O primeiro-ministro, Jorge Bom Jesus, defendeu hoje que é preciso “erguer pontes políticas” para combater a pobreza no país e refutou as declarações do Presidente da República de que “a pandemia serviu de desculpa para tudo” no ano passado.
“Nós continuamos debaixo deste fogo cruzado da pandemia de covid-19 há sensivelmente quase dois anos. Não é uma desculpa. É um desafio. É uma realidade objetiva que ninguém pode escamotear”, afirmou Jorge Bom Jesus durante a celebração do dia do Rei Amador, considerado herói nacional enquanto protagonista de uma revolta de escravos realizada em 1595.
Na sua mensagem do fim do ano, o Presidente da República, Carlos Vila Nova, considerou que “o país está literalmente parado” e “a pandemia serviu de desculpa para tudo”, incluindo para os “erros e negligências,” bem como para os “humores e caprichos, que se traduziram em inexplicáveis desperdícios”.
Na sua intervenção de hoje, o primeiro-ministro afirmou que a pandemia de covid-19 “não é coisa para fazer política”, e apelou à colaboração de todos para ultrapassar os desafios causados pelas enxurradas que abalaram o país no fim do ano, decorrentes “daquilo que são os imponderáveis da natureza”, mas também “consequência de alguma incúria humana”.
Jorge Bom Jesus realçou que as consequências estão à vista, nomeadamente as “pontes partidas, estradas destruídas, vidas destroçadas”, principalmente nos distritos de Lembá, Água Grande e Mé-Zóchi.
“Mas se hoje há pontes físicas partidas que teremos que reconstruir muito rapidamente, temos que erguer pontes políticas, temos que juntar. Não podemos erguer muros e todos os atores políticos são chamados a essa responsabilidade, esse desígnio nacional, de nos juntarmos e quebrarmos paradigmas, porque, de facto, cada um separadamente nunca conseguirá resolver os problemas ingentes de São Tomé e Príncipe,” apelou o chefe do Governo.
Jorge Bom Jesus reafirmou que a pobreza é o primeiro adversário de São Tomé e Príncipe e considerou que só com a união de todos se poderá combater esse flagelo.
“Essa pobreza que é estrutural, que já vem de há muito tempo e que temos sido impotentes separadamente para a combater. A pobreza que é inimiga do desenvolvimento”, acrescentou.
“O meu apelo, a semelhança de muitos outros, é no sentido de nos darmos as mãos para nos juntarmos, porque juntos somos mais fortes e que o Rei Amador e outros mártires do passado que iluminem o nosso caminho porque o sacrifício que eles consentiram permitiu que hoje nós estivéssemos livres a lutar pelo desenvolvimento, por um país melhor, pelo bem-estar”, apelou o primeiro-ministro.
Na mensagem do fim do ano dirigida à Nação, o Presidente de São Tomé e Príncipe disse que o país tem de entrar em 2022 com um “querer genuíno e determinação sem limite” para expulsar definitivamente “a miséria e a mediocridade” em que vive hoje.
O chefe do Estado defendeu que “é preciso reformar a justiça e reformar o Estado”, considerando que não há “a mínima dúvida que o país está enclausurado numa teia de corrupção, que de banal e camuflada passou a ser aberta, direta e institucional com proporções nunca dantes vistas, minando a estrutura do Estado”.
“O ano que acaba hoje foi profundamente marcado por tudo isso, sem que tenhamos registo de um ato sério vigoroso, decisivo de combate à corrupção”, acrescentou, na mensagem de 31 de dezembro.
Para Carlos Vila Nova, o ano de 2021, à semelhança do que já tinha sido o anterior, “foi muito duro para os são-tomenses”, com destaque para “as tempestades destes últimos dias, particularmente as do dia 28 do mês de dezembro, com todo o seu cortejo de danos e destruições”, que no seu entender vieram chamar à atenção para um aspeto da vida coletiva do país “muito maltratado”.