A presidente da Associação dos Cegos e Amblíopes de São Tomé e Príncipe pediu às autoridades do arquipélago a regulamentação da lei de pessoas com deficiência que reclamam condições de saúde, educação, habitação, transportes e inclusão social.
“As pessoas com deficiência em São Tomé querem ser independentes, querem ter uma família, têm as suas necessidades como todos têm, então porquê enterrar-nos vivos? O nosso país é pobre sim, mas por este pouco, vamos partilhar da melhor maneira para que todos os cidadãos sejam felizes”, alertou Eugénia Neto, numa cerimónia, realizada na segunda-feira, alusiva aos 30 anos de institucionalização da Associação dos Cegos e Amblíopes de São Tomé e Príncipe (ACASTEP) assinalado em 08 de abril.
A cerimónia foi presidida pelo Presidente da República, Carlos Vila Nova e contou com a presença do ministro da Saúde, Trabalho e Assuntos Sociais, Celsio Junqueira.
“Trinta anos, sentimos uma criança, trinta anos com vários desafios, e um dos desafios que nós sentimos tristes, é a lei de base [de pessoas com deficiência] que foi aprovada há onze anos que ainda não está regulamentada. É um sacrifício, é uma injustiça com tantas pessoas cegas aqui em São Tomé com poderes de fazer alguma coisa […] com a lei regulamentada, acreditamos que as dificuldades serão diminuídas”, disse Eugénia Neto.
A presidente da ACASTEP sublinhou que “todas as pessoas com deficiência têm direito de ter uma família, têm direito de ter um emprego, têm direito de ter uma formação”, dando exemplo de Guiné-Bissau, Angola e Moçambique “que sofreram a guerra, mas os cegos conseguem fazer a universidade”, assim como em Cabo Verde, país com o qual a ACASTEP tem feito parcerias e recebido apoios para a formação dos seus associados.
“Queremos uma sociedade melhor para a vida das pessoas com deficiência, a começar pela educação, saúde, alimentação, habitação. Quando chove, muitos têm que encostar na parede, pegar no plástico e tapar a cabeça até a chuva terminar. Isso é doloroso […] o caso está sério, não é brincadeira. Vamos cuidar de todos porque todos são filhos, todos são são-tomenses”, apelou Eugénia Neto.
A ACASTEP conta com mais de 350 associados, mas alerta que a cegueira tem aumentado nos últimos tempos sobretudo a partir da adolescência e a idade adulta, devido a acidentes com objetos perfurantes.
A associação conseguiu formar os cegos em várias áreas, nomeadamente a tecelagem, culinária, informática, mas “não tem condições de dar continuidade” e responder as necessidades dos seus associados.
“A ACASTEP tem todo material para uma escola para jovens e adultos, porque muitas pessoas têm perdido a visão depois da segunda idade. As pessoas ficam em casa isolados, a depender da família, a depender dos vizinhos, a depender de amigos”, disse, Eugénia Neto.
O Presidente da República, Carlos Vila Nova, defendeu que “a inclusão pressupõe a defesa e de igualdade de oportunidade para todos, o reconhecimento das necessidades dos vulneráveis e, por conseguinte, a promoção e proteção dos seus direitos”.
“Torna-se por isso, imprescindível, assegurar o acesso digno dessas pessoas à educação, a saúde, as atividades laborais e de lazer. É necessário que nos apropriemos do sentido adequado do conceito de sociedade inclusiva, isto é, manifestada em políticas públicas e programas privados desenvolvidos com desígnio de minorar as desigualdades existentes”, afirmou Carlos Vila Nova.
“Estou convencido de que somos capazes de fazer muito mais para garantir uma vida mais digna as pessoas com deficiência visual, e reitero o meu comprometimento com a causa social, sobretudo dos mais vulneráveis, pois ao trabalharmos juntos para uma sociedade inclusiva a repercussão será muito positiva”, acrescentou o chefe de Estado.
O diretor interino da União Africana dos Cegos (AFUB, na sigla inglesa), Lucas Amoda, um dos convidados internacionais da ACASTEP, disse no ato que a visão desta organização “é de um continente onde as pessoas cegas e com visão parcial, desfrutem de direitos iguais, inclusão social e participação plena de desenvolvimento”.