Os enfermeiros e técnicos de saúde de São Tomé e Príncipe iniciaram hoje uma greve de cinco dias com adesão acima dos 90%, segundo o sindicato, que acusa o Governo de atos antidemocráticos para impedir a adesão ao protesto.
O portão do Hospital Central Dr. Ayres de Menezes esteve encerrado durante a manhã, com os seguranças a permitirem apenas a entrada de doentes internados ou utentes com situações graves de urgências.
“Ao nível das áreas todas do Hospital Central, do centro de Saúde de Água Grande do PMI central nós conseguimos dizer que estamos a 89, senão 92% de adesão à greve”, a presidente do Sindicato dos Enfermeiros e Parteiras, Eula Carvalho.
“Nós sentimo-nos, infelizmente, muito desestabilizados porque o poder político tem usado artifícios maquiavélicos [..] quando ameaçam os colegas que estão em greve, ameaçam retirar efetividade, ameaçam cortar os piquetes, é um sinal claro de antidemocracia”, acrescentou a líder sindical.
A greve foi convocada pelos sindicatos dos enfermeiros e parteiras, técnicos de diagnóstico e terapêutica, técnicos de serviços gerais da saúde e técnicos administrativos da saúde que entregaram o pré-aviso na terça-feira ao ministro da Saúde, Trabalho e Assuntos Sociais, Celsio Junqueira.
“Nós estamos nessa situação de reivindicação porque nós demos um sinal há cinco meses, pediram três meses, mas não cumpriram nenhum ponto. Isso é um sinal de total desrespeito e descaso”, sublinhou Eula Carvalho.
Durante os últimos dias o sindicato e o Governo tiveram várias rondas de negociações, a última das quais realizada no domingo até a noite, mas, até ao momento, não foi possível o entendimento.
“Quando tiverem uma negociação mais fidedigna com documentos palpáveis que comprovem que na data marcada há de se cumprir, vamos suspender a greve, porque não é do nosso interesse ter os colegas todos fora do setor e a população é a nossa maior preocupação”, declarou Eula Carvalho.
“O Governo está a negociar. A greve é um direito, há um caderno reivindicativo, tem havido reuniões todos os dias para ver através do diálogo como é que respondemos, esclarecemos, resolvemos, negociamos, e eu acho que de certa maneira tem havido um bom clima de trabalho. Eu penso que toda a gente quer que o setor funcione”, comentou, no sábado, o primeiro-ministro Patrice Trovoada.
Ao longo do fim de semana foi divulgado um áudio com a presidente do sindicato dos enfermeiros a acusar o líder do sindicato dos técnicos de diagnóstico e terapêutica de traição ao movimento sindical a favor do Governo.
O sindicato e o Governo têm uma reunião agendada para a tarde desta segunda-feira.
Em abril, os sindicatos dos enfermeiros e técnicos, incluindo o dos médicos, que desta vez não subscreveu o pré-aviso de greve, ameaçaram com uma greve geral a partir de 03 de maio face ao estado “crítico e lamentável” do setor, denunciando falta de medicamentos, infraestruturas, equipamentos e desmotivação dos profissionais.
Exigiram também o “complemento de formação para grau de licenciatura a todo o pessoal técnico de diagnóstico e enfermeiros” e “formação de base para técnicos e auxiliares de laboratório”.
Os sindicatos pediram também a “aprovação e publicação dos estatutos de carreira dos profissionais da saúde”, “transição em bloco de todos os profissionais, tanto dos serviços administrativos como dos serviços gerais do atual regime para o regime especial” e a “promoção e progresso em bloco de todos os profissionais médicos, técnicos de diagnóstico e enfermeiros”.
Por fim, exigem a “aprovação e publicação do pagamento de 100% do salário de base aos profissionais [da saúde] na situação de reforma”.
Na altura, o ministro da Saúde, Celsio Junqueira, considerou que a greve geral anunciada pelos sindicatos tinha “fundamentos políticos” porque se baseava em situações que herdou do executivo anterior e outras que o executivo disse ter informado os sindicatos que tem procurado soluções.
O ministro da Saúde disse que o Governo estava a trabalhar na “aquisição de materiais, consumíveis, medicamentos, reagentes e melhoria de atendimento à população”, mas que as outras questões reivindicadas pelos sindicatos “são pontos que têm que ver com o Orçamento Geral do Estado e com a evolução económica do país”.