O presidente da associação dos encarregados de educação dos alunos do Liceu Nacional afirmou-se preocupado com a greve dos professores que dura há cinco dias, apelando ao Governo para melhorar os salários dos docentes em prol da melhoria do ensino no país.
“Isso preocupa-nos porque estamos a aproximar o período em que as crianças vão ser submetidas a avaliação (…) e serem submetidos a testes muitas vezes sem alguma preparação antecipada, tendo em conta a situação de greve, pode causar alguns transtornos para o próprio aproveitamento dos alunos”, disse Mikail Barros, em declarações à RSTP.
Barros preside à associação criada que representa os encarregados de educação de milhares de alunos do sétimo ao décimo segundo ano do Liceu Nacional, o maior estabelecimento de ensino do país.
Para o líder associativo, a preocupação é maior devido à fraca qualidade de professores e alunos, como foi admitida na semana passada pela ministra da Educação, Isabel D’Abreu.
Os quatro sindicatos que formam a intersindical que representa os professores são-tomenses estiveram reunidos durante cerca de cinco horas na noite de terça-feira, mas não chegaram ao acordo sobre as melhorias financeiras exigidas pelos docentes como condição para suspenderem a greve.
“Se a greve continua é preocupante e já dá direito de os pais começarem a pronunciar e terem uma intervenção, porque isso pode pôr em causa o aproveitamento escolar dos nossos filhos”, sublinhou Mikail Barros.
O representante dos encarregados de educação disse que a associação vai reunir-se na quinta-feira com a intersindical e depois ouvir o Governo, “porque, ao fim ao cabo, os maiores lesados nisso são os alunos”.
Barros solidarizou-se com a reivindicação de melhoria salarial exigida pelos professores, mas pediu “precaução e cautela” a ambas as partes em prol da melhoria do ensino são-tomense.
Para Mikail Barros, o aumento do salário de base exigido pelos professores de 2.500 para 10 mil dobras (100 para 400 euros) “é uma questão que deve ser muito bem pensada”, admitindo que “seria um pouco difícil para o Governo assumir essa responsabilidade nessa altura”.
No entanto, defendeu que haja negociação, sublinhando que, “se puder haver alguma melhoria ao nível dos salários dos professores, é bom”.
“É preocupante [e] não é de bom tom que um professor saia da sua casa e vai lecionar e no final do mês recebe 3 a 4 mil dobras [120 a 160 euros] para aquilo que é o custo de vida hoje, sobretudo com a aplicação do IVA [Imposto sobre o Valor Acrescentado]”, disse Mikail Barros.
Na sexta-feira, o Governo são-tomense lamentou a greve geral iniciada pelos professores nas primeiras horas do dia e que paralisou todas as escolas do arquipélago para exigir aumento do salário de base de 2.500 para 10 mil dobras.
O ministro das Finanças, Ginésio da Mata, avisou que não fará aumento do salário para nenhum setor da função pública em 2024 devido aos compromissos com o Fundo Monetário Internacional e que a decisão foi comunicada às Centrais Sindicais em novembro do ano passado.
No entanto, os líderes sindicais admitiram que, não havendo possibilidade de aumento do salário de base, que sejam melhorados os subsídios e outras contrapartidas financeiras.
“Nós queremos uma medida que nos permita realmente ter uma vida digna […] nós continuamos ainda em negociação até que consigamos chegar a um acordo definitivo que possa tranquilizar a classe, possa dar alguma dignidade e que também possa trazer a paz e qualidade no espaço escolar”, sublinhou o presidente do Sindicato Independente dos Professores (SINPROF), Clementino Boa Morte.
Segundo a ministra da Educação, com a greve geral dos professores, quase 90 mil crianças e adolescentes estão sem aulas, num país com cerca de 200 mil habitantes.