O primeiro-ministro Patrice Trovoada negou que a polícia tenha impedido a manifestação de familiares de Lucas, para exigir o julgamento do processo de 25 de novembro, e desvalorizou a queixa-crime apresentada por líderes da oposição sobre a proibição de protesto no país, por quinze dias.
O protesto “não foi abortado pelas forças policiais”, mas “houve tensões com outras pessoas e as pessoas entenderam que não havia condições para se manifestar”, afirmou Patrice Trovoada, em declarações aos jornalistas, na sexta-feira.
Patrice Trovoada sublinhou que “as forças de segurança não conheciam o trajeto” e “não autorizaram porque as manifestações estavam proibidas”.
“Felizmente as coisas decorreram sem mal maior”, afirmou o governante, que prometeu voltar a autorizar manifestações no país após a cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que decorre no domingo.
“Depois da CPLP retomamos em termos de capacidade de segurança, retomamos os níveis normais, e as pessoas poderão manifestar-se como quiserem, conforme reza a nossa democracia”, afirmou Patrice Trovoada, que insistiu estar mais preocupado com outros problemas.
Na quinta-feira, Vicente Lima, um tio de Bruno Afonso, conhecido por “Lucas”, usando como capa a bandeira de São Tomé e Príncipe, com as cores verde, vermelha e amarela, subiu a uma carrinha de caixa aberta, na Avenida Geovani, tentaram manifestar-se, mas foram impedidos de prosseguir com o protesto por cerca de duas dezenas de polícias enviados para o local.
Além da polícia, um grupo de cidadãos, com uma bandeira de campanha com o rosto do primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, e o lema ‘estou pronto’, em tons agressivos, confrontaram a família de Bruno Afonso com apelos à polícia para impedir a manifestação.
Os familiares de Bruno Afonso pretendiam realizar uma manifestação na semana passada para “exigir que os tribunais agendem o julgamento do caso 25 de novembro de 2022” e a libertação do arguido, único sobrevivente do assalto ao quartel, considerado pelas autoridades como tentativa de golpe de Estado, em que morreram quatro pessoas.
O primeiro-ministro considerou como uma questão de “politiquice” a queixa-crime contra si e outros governantes feita por líderes de três partidos da oposição, por atentado contra o Estado de direito devido à proibição de manifestações no arquipélago.
“Estamos aqui no domínio da política, para não dizer da politiquice”, respondeu Patrice Trovoada, em declarações aos jornalistas, criticando a opção pelas vias judiciais dos seus opositores.
“Estamos em democracia, têm direito de apresentar queixa-crime e tudo quanto quiserem. Não há problema nenhum […] como também eu disse, podiam, já antes mesmo de manifestar irem ao tribunal e dizerem que estavam contra isso tudo, em vez de manifestar sem aviso, sem percurso e sem absolutamente nada, o que podia complicar também a eles a vida”, acrescentou.
Sobre os atrasos no julgamento dos arguidos presos no âmbito do caso de 25 de novembro, cujo prazo de máximo de prisão preventiva definido pela lei em nove meses já foi ultrapassado em 25 de agosto, Patrice Trovoada remeteu para à justiça.
“O que quer que eu diga? Eu sou juiz? Ou se quer democracia ou não se quer democracia”, pelo que essas questões devem ser feitas “à justiça e não ao governo”, respondeu.
Agora, “enquanto primeiro-ministro, no capítulo do desempenho das instituições que são independentes e responsáveis, eu observo”, mas “não me chamem à responsabilidade de uma coisa que eu não tenho”, acrescentou.