O novo presidente do Sindicato dos Jornalistas São-tomenses (SJS) criticou hoje a “forma como o poder se relaciona com a comunicação social” do país, e defendeu o fim de nomeações políticas dos diretores dos órgãos públicos de imprensa são-tomense que “aparecem apenas para servir” as orientações do governo.
“A forma como o poder se relaciona com a comunicação social é grave. Não cria um ambiente para a melhoria dos serviços. Este ou aquele partido depois de ganhar as eleições indica os diretores, não passam pelo concurso público, então esses diretores aparecem apenas para servir muitas vezes essas orientações”, disse Jorge do Ó em entrevista à RSTP.
“Há necessidade de nesse aspeto de começarmos a pensar que o concurso público para a nomeação de diretores deve existir na comunicação social”, defendeu o novo presidente do Sindicato dos Jornalistas São-tomenses (SJS) eleito por aclamação na lista única apresentada ao VI congresso da classe, realizado no sábado.
O técnico sénior da Televisão São-tomense (TVS) substituiu Iyolanda Graça que abandonou o cargo ao fim de dez meses para assumir as funções de assessora da ministra da Justiça, Administração Pública e Direitos Humanos, Ilza Amado Vaz.
O novo presidente do SJS prometeu “uma política de continuidade”, sob a máxima “uma só classe uma só Nação”.
“Aquilo que for bom da antiga direção devemos aproveitar, desde mais aproximação entre os profissionais, criação de um bom ambiente e condições de trabalho, e na resolução de algumas questões que temos pendentes junto da entidade patronal [Governo]”, sublinhou.
Entre as prioridades para os próximos três anos de mandato, Jorge do Ó quer “a melhoria dos serviços da comunicação social” que afirma estarem a ser “publicamente atacados”.
“Os ataques veem da sociedade de que não estamos a apresentar com alguma qualidade não só técnica, não só com a verdade dos jornalistas no tratamento da matéria […] é público isso, não é nada escamoteado, as pessoas sabem que é verdade”, admitiu.
O líder sindical quer retomar as conversações com o novo Governo são-tomense para melhorar o salário dos profissionais da comunicação social, que considera serem “baixíssimos”, apesar do aumento conseguido com o Governo anterior, liderado por Jorge Bom Jesus.
“Os profissionais da comunicação social são-tomense não têm qualidade de vida porque têm um salário baixíssimo, então há que melhorar. Nós conhecemos o país que nós temos, mas nós acreditamos que há formas ou há possibilidade para melhorar, portanto a questão salarial é uma questão a melhorar”, afirmou Jorge do Ó.
Segundo o sindicalista, a “pobreza” e a “desmoralização” têm condicionado a participação dos jornalistas em muitas atividades promovidas pelo SJS.
Por este motivo, Jorge do Ó rejeita também os argumentos sobre a falta da união entre os jornalistas são-tomense.
“De todas as lutas que nós tivemos, em que muitas delas eu participei diretamente na negociação, ganhámos alguma coisa, então se ganhamos alguma coisa, teve sucesso, então quer dizer que há união”, enfatizou.
Além de Jorge do Ó que ocupa a função de presidente do SJS, integram ainda a nova direção do referido sindicato, o vice-presidente, Cristiano Costa, tesoureiro, Edmilson Numbe, secretária, Fernanda Costa Alegre e a vogal Melba Ceita.
O presidente do SJS admitiu que tem ouvido comentários de que os jornalistas se sentem intimidados pelo atual Governo, liderado pelo primeiro-ministro Patrice Trovoada, mas considera que “é muito cedo” para afirmar que o Governo com cerca de quatro meses “faça intimidar” os jornalistas, admitindo, no entanto, que “quem diz as suas coisas tem as suas razões”.
“Enquanto líder do sindicato, eu não posso dizer que há uma cultura de medo […] de momento eu não posso de maneira nenhuma dizer que este Governo esteja em termos práticos para com os jornalistas na tentativa de uma cultura de medo. É questão de tempo, se vier a acontecer a gente vem ao público para dizer”, disse Jorge do Ó.
Entre os projetos que pretende implementar, destacou uma parceria com a Ordem dos Advogados são-tomense para “uma proteção para os jornalistas” porque os mesmos “não têm condições para pagar um advogado” e ainda a criação de “um movimento para que haja uma rede” ao nível dos sindicatos dos jornalistas dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).