O Banco Central de São Tomé e Príncipe (BCSTP) prevê o abrandamento da economia do país e inflação de dois dígitos até ao final do ano, disse o governador da instituição, na sexta-feira, 26 de agosto, no seu discurso por ocasião dos 30 anos de institucionalização deste Banco.
“Ousamos dizer que desde a institucionalização do BCSTP até à presente data, a conjuntura internacional nunca esteve tão desfavorável e tão adversa aos propósitos da economia são-tomense como se tem mostrado nos últimos três anos”, referiu Américo Barros.
“Estima-se que a taxa do crescimento económico volte a abrandar e situar-se em 1,4 % em 2022 e que o risco de uma inflação alta a dois dígitos seja uma realidade inevitável até ao final do ano”, sublinhou o governador do BCSTP, durante uma cerimónia com o Presidente da República, Carlos Vila Nova.
Relativamente às reservas externas, Américo Barros sublinhou que “voltaram a acentuar-se as dificuldades de entrada de recursos financeiros em moedas estrangeiras, após uma posição favorável observada em 2020, o que tem colocado pressão sobre as reservas internacionais líquidas (RIL), cujo nível mantém-se preocupante”.
Em relação aos outros indicadores económicos, o governador do banco central afirmou que “espera-se uma expansão moderada da massa monetária no presente exercício, uma estagnação do crédito à economia e o agravamento do défice das contas correntes”.
“Em suma, o impacto negativo da pandemia de covid-19 e da guerra na Ucrânia na economia nacional, incide com maior acuidade na instabilidade de preços, na fraca entrada de recursos financeiros externos, na redução dos níveis das RIL e no aumento de inflação”, sintetizou Américo Barros.
No entanto, segundo o responsável, o BCSTP tem adotado um conjunto de medidas para mitigar esta situação, tendo recentemente decidido “aumentar a taxa de juros de referência, aumentar a taxa de facilidade permanente de liquidez, aumentar o coeficiente das reservas mínimas de caixa, e proceder à emissão dos certificados de depósitos, visando enxugar a liquidez excedentária no sistema”.
“Nos últimos três anos, o banco central atuou de forma serena, segura, mas firme, com foco e objetividade para mitigar as vulnerabilidades e assegurar o bom funcionamento do sistema financeiro nacional, apesar de todos os constrangimentos registados. Estamos a trabalhar para termos um sistema financeiro mais sólido possível”, afirmou Barros.
Na sua mensagem, o Presidente da República considerou o banco central como “um dos pilares mais importantes na construção do processo de desenvolvimento” do país, afirmando ter a “convicção que com maior ou menor dificuldade”, a instituição tem ao longo de 30 anos, “desempenhado o seu papel no processo de desenvolvimento da nação são-tomense”.
Carlos Vila Nova sublinhou também a “importância e o impacto que têm o setor privado” no desenvolvimento da economia do país, enfatizando que é preciso “não perder de vista que o principal motor de desenvolvimento deve vir do esforço do setor privado”.
O chefe de Estado considerou ainda que a pandemia de covid-19, a guerra na Ucrânia, o “agravamento das alterações climáticas”, associadas aos “elevados preços dos combustíveis nos mercados internacionais” e a “apreciação do dólar face ao euro” têm “colocado pressão para a cobertura cambial” das importações, “com consequências diretas nos aumentos de preços dos principais produtos alimentares, sobretudo os que fazem parte da cesta básica das famílias são-tomenses”.
“É hoje uma realidade o aumento exponencial do custo de vida para a família são-tomense”, afirmou Vila Nova.
A comemoração dos 30 anos do Banco Central de São Tomé e Príncipe contou com a presença do primeiro-ministro, Jorge Bom Jesus, representantes dos outros órgãos de soberania, quadros da instituição e representantes de instituições internacionais, nomeadamente o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.