do ADI, em março deste ano [2020]

Segundo Agostinho Fernandes “apresentamos a solução de consenso à comissão política do ADI que a validou.” Agostinho Fernandes revelou que recentemente recebeu uma carta dos elementos que representaram a direção de Patrice Trovaoda “em que basicamente viam dar, de certa forma, o dito pelo não dito” ou seja “viam pedir uma solução quando já tínhamos chegado a uma solução”. Agostinho Fernandes diz que para salvaguardar os interesses do ADI a sua direção decidiu desistir de lutar pela liderança do ADI. “Nós entendemos que a renuncia abriria a porta à solução.”

Patrice Trovoada

“ADI neste momento não tem Presidente”

Agostinho Fernandes lembra que o seu nome foi anotado no Tribunal Constitucional como presidente do ADI e só um novo congresso poderá eleger um novo presidente.

“Há uma direção cujo anotação está feita no tribunal constitucional e é essa direção que tem competência para dirigir o partido até o próximo congresso”, explicou Agostinho Fernandes.

Recados para Patrice Trovoadas

Sobre a liderança a distancia de Patrice Trovoada, Agostinho Fernandes considerou que “a partir do momento em que o Dr. Patrice Trovoada entende que ele não tem condições para estar em São Tomé e Príncipe, eu acho que não há razões para ele continuar a liderar o ADI, porque um líder tem que estar perto dos seus militantes.”

Agostinho Fernandes que foi de 2012 a 2014, Ministro de Plano e Desenvolvimento do XIV Governo liderado por Patrice Trovoada está desde 2018 em rivalidade com Patrice Trovoada. “O único crime que eu cometi no ADI foi ter me apresentado como candidato à um congresso eletivo marcado pelo partido num contexto de vazio de liderança e num contexto que não havia nenhum outro candidato” esclareceu Agostinho Fernandes.

“Infelizmente, até hoje, não é possível haver nenhuma candidatura alternativa no ADI…por isso é que eu anunciei publicamente que eu não sou, não serei candidato à nenhum próximo congresso do ADI e eu acredito que também haverá nenhum outro candidato” [porque Patrice Trovoada não deixa] disse Agostinho Fernandes que descartou qualquer possibilidade de vir a fazer de uma lista liderada por Patrice Trovoada.

“Esse Rapaz”

Agostinho Fernandes respondeu explicou quem é “esse rapaz” conforme foi tradado por Patrice Trovoada. “Isso não me ofende” disse Agostinho Fernandes que considerou que “é um tratamento desrespeitoso e injurioso” e lembrou que “esse rapaz entrou para o ADI em 2010…foi esse rapaz à que incumbida a missão de elaborar o programa eleitoral do ADI em 2010; foi esse rapaz que foi dado o mandato para representar o ADI em todos os debates pré-eleitorais[2010]; foi à esse rapaz que em 2010, depois da vitória eleitoral, foi atribuída a pasta ministerial de Plano e Desenvolvimento..; foi este rapaz que, em 2012 no âmbito das perseguições politicas feitas quer ao Dr. Patrice Trovoada quer a outros dirigentes do ADI, recebeu do Dr. Patrice Trovoada uma procuração para representá-lo no Ministério Público…”

“No ADI todos os militantes, todos os dirigentes já devem ter percebido que, provavelmente, não passam de meros botões e que provavelmente ninguém faz falta”, ressaltou Agostinho Fernandes garantindo que “a minha renuncia não significa abandono do partido. Eu continuo militante e, até agora, dirigente do ADI.”

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