As três universidades de São Tomé e Príncipe têm sido confrontadas com o aumento do abandono escolar que atribuem sobretudo à emigração de jovens, uma realidade particularmente visível este ano letivo na redução das inscrições que levou ao atraso do início do ano letivo.
“Essa problemática de fuga dos alunos na [Universidade] Lusíada não é de hoje. Temos casos de alunos já no terceiro e quarto ano, a quem o próprio Governo atribui bolsas de cursos profissionais, e eles preferem sair do país”, disse à RSTP o presidente da Universidade Lusíada de São Tomé e Príncipe, Liberato Moniz.
Na Lusíada, como no Instituto Universitário de Contabilidade, Administração e Informática (IUCAI) e na Universidade de São Tomé e Príncipe (USTP), o ano letivo começou este ano mais tarde e sem os habituais testes de admissão devido à pouca procura.
“Temos alunos suficientes para as turmas, mas não no número desejado. Temos uma média de 20 a 25 alunos por turma no primeiro ano e sabemos que esse não é um número considerável, porque muita gente está sempre na perspetiva de sair do país, o que não é de hoje”, disse Liberato Moniz.
A pró-reitora da USTP, Vanda Costa disse que a única universidade pública do país foi apanhada de surpresa e teve que repensar a estratégia que passou pelo prolongamento das inscrições e ter “turmas cheias” no início “para garantir alguns alunos até à conclusão do curso”.
“Alguns alunos, mesmo com as bolsas, também abandonam os cursos, porque eles querem sair [..] eles acreditam que poderão ter mais oportunidades fora de São Tomé, porque também não conhecem outra realidade e então pensam que o que está fora é melhor do que estar cá”, disse Vanda Costa em declarações à RSTP.
O reitor do IUCAI, Agostinho Rita relatou que as turmas que tinham até 40 alunos nos anos letivos anteriores, têm apenas cerca de 15 alunos no atual ano letivo, o que o leva a considerar que “a situação é bastante preocupante”.
Embora nenhuma das universidades tenham realizado um estudo para compreender as verdadeiras causas da redução de alunos e dos abandonos, a emigração tem sido apontada como a principal causa.
“Essa facilidade que neste momento os nossos jovens têm com os vistos da CPLP veio só acelerar aquilo que paulatinamente vem acontecendo nos anos transatos”, disse a pró-reitora da USTP, acrescentando outras causas, nomeadamente as dificuldades financeiras e a falta de incentivos para os estudantes continuarem a formação no país.
O presidente da Universidade Lusíada considera que a forma como a política de emigração foi implementada “é má para um país [como São Tomé e Príncipe], onde já havia pouca esperança” e “as pessoas estavam praticamente desesperadas querendo sair”.
Liberato Moniz, considera que para atenuar a situação é preciso criar “condições dentro do país para que os jovens sintam que há razões suficientes para que eles possam sonhar, e preparar o seu futuro”.
O reitor do IUCAI defende a facilitação do processo de atribuição das bolsas de estudos internas, que atualmente serve apenas para pagar as propinas, devendo ser alargada para integrar despesas com o transporte, alimentação, habitação e materiais didáticos.
O presidente da Universidade Lusíada, por seu turno, defende que “não se pode obrigar a que o Estado esteja sempre a sustentar estes estudantes”, mas é preciso que crie condições para que se “possam dirigir aos bancos e obter créditos que lhes facilite sustentar os seus sonhos”.
“Essas alternativas têm que ser discutidas ao mais alto nível, não só ao nível das instituições do ensino superior. A entidade política tem que pensar numa forma de resolver”, defendeu o diretor do Ensino Superior, Ilvécio Ramos.
Este responsável disse que no ano passado todo o valor da bolsa interna foi assegurado pelas empresas petrolíferas, num valor de aproximadamente um milhão de dólares.
“As universidades também têm que pensar noutras alternativas”, nomeadamente, encontrar “parcerias externas”, porque “deve haver muitas outras formas de obter dinheiro para as universidades” e as próprias universidades “buscar bolsas para os alunos para não sobrecarregar o Estado”, e “não ficar sentadas a espera que seja apenas o Estado a resolver o problema”, sublinhou Ilvécio Ramos.