Presidente da Assembleia de Cabo Verde em São Tomé e Príncipe para reforço da cooperação

Os presidentes dos parlamentos de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe expressaram, na capital são-tomense, a intenção de reforçar a cooperação entre as duas instituições, importante para “ultrapassar as vulnerabilidades” dos dois países.

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Delfim Neves

“As relações de amizade entre os nossos dois países são muito antigas, com raízes na formação dos nossos dois povos e culturas, estendendo-se pelo período da luta pela independência dos dois Estados e perpassando toda a nossa história de nações independentes”, sublinhou o presidente da Assembleia Nacional cabo-verdiana, Austelino Correia, que chefia uma delegação parlamentar que realiza uma visita oficial de quatro dias a São Tomé para o reforço da cooperação e diplomacia parlamentar entre os dois países.

A delegação, composta pelos membros de todos os partidos com assento na Assembleia Nacional de Cabo Verde, incluindo os deputados eleitos pelo círculo eleitoral da África, foi recebida na sexta-feira, 22 de junho, pelo presidente da Assembleia Nacional de São Tomé e Príncipe, Delfim Neves, e homenageada numa sessão solene de boas-vindas no parlamento são-tomense.

O presidente do parlamento cabo-verdiano afirmou que esta sua primeira visita oficial a São Tomé e Príncipe “marcará positivamente as relações e a cooperação” entre os parlamentos dos dois países, trazendo “novas perspetivas”, e defendeu prioridade na materialização do protocolo e programa de cooperação parlamentar, assinados no início desde ano, na cidade da Praia, que considerou de “espinha dorsal” desta cooperação.

“Paulatina e persistentemente, juntos debelaremos as nossas dificuldades e encontraremos espaço para continuar a viabilizar os nossos Estados e ajudar a sociedade a vencer os obstáculos e seguir em frente. O trabalho é duro e o caminho é longo”, sublinhou.

Referindo-se à situação política e económica mundial, o presidente do parlamento de Cabo Verde disse que “o mundo passa por tempos difíceis, resultantes das diversas crises que estão a acontecer em simultâneo”, desde a crise climática à guerra na Ucrânia, que decorre “de forma absolutamente injustificada à luz do direito internacional” e “com contornos de brutalidade, duração, âmbito e consequências ainda indefinidos”.

“Apesar da pequenez dos nossos dois Estados, das muitas fragilidades que evidenciamos, a resiliência dos nossos povos tem sido grande, potenciada por uma assinalável capacidade de luta e adaptação. A nossa história está cheia de exemplos de resistências e combates: pela liberdade, pela afirmação de identidade, pela independência nacional, pelo desenvolvimento económico”, sublinhou.

Austelino Correia disse que os dois países foram “relativamente bem-sucedidos e com resultados que evidenciam evolução permanente”, mas “a caminhada continua e os esforços de cooperação e a luta pelo desenvolvimento também”.

“É justamente na complementaridade que podemos encontrar as melhores formas de ultrapassar as vulnerabilidades, é nas nossas cultura e história comuns que encontraremos exemplos de solidariedade e superação, e é na convivência que aprenderemos, um com o outro, os mecanismos e as formas de aproveitar as oportunidades que a evolução mundial nos apresenta”, defendeu Austelino Correia.

Por sua vez, o presidente do parlamento são-tomense, Delfim Neves, sublinhou que a visita da delegação cabo-verdiana é uma “oportunidade para dar continuidade aos trabalhos inicialmente desenvolvidos no âmbito da diplomacia parlamentar”, visando o reforço das “relações bilaterais, na perspetiva de as ampliar e conferir o maior dinamismo”.

“Na arena das organizações internacionais, os nossos países assumem múltiplas responsabilidades que implicam a adoção de uma dinâmica conjunta que possa produzir o reforço do intercâmbio entre as nossas duas instituições”, sublinhou Delfim Neves.

O presidente do parlamento são-tomense referiu que a visita do seu homólogo cabo-verdiano “coincide com um momento muito especial para São Tomé e Príncipe que se traduz na pré-campanha que culminará com as eleições legislativas, autárquicas e regional, previstas para 25 de setembro”.

“Estas eleições ganham muito mais notoriedade no cenário político-eleitoral, em particular na diáspora são-tomense, dado que, pela primeira vez, é concedida aos seus membros a possibilidade de poderem eleger e serem eleitos a nível das eleições legislativas”, acrescentou Delfim Neves.

Por outro lado, o presidente do parlamento são-tomense também se referiu à “guerra na Ucrânia que, para além de perdas de vidas humana e de graves prejuízos económicos a nível mundial, se vem refletindo nos altos preços de determinados produtos alimentares básicos e dos combustíveis, com maior reflexo nos países insulares” como São Tomé e Príncipe e Cabo Verde, “tornando insuportável o custo de vida para a grande maioria das populações”.

“Este conflito, associado aos problemas que têm sido causados pelas alterações climáticas e pela pandemia da covid-19, impõe-nos que encontremos soluções suscetíveis de abrir caminho para a nossa independência económica e financeira, na base do diálogo permanente e inclusivo entre todos os atores políticos, com a participação da sociedade civil, na elaboração de um plano de desenvolvimento económico e social que se configure com as necessidades prementes dos nossos países”, defendeu o presidente do parlamento são-tomense.

Neste capítulo, Delfim Neves destacou “o esforço que o Governo de São Tomé e Príncipe vem empenhando” no seu programa e “uma dinâmica na restruturação política e económica” para “garantir a atração de investimentos estrangeiros, inclusive nas atividades francas e offshore, capazes de trazer vantagens mútuas, quer para o país como para os investidores”.

O presidente do parlamento são-tomense convidou “os empresários cabo-verdianos a explorarem as oportunidades de negócio em São Tomé e Príncipe” e disse esperar que os dois países “continuem a caminhar, solidários e fraternos, pela via da cooperação, da confraternização, do desenvolvimento e do progresso”.

Integram a delegação cabo-verdiana representantes do Movimento para a Democracia (MPD), do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID), e pelos dois deputados eleitos pelo círculo eleitoral da África.

Após a sessão solene, que ficou marcada com discursos dos três grupos parlamentares da Assembleia Nacional são-tomense, nomeadamente a coligação PCD-MDFM-UDD, o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social Democrata (MLSTP/PSD) e a Ação Democrática Independente (ADI), a delegação cabo-verdiana teve audiências separadas com o Presidente são-tomense, Carlos Vila Nova, e com o primeiro-ministro, Jorge Bom Jesus.

O programa de visita que termina no domingo, inclui ainda uma visita à Embaixada de Cabo Verde, encontros com os presidentes das câmaras de Mé-Zóchi e Lobata, visitas às roças Favorita e Santa Cecília, ao Museu de Café, à Fábrica de Água Bom Sucesso e ao Jardim Botânico.

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