A Santa Casa da Misericórdia de São Tomé e Príncipe quer medidas para impedir familiares que maltratam idosos de beneficiarem dos seus bens, uma situação que diz acontecer com frequência, havendo inclusive casos de mortes.
Quase 100 idosos, maioritariamente mulheres, dos quais 21 acamados são acolhidos em regime de internato no Lar Simôa Godinho, um dos maiores projetos da Santa Casa da Misericórdia de São Tomé e Príncipe.
“Temos sempre procura deste serviço que dificilmente podemos recusar porque quando nós fazemos as visitas e constatamos a situação em que as pessoas se encontram, não conseguimos dizer que não”, sublinha o provedor da Santa Casa da Misericórdia de São Tomé e Príncipe, Acácio Elba Bonfim, em entrevista à RSTP.
Contrariamente ao que acontecia há alguns anos, a instituição não acolhe apenas pessoas abandonadas, pois muitos são encaminhados pelos próprios familiares que constatam a necessidade de apoios mais continuados.
“Também é verdade que ainda há casos em que as pessoas são abandonadas, são maltratadas pelos próprios familiares. São pessoas que a dada altura recebemos informações de terceiros sobre a situação do idoso e nós fazemos as diligências necessárias para os termos connosco de modo a lhes dar uma vida realmente digna”, explica.
O provedor da Santa Casa da Misericórdia de São Tomé e Príncipe refere que muitos utentes do lar Semôa Godinho foram lá parar por causa de violência ou acusações de feitiçaria, mas “atualmente já não há tantos casos desses”.
“Estão lá, não fizeram mal a ninguém, convivem muito bem com toda a gente, o que significa que tal argumento de feitiçaria é mais uma questão de estigma do que todo o resto”, refere.
Segundo Acácio Elba Bonfim, em muitos casos os idosos que são vítimas de acusações “são pessoas que têm algum bem” e os familiares “têm aquela ganância” de assumir a posse desse bem, e por isso “inventam essas confusões” para afastar os idosos e assumirem o controlo.
“O Governo poderá ver depois como proceder para que as pessoas que maltratam os seus familiares, fazem com que eles se vejam na rua, muitas vezes até correm risco de vida e outros até morrem, que essas pessoas não tenham o direito a herdar os bens que estes familiares deixam, porque isso até estimula a que isso aconteça”, apela o provedor da Santa Casa da Misericórdia são-tomense.
Acácio Elba Bonfim diz que se trata de uma situação que a Santa Casa está a estudar e apela ao envolvimento da sociedade para “ajudar as autoridades a encontrarem a forma de impedir, dissuadir estas pessoas de cometerem estes atos”.
“Parece não haver consequência nenhuma porque há casos que nós sabemos e conhecemos que pessoas foram expulsas ou foram maltratadas ou espancadas, e que depois quem expulsou ocupa a casa e vai lá viver, se tem um terreno vai lá desfrutar”, insiste.
No entanto, o representante da misericórdia de São Tomé considera que a violência contra idosos “está a diminuir bastante em relação a tempos passados graças a medidas que são tomadas pelas autoridades”, nomeadamente as campanhas de sensibilização para dissuadir esse tipo de atos.
A Santa Casa da Misericórdia de São Tomé e Príncipe é um projeto financiado em cerca de 75% pela cooperação portuguesa, em 18% pelo Estado são-tomense e ainda com algumas receitas produzidas pela organização.
Acácio Elba Bonfim diz que o projeto beneficia diretamente mais de 3.500 pessoas, e outras indiretamente, mas ainda há muitas pessoas que “passam por dificuldades tremendas”.
“Como não podemos ter todos eles em regime de internato, temos também projetos, como por exemplo o Centro de Dia Padre Silva, em Ribeira Afonso e o Centro Comunitário da Trindade, que são dois que atendem, não só em regime de centro de dia aos que lá vão, mas também fornecem refeições em casa”, explica.