O primeiro-ministro, Jorge Bom Jesus, pediu hoje que a justiça faça o seu trabalho no julgamento de pessoas acusadas pelo desvio de medicamentos que tem causado ruturas constantes no Sistema Nacional de Saúde.
“Vamos continuar a exigir e pedir que cada um faça o seu trabalho e que, de facto, (…) a justiça possa pegar em mãos alguns casos e podermos mudar um bocado de paradigma e expressar muito mais a autoridade de Estado no seu todo”, disse Bom Jesus, numa conferência de imprensa de balanço dos três anos do XVII Governo, que hoje se assinala.
O primeiro-ministro frisou que “esse problema [de rutura de medicamentos] sempre existiu” e destacou que todos os anos o Governo coloca no Orçamento Geral do Estado a “verba de 2 milhões de dólares” para garantir a aquisição de medicamentos e consumíveis.
Jorge Bom Jesus disse que “o Governo tem feito investimento, sem contar com os donativos” que recebe, tendo destacado que este ano a empresa fornecedora “tinha a incumbência de enviar para São Tomé cerca de 20 contentores” de medicamentos, e os dois últimos contentores terão chegado ao país nos últimos dias.
“Precisamos de continuar a melhorar a gestão do ‘stock’, a informatização e, sobretudo, a justiça tem que funcionar quando detetamos os prevaricadores”, precisou o chefe do Governo, acrescentando que “a Polícia Judiciária tem feito o seu trabalho”.
A rotura de medicamentos e consumíveis foi um dos motivos de uma ameaça de greve dos sindicatos do setor da saúde no mês passado.
No balanço dos três anos de governação, Jorge Bom Jesus realçou o impacto da pandemia de covid-19, referindo que antes “nenhum outro Governo funcionou com o travão da crise pandémica”.
O chefe do Governo enalteceu o “grande cordão de generosidade internacional” que permitiu “atingir a estabilidade do quadro epidemiológico” da covid-19 que neste momento tem um acumulado de 3.732 casos e 56 óbitos desde o início da pandemia.
“Esse Governo tem sido madrugador em termos de tomada de decisões […], mas, como toda gente sabe, as nossas instituições todas são ainda muito frágeis e temos que contar sobretudo com uma postura cívica do cidadão, de responsabilidade”, referiu Bom Jesus, em relação ao desrespeito das medidas de restrição declaradas pelo executivo.
O primeiro-ministro afirmou que “não é simplesmente uma questão de autoridade do Estado”, e considerou que há “muitos políticos que pensam ganhar votos tentando desacreditar o Governo, tirando proveito do obscurantismo de muita gente”.
O governante referiu-se também ao projeto de modernização do Hospital Ayres de Menezes, com os 17 milhões de dólares do fundo kuwaitiano, a requalificação do antigo hospital de Monte Café e definiu como meta para o último ano do seu mandato a instalação de um centro de hemodiálise no país.
“Vamos tudo fazer para deixar pelo menos esse legado de hemodiálise. Temos muitos conterrâneos nossos desterrados em Portugal”, disse o chefe do Governo, prometendo também “acarinhar propostas do setor privado”.
“Não podemos fazer tudo com o investimento público, até porque as ajudas em termos de desenvolvimento não têm sido muito fáceis de angariar, nós já temos uma dívida muito pesada, os nossos créditos têm que ser muito concessionais (…) por isso mesmo que o apelo ao investimento direto estrangeiro tem que ser constante”, salientou.
Jorge Bom Jesus tomou posse em 03 de dezembro de 2018 como primeiro-ministro e chefe do XVII Governo Constitucional de São Tomé e Príncipe, substituindo no cargo Patrice Trovoada, que chefiou o governo de maioria absoluta da Ação Democrática Independente, entre 2014-2018.
A ADI venceu as eleições legislativas de outubro de 2018, com 25 dos 55 assentos no parlamento são-tomense, mas não conseguiu formar executivo, tendo então o MLSTP (23 eleitos) e a coligação PCD/UDD/MDFM (cinco deputados) feito um acordo com incidência governativa, formando a chamada ‘nova maioria’ que suporta o Governo de Bom Jesus.