O nosso país é detentor de uma diversidade biológica única, tendo a flora e fauna uma proporção importante de espécies de animais e plantas que não são encontradas em nenhuma outra parte do mundo, ou seja, endémicas das ilhas de São Tomé e Príncipe.
Essa riqueza que nos é dada de forma indiscriminada a todos, homens e mulheres – fornece-nos alimentos, medicamentos, entretenimento, e muito mais. No entanto, nem todos têm oportunidade de participar, de forma equitativa, no processo de preservação da mesma.
É evidente o que surge como reflexão das sessões de trabalho/fóruns conservacionistas, que, apesar da biodiversidade ter um nome feminino, em São Tomé e Príncipe, o rosto é masculino – resultado da clara diferenciação de género, em termos de divisão do trabalho, funções e responsabilidades na sociedade. Essa diferenciação tem levado à construção de estereótipos que intensificam a desigualdade entre homens e mulheres, sendo o primeiro grupo, desde a tenra idade, orientado para actividades ligadas “ao mato” – actividades consideradas “mais de homens” – e o segundo grupo orientado para as actividades domésticas.
Nós mulheres, desempenhamos papéis diferentes a dos homens, porém extremamente importante, na conservação da biodiversidade e é essencial a igualdade de oportunidades de participação na gestão, conservação e uso de terra, porque mais do que vítimas, nós mulheres, constituímo-nos aliadas fundamentais para o desenvolvimento sustentável das nossas Ilhas.
Aliás, não podemos ignorar o facto que nós, especialmente as mulheres das comunidades rurais temos tido pouca oportunidade de participar de forma equitativa nas decisões relacionadas ao uso da terra e conservação das florestas e da biodiversidade – questões que acabam por afectar imensamente o papel da mulher na sociedade, aumentando o esforço que nos é exigido no acesso a água, ao combustível (lenha), aos alimentos e às plantas medicinais.
Neste sentido, é urgente que sejam criadas políticas e estratégias que possam permitir o envolvimento de todos os integrantes da sociedade – homens, mulheres, rapazes e raparigas – no processo de conservação da biodiversidade, bem como para a mitigação dos efeitos das alterações climáticas.
O apoio do projecto Liqueza Tela Non assim como de outras iniciativas nacionais pela conservação do ambiente irá ajudar o país a desenvolver um diálogo participativo entre e com as comunidades, autoridades públicas, sociedade civil e empresas privadas (particularmente do sector do turismo), para uma abordagem de género equitativa e justa, que trará benefícios significativos na melhoria da conservação do nosso património ambiental, único no mundo.
Para concluir, é notória a interligação entre a igualdade de género, o combate à pobreza e o desenvolvimento sustentável, uma vez que ao garantir a igualdade de género e o empoderamento de mulheres e raparigas, em todas as esferas da sociedade, estaremos a contribuir, claramente, para o alcance, de uma forma mais rápida, dos restantes Objectivos de Desenvolvimento Sustentável.
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Artigo assinado por:
Maria Milagre de Pina Delgado – Ministra dos Direitos da Mulher