Contou com duas Psicólogas negras de renome no mercado, Shenia Karlsson fundadora do Papo Preta, e Gisela Van Dunem fundadora do Fénix Bootcamp; Dr. Amílcar Santos, Psiquiatra, Dra. Paula Mouta Médica Epigenética, e a Cantora Jossyln.
Gisela falou sobre a origem e as possíveis causas para termos saúde mental desequilibrada; a Dra. Paula Mouta, Presidente da AESEP e do Observatório da Saúde dos Povos, fez uma pequena abordagem sobre a origem da linhagem e da ancestralidade para origem de algumas doenças; o Dr. Amilcar Santos, Psiquiatra e Terapeuta, único homem do painel falou-nos sobre o seu trabalho enquanto psiquiatra e dos desafios diários que esta profissão acarreta.
Durante a conversa, verificamos que não existe nenhum relatório ou estudos sobre doenças mentais dentro da comunidade negra, e que a mesma tem uma visão muito negativa sobre esta patologia e alguma certa desconfiança em relação aos profissionais da área. Tivemos também o testemunho da cantora Josslyn, que falou-nos sobre a situação que passou recentemente quando viu um vídeo seu íntimo exposto na internet. Falou-nos dos ataques que sofreu por causa do incidente, das acusações que lhe fizeram e da tristeza que sentiu por ver que a maior intolerância parte das mulheres, que a acusaram e a agrediram gratuitamente.
A cantora frisou que a falta de união entre as mulheres é uma das grandes consequências do patriarcado, e com isto vem a rivalidade tanto no meio artístico como no dia-a-dia. Terminamos a nossa conversa com a fala da Psicóloga Shenia Karlsson que falou-nos sobre o racismo estrutural e institucional e a forma como este afeta os pacientes desta patologia. Falou também da intolerância de alguns profissionais da área e alguma incompreensão por parte dos mesmos.
Falou sobre a discriminação que as mulheres negras sentem quando procuram ajuda especializada e como isso faz com que deixem de procurar ajuda. Uma das conclusões que tiramos do evento é a visão que o mundo/sociedade tem em relação às mulheres negras; na visão da sociedade, a mulher negra tudo suporta, tudo aguenta. A sociedade olha para as mulheres negras como a mais resiliente, a mais guerreira, a mais batalhadora e por isso a incompreensão quando ela pede socorro. O evento terminou com um momento muito especial, a atuação das cantoras Shiva e Khira que interpretaram a nova música do Chá de Beleza Afro, “Rainha”, uma música que fala sobre a “Saúde mental das mulheres negras”.
A música faz-nos reflectir sobre os reflexos da nossa sociedade para moldar as mulheres, das frustrações que a sociedade impõe às mulheres desde muito pequenas, da importância da diversidade, seja ela dos corpos, das mentes, ou dos pensamentos. Outro momento marcante foi a interpretação da cantora Khira da música “Africano”, onde dedicou a música às cantoras Jossyln e Shiva, uma forma de as incentivar e enaltecer. Tivemos vários testemunhos reais, entre eles o testemunho da cantora Khira que contou-nos um pouco sobre a sua trajetória, a forma como se encontrou e transformou-se na mulher que é hoje; tivemos igualmente o testemunho da Cátia Ramos que falou como o desporto ajudou-a a superar a depressão.
Houve tantos outros testemunhos, que se pudéssemos passávamos a noite a conversar. Com isso, ficamos com a certeza de que precisamos de mais espaços como estes, espaços de partilhas, sem julgamentos, com profissionais da área e com pessoas dispostas a ouvir. E iremos fazer mais e melhor, sempre a pensar na mulher africana. Desde cedo, nós mulheres negras aprendemos com as mais velhas a cuidar dos outros. Essa é uma transmissão de sabedoria ancestral que passa de geração em geração, esta é uma narrativa que temos desconstruir de forma a termos uma boa saúde mental. “Ser negra não deveria significar viver em sofrimento psíquico.”