O Presidente de transição do Gabão disse hoje, em São Tomé, que o país vive uma nova era após o “golpe de liberdade” que depôs o antigo presidente, tendo apelado ao apoio das autoridades são-tomenses, nomeadamente do Presidente da República e o primeiro-ministro, junto aos Estados africanos.
“O que alguns chamam de golpe de Estado, chamamos-lhe nós, no Gabão, golpe de liberdade. Foi a vontade do povo que se expressou, após eleições não democráticas, e o exército fez a escolha de seguir o seu povo”, disse o General Brice Oligui Nguema, após um encontro com o Presidente são-tomense, Carlos Vila Nova.
“Foi interessante para nós não enganar e matar gaboneses e escolhermos desta vez este caminho da liberdade”, acrescentou o proclamado Presidente de transição do Gabão.
Os militares tomaram o poder no Gabão em 30 de agosto, minutos depois de as autoridades eleitorais terem anunciado a vitória do Presidente Ali Bongo nas disputadas eleições de 26 de agosto.
Sem as habituais honras militares de chefes de Estado, o Presidente de transição foi recebido à porta do Palácio Presidencial são-tomense pelo chefe de Estado Carlos Vila Nova, tendo em seguida um encontro bilateral à porta fechada.
“Nesta visita de amizade, estamos aqui a trocar com o Presidente [Carlos Vila Nova] para que São Tomé e Príncipe nos acompanhe neste processo, para apaziguar as sanções. Que entendam que o que aconteceu no Gabão, é algo novo para nós, para o Gabão e para os gaboneses”, disse Oligui Nguema, quando falava ladeado pelo chefe de Estado são-tomense nas escadarias do Palácio presidencial.
Durante as declarações, sem direito à perguntas, Oligui Nguema pediu o apoio de São Tomé e Príncipe no processo de transição em curso no país.
“Contamos com o presidente de São Tomé e Príncipe, com a sua sabedoria para discutir com os nossos homólogos africanos para, juntos, podermos encontrar soluções para o caso do Gabão”, concluiu.
Além da situação no Gabão, Oligui Nguema disse ter abordado com o Presidente são-tomense a cooperação entre os dois países, sublinhando 16 acordos de cooperação rubricados entre os dois Estados.
Após encontro com o Presidente são-tomense, Oligui Nguema reuniu-se com o primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada.
A visita de menos de 24 horas termina às 16:00 de São Tomé (mais uma em Lisboa), após encontro com a comunidade gabonesa residente em São Tomé.
No dia em que os militares assumiram o poder no Gabão, o Presidente são-tomense condenou a “inversão da ordem constitucional” por via das armas no Gabão.
“Toda e qualquer forma de inversão da ordem constitucional não pode merecer a nossa concordância. Portanto, é um ato que condenamos porque ela vem na sequência da interrupção de funcionamento de um Estado de direito normal”, reagiu Carlos Vila Nova.
Por sua vez, na altura, o primeiro-ministro são-tomense considerou que o Golpe de Estado no Gabão “traduziu-se numa interrupção do processo eleitoral” na base de uma contenda sobre os resultados eleitorais e sublinhou que “não pode demorar muito tempo” para se ultrapassar esta situação e regressar “ao funcionamento normal das instituições através de mecanismo de expressão popular nas urnas”.
Angola, Burundi, Camarões, República Centro-Africana, Tchad, Congo, Guiné Equatorial, Gabão, Ruanda, São Tomé e Príncipe e República Democrática do Congo integram a Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC).