Oposição e familiares de mortos do ataque ao quartel manifestam por “justiça e liberdade” em STP

Somos poucos, mas os que estão aqui representam São Tomé e Príncipe naquilo que tem de genuíno, de patriota e de liberdade”, Jorge Bom Jesus.

País -
Rádio Somos Todos Primos

Cerca de duas centenas de dirigentes e militantes de sete partidos da oposição são-tomense, e familiares das quatro vítimas mortais do ataque ao quartel militar, manifestaram-se hoje em São Tomé e pediram justiça e a garantia da liberdade no país.

“Esta manifestação transborda o quadro político, é uma expressão de cidadania cívica e política, por isso é um grito, é um SOS que nós lançamos”, disse o ex-primeiro-ministro e presidente do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP/PSD), Jorge Bom Jesus, na linha da frente da manifestação.

No final do protesto de cerca de uma hora foi entregue uma petição ao Presidente da República, Carlos Vila Nova, segundo o líder do MLSTP/PSD para garantir “que a democracia continue a reinar e que o vento da liberdade continue a soprar e ninguém, nem nada, poderá por em causa esses valores” em São Tomé e Príncipe.

“Ninguém está acima da lei, portanto, a justiça tem que funcionar com toda a sua independência, com toda a sua imparcialidade e as instituições democráticas têm que funcionar, as famílias dessas vítimas inocentes precisam de conhecer a verdade”, defendeu Jorge Bom Jesus, que empunhava um cartaz onde se lia “liberdade sim, massacre não”.

Outros cartazes empunhados pelos manifestantes perdiam “democracia sim, ditadura não”, “queremos justiça” ou exigia a demissão do vice-chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, que foi uma das primeiras pessoas a anunciar a morte dos civis, em 25 de novembro.

“Ninguém pagou a ninguém para estar aqui. Somos poucos, mas os que estão aqui representam São Tomé e Príncipe naquilo que tem de genuíno, de patriota e de liberdade […] e estamos a pedir ao primeiro magistrado que esteja muito atento e que exerça de facto a sua [função] de primeiro magistrado da Nação e garante do bom funcionamento das instituições e das leis”, afirmou Bom Jesus.

O coordenador do movimento Basta, Salvador Ramos, que também se juntou ao protesto, sublinhou que o Presidente da República deverá “tudo fazer para que se possa chegar à verdade, para que se apure as responsabilidades e se sancione todos aqueles que foram envolvidos nesse massacre de 25 de novembro”.

O dirigente assegurou que os partidos da oposição não estão contra as Forças Armadas de São Tomé e Príncipe, que consideram como “uma instituição nobre e de paz”, mas sim contra os elementos envolvidos nos atos de 25 de novembro.

“Nós não confundimos a instituição Forças Armadas com algumas pessoas que foram envolvidas no massacre e na tortura do dia 25 […] não estamos contra as nossas Forças Armadas”, precisou Salvador Ramos.

Os familiares dos civis mortos no quartel das Forças Armadas também participaram na manifestação pacífica e exigiram justiça.

“Foram buscar o meu marido em casa para depois de três ou quatro horas ele estar morto. Não existe isso, não é justiça, São Tomé tem que ter justiça, ele deixou filho, deixou família que nem veio assistir ao funeral porque enterraram ele como um cão”, lamentou a mulher de Arlécio Costa.

Graça Costa entregou uma mensagem dos familiares e dos partidos políticos ao Presidente da República.  

“Senhor Presidente como pai da Nação ele tem o dever que a justiça seja feita, a justiça vai estar na mão dele, ele tem que fazer justiça, isso é que nós queremos”, disse Graça Costa, enquanto entregava a carta aos assessores de Carlos Vila Nova, à porta do Palácio Presidencial.

A mãe de um dos jovens mortos no quartel reclamou “justiça” para o seu filho Isac, que “foram matar de graça”, pois ele e os outros “não fizeram nada” e “não assaltaram” o quartel.

“Isso não é golpe de Estado, não é nada. (…) Eu é que perdi o meu filho, então o que eu quero é justiça, ou que esse Presidente saia do lugar ou que esse primeiro-ministro saia do lugar”, comentou.

Horas antes da manifestação, os representantes dos sete partidos reuniram-se com o Presidente são-tomense, Carlos Vila Nova, para dar conta da “indignação relativamente aquilo que se passou no dia 25 de novembro”.

Seis militares são-tomenses foram colocados em prisão preventiva por suspeita de tortura e homicídio, sob custódia militar, de quatro homens alegadamente envolvidos no assalto ao quartel-general das Forças Armadas, em 25 de novembro, disse à Lusa fonte judicial.

Segundo a fonte, os militares foram presentes na segunda-feira para primeiro interrogatório no Tribunal de Primeira Instância, e as medidas de coação foram deliberadas hoje.

Os homens são suspeitos da prática de tortura e homicídio de três assaltantes e de Arlécio Costa, um ex-combatente do ‘batalhão Búfalo’, que foi alegadamente identificado como mandante do ataque e que foi detido posteriormente pelos militares e levado para o quartel.

Os quatro detidos foram sujeitos a maus-tratos, já depois de o ataque ao quartel ter sido dado como “neutralizado”, tendo circulado vídeos e fotografias nas redes sociais que mostravam os homens com marcas de agressão e com as mãos amarradas atrás das costas.

Segundo o Ministério Público são-tomense, até à passada quinta-feira, tinham sido detidas 17 pessoas, das quais nove ficaram em prisão preventiva.

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