Lixeira de Penha: Uma ameaça à saúde pública e às mudanças climáticas

Há cerca de 3 km da cidade de São Tomé, há uma comunidade que vive fustigada pelo mau cheiro e a fumaça resultante da queima descontrolada de lixos a céu aberto na Lixeira de Penha.

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Rádio Somos Todos Primos

A Lixeira de Penha continua a ser uma ameaça séria à saúde pública ao mesmo tempo que contribui para os fenómenos das mudanças climáticas em São Tomé e Príncipe.

Há muitos anos que a Lixeira de Penha, localizada a cerca de 3 km da cidade de São Tomé, tornou-se num reservatório de lixo a céu aberto, numa mistura entre a fumaça das queimas descontroladas de lixo, a comunidade residente e as crianças e pessoas vulneráveis que frequentam o lugar.

“Há momento que aqui todo fica cheio de crianças” conta Jonhson que há 8 anos trabalha como fiscal da Lixeira de Penha. Ele diz que muitas queimas “são ações feitas pelas crianças que passam ali a maior parte do dia a procura de garrafas, latas e outros resíduos para vender”, por isso reclama a falta de murro de vedação e controlo da entrada de viaturas que deixam os resíduos no local.

 “Esse fumo estava a abranger a cidade toda”, recorda Natalino da Silva, para quem a Lixeira de Penha é lugar para passar “momento de lazer”, muitas vezes sem qualquer proteção respiratória contra o fumo e o mau cheiro habitual neste local, como constatou a reportagem da RSTP.

“Eu fico aqui! As vezes eu vejo meus amigos a correrem a apanhar garrafas, apanhar isso, apanhar aquilo, mas eu nem sempre vou junto a eles, porque eu sei que não é isso que devia ser”, explica reclamando que “devia haver uma boa organização [da Lixeira de Penha], para que nós aqui tivéssemos uma outra forma de estar”.

Lixeira de Penha 2021

Além do risco para a saúde pública, a lixeira de penha constitui um problema para o ambiente. Há um rio perto da Lixeira “que também está sendo prejudicado” pelos lixos.

“Esse rio vem de Madalena, desce todo lado de Penha e vai até São Pedro. Desde aqui de Penha até São Pedro, há pessoas que, desde 5 até as 17 horas, ficam a lavar sua roupa e essa água está sendo prejudicada”, explica Natalino Silva.

Silva defende que “tem que ter alguém de direito para mudar isso” e explica que a situação fica pior nos dias de chuva.

 “Nos dias de chuva, mesmo transporte para despejar lixo, não sabem como despejar e têm que por na via pública, onde toda a individualidade que passa vê”, revelou.

A Lixeira de Penha foi um dos exemplos que um grupo de jornalistas foi conhecer “in loco” no quadro de uma formação sobre as mudanças climáticas promovida pela Direção Geral do Ambiente.

O investigador e professor na Universidade de São Tomé e Príncipe, Felisberto Viegas, acompanhou a visita dos jornalistas e defendeu que “todos esses lixos deveriam ter uma nova vida”.

“Devia existir uma concertação entre o poder local e o poder político nacional [Governo] para encontrar outra forma de reutilização destes lixos”, defendeu.

Na Lixeira de Penha, encontra-se todo o tipo de resíduos. Há pouco mais de um ano houve denúncias, entretanto refutadas pelo Governo, de que também os lixos hospitalares, sobretudo de covid-19, foram queimados no local.

Entretanto, Natalino Silva diz que a situação na lixeira está descontrolada. “Vem aqui até nado morto e que nem se sabe quem deitou”, enfatiza.  

Há oito anos que frequenta a Lixeira de Penha, perto da capela de Nossa Senhora de Penha. Natalino Silva recorda que já ouviu muitas promessas de primeiros-ministros e presidentes de câmaras que anunciaram soluções para a Lixeira de Penha, por isso não acredita mais nos projetos anunciados.  

Isso não vai sair de onde está. Este fenómeno que estou vendo [na Lixeira de Penha] não vai altera-se”, afirma, referindo que “todos os Governos que entram nesse país para quatro anos dizem isso: Temos projetos, que vai haver reciclagem…mas não fazem nada”.

A direção Geral do Ambiente através do projeto “Cumprindo a Promessa Climática em São Tomé e Príncipe” prometeu envolver os jornalistas e fazedores de comunicação para fomentar a mudança de comportamento dos cidadãos face as mudanças climáticas.

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