O primeiro-ministro são-tomense rejeitou hoje a presença no parlamento para debater os acontecimentos de 25 de novembro que resultaram na morte de quatro pessoas no quartel militar, mas prometeu discutir o assunto após as investigações para “não perturbar o trabalho da justiça”.
“Quando a justiça acabar o seu trabalho iremos discutir, debater, mas de momento não vou perturbar o trabalho da justiça, não vou me imiscuir num outro órgão de soberania, numa questão tão sensível, tão grave. Vamos aguardar”, disse à RSTP Patrice Trovoada, à margem de um encontro com um grupo de mototáxis sobre o aumento do preço de combustível previsto para fevereiro.
No início do mês, o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social Democrata (MLSTP/PSD, oposição) apresentou uma moção de censura ao Governo, exigindo a presença do primeiro-ministro no parlamento para debater “na sua amplitude” o ataque ao quartel, mas o pedido foi rejeitado pela presidente da Assembleia Nacional, Celmira Sacramento, que é também vice-presidente da Ação Democrática Independente (ADI) presidida por Patrice Trovoada.
Antes o grupo parlamentar da ADI também rejeitou um pedido de debate de urgência apresentado pelo MLSTP/PSD, alegando que o debate perturbaria as investigações em curso na justiça.
Questionado sobre a recusa do debate no parlamento, Patrice Trovoada, disse que está “tranquilo” e não vai “entrar neste jogo dos comentários” às acusações da oposição.
“Eu não me recuso a nada. Agora eu não faço coisas que eu considero que não são corretas. Quando temos o sacrossanto segredo de justiça eu não vou debater uma questão que está na justiça”, afirmou Patrice Trovoada.
O primeiro-ministro considerou que “o MLSTP tem falado muito e algumas coisas que tem dito não são muito abonatórias para o próprio MLSTP” e para a democracia do país.
“O nosso país precisa de toda a concentração dos seus dirigentes, dos funcionários, dos trabalhadores para sair do buraco em que o MLSTP nos pôs e é isso que me preocupa. De resto quando a justiça vier nos dizer o que se passou, quem, como, quando, porquê, iremos ao debate, mas de momento deixamos a justiça trabalhar”, acrescentou Patrice Trovoada.
Na madrugada de 25 de novembro, quatro homens atacaram o quartel das Forças Armadas, na capital são-tomense, num assalto que se prolongou por quase seis horas, com intensas trocas de tiros e explosões, e em que fizeram refém o oficial de dia, que ficou ferido com gravidade devido a agressões, segundo relatos das autoridades.
Três dos quatro atacantes detidos pelos militares, e Arlécio Costa, um antigo combatente do batalhão Búfalo da África do Sul, morreram horas depois e imagens dos homens com marcas de agressão, ensanguentados e com as mãos amarradas atrás das costas, ainda com vida e também já na morgue, foram amplamente divulgadas nas redes sociais.
No início de janeiro o procurador-geral da república são-tomense disse que decorrem “em muito bom ritmo” as investigações ao ataque ao quartel militar e destacou a “ajuda fundamental” de Portugal no processo.
Kelve Nobre de Carvalho realçou que, de acordo com a lei são-tomense, o Ministério Público (MP) tem três meses para concluir as investigações, mas poderão ser concluídas antes desse prazo.
Numa nota divulgada em dezembro, o MP anunciou que tinham sido detidas 17 pessoas, das quais nove ficaram em prisão preventiva, no âmbito das investigações ao ataque ao quartel militar.
Por outro lado, seis militares são-tomenses foram colocados em prisão preventiva por suspeita de tortura e homicídio, sob custódia militar, de quatro homens alegadamente envolvidos no assalto ao quartel-general, disse à Lusa fonte judicial.