Várias famílias são-tomenses estiveram reunidas na quarta-feira de Cinzas para assinalar o dia do ‘bocado’, preservando a tradição marcada pelo encontro e o convívio familiar onde não faltou o Calulu, que é o principal prato do dia.
O dia do bocado acontece numa quarta-feira do mês de fevereiro, no início do tempo da Quaresma, segundo o calendário religioso católico, em que os familiares reúnem em torno parente mais velho, em regra as bisavós os avós que dão o bocado, uma colher de calulu a todos os presentes.
“Bocado é uma coisa de antigamente que todos nós abrimos os olhos e encontramos […] neste dia é para fazermos um bocado de calulu, bocado de izaquente [de acordo] com a possibilidade de cada um, chamar os familares, netos, filhos e filhas e dar a cada uma, a uma colher do calulu”, contou à RSTP, Irene Andrade, a avó da família Andrade.
A designação “bocado” vem do ritual que é feito na hora do almoço e surge quando o parente mais velho retira um pouco da comida confecionada e colocada diretamente na boca com uma colher, começando pelo mais velho e terminando no mais novo da família, segundo a regra.
“Quem não tem avó pode dar uma filha mais velha e quem não tem bisavó, avó é que dá”, acrescentou.
Como uma tradição muito antiga, muitas regras sobre esta prática têm se perdido ou modificadas de família a família. Uma delas tem a ver com a ordem pela qual os netos recebem o bocado.
Segundo Irene Andrade, o ´bocado` deve-se começar dos filhos mais velhos até o mais pequeno da casa, como neto, bisneto, etc.
O calulu é o principal prato desta tradição, que simboliza o ´bocado` no arquipélago, mas durante o convívio familiar são compartilhadas outras iguarias.
O dia do bocado foi introduzido na cultura são-tomense desde a era colonial, e há mais de 548 anos esta data é comemorada nas Ilhas sempre na Quarta-feira de Cinzas.
