O Governo são-tomense subiu para 2.500 dobras o valor da pensão de reforma atribuída aos sobreviventes do “massacre de Batepá”, ocorrido a 03 de fevereiro de 1953, e garantiu serviços de saúde gratuitos aos mesmos, anunciou hoje o primeiro-ministro, Patrice Trovoada.
“Se nós consideramos que passaram 70 anos, e estamos há 47 anos em independência, podíamos ter feito mais e melhor”, admitiu Patrice Trovoada, no final de mais um ato comemorativo do 03 de fevereiro, em que se recorda os acontecimentos de 1953 em que centenas de são-tomenses foram mortos e torturados pelo regime colonial português.
Atualmente apenas nove sobreviventes do ‘massacre de Batepá’ estão vivos. Segundo fonte do Ministério da Saúde, Trabalho e dos Assuntos Sociais, o valor das pensões atribuídas aos sobreviventes variava entre 600 e 1.000 dobras mensais, sendo que havia quem não recebesse qualquer valor.
“Vamos ver se conseguimos continuadamente aumentar o nível das pensões, mas eles têm outro problema da habitação, às vezes de alimentação. […] Eles merecem muito mais, mas sobretudo o nosso carinho”, disse o primeiro-ministro.
Apesar de admitir que as medidas adotadas pelo Governo “não são suficientes”, Patrice Trovoada acrescentou que também foi atribuído a cada sobrevivente “um cartão de saúde que vai permitir o acesso gratuito a todos os serviços” de saúde, e tendo em conta que estes serviços “às vezes têm falhas”, o Governo pondera “estender à evacuação sanitária fora do país”.
Por outro lado, o primeiro-ministro sublinhou que o Governo quer apostar na “memória transcrita”, na recolha de mais testemunhos audiovisual e fotográfico, para “contribuir para que a memória fique mais viva” sobre os acontecimento de 1953.
“A memória de um povo é importante, mas também eu acho que 70 anos depois, o perdão é importante, a reconciliação é importante, sobretudo porque, como viram, restam poucas testemunhas físicas”, acrescentou Patrice Trovoada.
Por outro lado, o chefe do executivo são-tomense sublinhou que “o futuro é promissor, é um futuro de reconciliação, de paz, de perdão, de entendimento”, incluindo com Portugal, que tinha São Tomé e Príncipe como colónia na altura do massacre de Batepá.
“Celebrar o facto de, com Portugal estarmos reconciliados. Somos amigos, somos irmãos, somos solidários e estamos numa outra época”, sublinhou.
O ato central do 03 de fevereiro decorreu em Fernão Dias, no distrito de Lobata (norte da ilha de São Tomé), e foi presidido pelo chefe de Estado são-tomense, Carlos Vila Nova.
“O sangue que eles derramaram trouxe-nos a liberdade. Hoje vivemos em democracia, também não podemos dizer que embora não tenha sido aquele ato premeditado de luta para a independência, constituiu uma referência de revolta, de luta, de manifestação contra os colonizadores”, referiu Carlos Vila Nova.
O Presidente são-tomense considera que é preciso “fazer jus ao que aconteceu [em 1953] e valorizar”.
“Eu penso que o 03 de fevereiro é uma cerimónia nobre, são heróis, mártires, que perderam a vida com muito esforço, com muito sacrifício, em circunstâncias muito estranhas e muito violentas, e cabe-nos agora fazer um percurso de paz, viver em democracia para que possamos também de alguma maneira louvar esses são-tomenses que de alguma maneira deram a sua vida por nós”, defendeu.
O ato central das comemorações do dia 03 de fevereiro, foi precedido de uma marcha da Praça da Independência, no centro da capital, até Fernão Dias, no distrito de Lobata, contando com a participação de milhares de pessoas, maioritariamente jovens, e alguns membros do governo, nomeadamente a ministra da Juventude, Desporto, Eurídice Medeiros, e a ministra dos Direitos da Mulher, Maria Delgado.