O novo primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada, pediu hoje “concentração máxima” ao seu futuro Governo e aos agentes públicos para resolver vários problemas, da economia à saúde, e prometeu “um pacote de reformas difíceis, mas absolutamente indispensáveis” para desbloquear a economia e travar a “decadência” que poderá levar o país “irremediavelmente a um suicídio coletivo”.
“Quanto ao XVIII Governo Constitucional, o tempo é de concentração máxima de todos os seus membros e os agentes do Estado na implementação das soluções que permitirão restabelecer níveis aceitáveis de reservas cambiais, pagar os salários de uma função pública pletórica, cuidar de aquilo que apenas por analogia se apelida de sistema nacional de saúde”, afirmou hoje Patrice Trovoada, após prestar juramento como chefe do próximo executivo são-tomense, perante o Presidente da República, Carlos Vila Nova e outros altos representantes do Estado, bem como membros da comunidade internacional.
“Melhorar a educação e a formação profissional, recuperar as infraestruturas, tornar cada vez mais efetivo o acesso à justiça, proteger melhor as pessoas e os bens, reforçar os sistema de defesa nacional e aumentar a advocacia juntos dos nossos parceiros atuais e potenciais para que, na pior das hipóteses, mantenham o seu nível contribuição à ajuda pública internacional, particularmente face à agudização da crise prevista para o ano que se avizinha” foram outros objetivos traçados por Patrice Trovoada, que assume pela quarta vez o cargo de primeiro-ministro, depois de 2008, 2010-2012 e 2014-2018.
Este caminho “não é uma opção, é uma obrigação”, salientou, num discurso em que traçou um quadro negro da situação do país, altamente dependente de ajudas externas.
“Temos que trabalhar muito para quebrar este ciclo em que a ganância de uns e o amadorismo de outros colocaram o país”, referiu.
“Não temos hoje outro caminho que o do fim da impunidade, o fim da anarquia, do combate aberto e sem tréguas contra a corrupção cancerígena, adotando a seriedade, o realismo e o trabalho metódico para travar essa decadência que nos levará irremediavelmente a um suicídio coletivo”, acrescentou.
Patrice Trovoada considerou que as autoridades do país foram “excelentes em todos os projetos de apoio financeiro direto ao governo”, porque são “excelentes em gastar sem jamais pagar, sem contribuir e incapazes de agir no sentido de geração de riqueza”.
“Em contrapartida, falhámos olimpicamente no cumprimento de todas as metas acordadas com as instituições de Bretton Woods, porque não somos disciplinados financeiramente, nem estamos dispostos a consentir esforços”, sublinhou.
“Temos de acordar desta longa letargia e adotar, corajosamente e sem demora, as medidas corretivas que se impõem a nós, abdicando dos privilégios, não raras vezes sem uma justificação lógica, e dar um pouco mais ao Estado para que ele possa redistribuir mais e melhor.
O líder do próximo executivo são-tomense advertiu: “Só e apenas com este espírito, de dedicação e sentido de solidariedade, seremos capazes de fazer renascer o país, a esperança coletiva e construir para os nossos filhos o que os nossos pais sonharam para nós próprios”.
Patrice Trovoada lamentou “a postura, os gestos, as decisões, os discursos de última hora, bem como as festas com dinheiro público destes últimos dias”, o que disse mostrar “que alguns não querem perceber a dimensão da catástrofe”, mas prometeu não “perder tempo com os responsáveis pela atual situação do país”,
“Continuaremos ainda durante um largo tempo a colher os frutos amargos de tudo aquilo que semeámos […] não precisamos de grandes institutos de sondagem, nem tão pouco de reputados ‘bureaux’ de investigação para conhecermos os mais responsáveis, os prevaricadores e os mais corruptos. O fruto podre cairá necessariamente. É a lei da natureza”, afirmou Patrice Trovoada.
O novo primeiro-ministro disse que vai utilizar a “maioria parlamentar clara e absoluta” obtida pelo seu partido nas eleições legislativas de 25 de setembro para “a materialização de um pacote de reformas difíceis, mas absolutamente indispensáveis para desbloquear uma economia que há muito parou de produzir, perdeu a conexão com a rede e não consegue gerar recursos para sequer suportar as despesas correntes do Estado” tornando-se dependente “cada vez mais da generosidade da comunidade internacional”.
Para Patrice Trovoada, a maioria dos são-tomenses, residentes no país e na diáspora e os parceiros de desenvolvimento perceberam que os dirigentes do país trabalharam “pouco e mal” nos últimos anos e que “a corrupção fez uma investida sem precedentes em todos os setores da administração pública”, defendendo por isso “uma mudança radical de comportamento e de adoção de atitudes que impulsionem o desenvolvimento humano, a resolução dos problemas básicos da população” e o posicionamento do país “na estrada da modernidade, do progresso e da sustentabilidade”.
O novo chefe do executivo são-tomense disse que tem “fé e esperança no futuro” do país e reafirmou-se “pronto, disponível para uma entrega total” ao serviço da Nação.
“Sou o primeiro-ministro e chefe do Governo para servir todos os são-tomenses de dentro como de fora, bem como todos os que escolheram as nossas ilhas para viverem. Por conseguinte, investido do mandato que me foi conferido, não dispensarei nenhum só minuto se não for para agir, reformar, ouvir, construir e corrigir”, afirmou Patrice Trovoada.
“Não hesitarei em decidir quando for necessário decidir e sancionar para resgatar, salvar e defender os bens públicos e os direitos das pessoas. O tempo e os níveis de degradação alcançados pelo país assim o exigem. Agirei sempre no interesse geral e para que se possa dentro de um período razoável de tempo ultrapassar o estado de deliquescência atual em que o país se encontra”, acrescentou.
Patrice Trovoada disse que vai submeter ainda hoje ao Presidente da República, Carlos Vila Nova, a proposta de nomes para compor o XVIII Governo, que será empossado na segunda-feira.