ORMED expõe “falhas graves” do Sistema Nacional de Saúde e lamenta atitude do ministro

A Ordem dos Médicos (ORMED) admite que as declarações do ministro da Saúde, Edgar Neves, “tendem simplesmente a esconder a incapacidade de apresentar solução ao problema”.

País -
Celso Matos

A Ordem dos Médicos de São Tomé e Príncipe solidarizou-se com as exigências dos sindicatos de saúde “para obtenção de melhores condições de trabalho” e lamentou as reações do ministro da Saúde que escondem uma “incapacidade de apresentar solução ao problema”.

“Lamentamos que as declarações tenham chegado a um ponto que comprometa a busca de soluções num período em que o país e o mundo enfrentam uma tremenda crise provocada pela pandemia da covid-19. Nos distanciamos das responsabilidades e das consequências do caminho desfavorável que possa surgir”, lê-se no comunicado da Ordem dos Médicos (ORMED), datado de quinta-feira, 20 de janeiro.

Há uma semana, o ministro da Saúde, Edgar Neves, em reação a revindicação dos sindicatos dos profissionais de saúde sobre a falta de medicamentos no país, admitiu que os medicamentos têm sido desviados nos hospitais e fez acusações contra os profissionais de saúde.

“Temos que colocar o dedo na ferida: Há incompetência e as vezes negligência, e o pior ainda o casamento das duas coisas”, disse o ministro, referindo que é preciso “avaliar o ato médico”.

A ORMED  refere que “não irá encobrir atos de incompetência ou negligência” que admite “que possa ocorrer com alguns dos seus associados”, mas “não aceita que de forma pública seja conotada de forma generalizada que o que reina nos hospitais é a incompetência” dos “corajosos médicos”.

 “A Ordem tem pautado por intervenções construtivas dando a sua contribuição para a mudança de modelos de gestão e comportamento no Serviço Nacional de Saúde (SNS), ficando limitado muitas vezes a apresentação de ideias e propostas porque obviamente não tem a responsabilidade executora na maioria das ações que decorrem nos diferentes centros de saúde e que estão sujeitas as normas da função pública”, refere o comunicado assinado pelo Bastonário da Ordem dos Médicos, Celso Matos.

Segundo a ORMED, “há situações e falhas graves” no SNS são-tomense “que se perpetuaram e se tornaram doenças crónicas com os quais, os profissionais de saúde deste país têm vindo a conviver até que chegaram a um ponto de saturação”.

“Dizer que ‘as vezes faltam medicamentos’, como se tudo estivesse bem na saúde, é de uma atitude negativista irritante. Insinuar que a reivindicação por melhores condições de trabalho se esconde por trás da incompetência e da negligência é um insulto absurdo a vários profissionais que se desgastam em momentos de angústia e impotência nos carentes e desatualizados centros de saúde do país”, acusa a ordem.

A ORMED admite que as declarações do ministro da Saúde “tendem simplesmente a esconder a incapacidade de apresentar solução ao problema”, por isso se predispõe a “colocar a mão na ferida” denunciando uma série de carências do Sistema Nacional de Saúde de São Tomé e Príncipe.

“Quando um cirurgião em pleno ato cirúrgico fica com o salão as escuras durante 30 minutos de quem é a incompetência? Quando cada 20 ou 30 dias os médicos ficam sem imagens de “raio X” de quem é a incompetência? Quando os médicos solicitam análises de laboratório e o resultado que recebem é “não há reagente”, de quem é a incompetência? Quando os médicos em 46 anos de independência ainda estão privados do estudo da anatomia patológica, de quem é a incompetência? “Quando urgências ficam semanas ou até 30 dias sem um diurético intravenoso e pacientes falecem, de quem é a incompetência?”, questiona o ORMED.

Segundo a ORMED , falta quase tudo no Sistema Nacional de Saúde, nomeadamente “fios de sutura no maior hospital do país por quase 3 meses […], materiais cirúrgicos nas salas de operações[…], consumíveis para garantir a adequada higiene dos serviços […], “água no único hospital do país […], meio de diagnóstico simples como a cultura de exsudados”.

“Quando médicos não especialistas numa matéria e clínicos gerais têm que assumir patologias que não dominam na profundidade por falta de especialistas, de quem é a incompetência? Quando um especialista tem que assumir urgência, consulta externa, doentes na enfermaria tudo no mesmo dia, durante 24 horas e dias sucessivos porque é único da sua especialidade, de quem é a incompetência?”, questionam, numa longa lista de carências que acresce o “grave problema de esterilização de materiais cirúrgicos no hospital”, e a medicação de “doentes consoante o que existe na farmácia e não consoante a real necessidade do paciente”.

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