A Organização Nacional dos Trabalhadores de São Tomé e Príncipe pediu hoje a intervenção do Presidente da República para por fim à greve na Agripalma, que dura há mais de um mês, e acusou o Governo declarou não ter confiança no Governo, que acusa de não agir de forma imparcial.
“Nós enquanto representantes dos trabalhadores estamos muito preocupados com esta situação”, declarou o secretário-geral da ONT-STP, João Tavares que chefiou uma delegação da organização que foi hoje recebida pelo chefe de Estado, Carlos Manuel Vila Nova, na Presidência da República.
João Tavares sublinhou que a Agripalma “é uma empresa estratégica, que aporta algum rendimento para o país” e “absorve um número de mão-de-obra razoável”, sendo “a maior empresa do país neste momento”.
“Não dá para entender como é que um gestor pode deixar uma empresa viver com uma greve acima dos 30 dias”, lamentou.
No início da paralisação os cerca de 800 trabalhadores da Agripalma exigiram o aumento do salário em 38%, mas durante as negociações reduziram para 30% e agora admitem apenas 15%, mas dizem que a direção da empresa recusa aceitar, admitindo apenas o aumento de 8%.
“Fomos forçados a pedir o encontro com o Presidente da República de forma a exercer a sua magistratura para permitir que essa questão possa ter fim, porque da parte do Governo nós não sentimos essa vontade, a equipa que está a mediar a situação também não revela confiança e não tivemos outra alternativa senão informar o Presidente da República”, disse João Tavares.
Além da melhoria do salário os trabalhadores também reivindicam melhorias de condições de trabalho.
“Gostaríamos de preservar os postos de trabalho e gostaríamos também de ter a empresa com um trabalho digno e que possa produzir riqueza para o país e melhorar as condições de vida para os trabalhadores”, sublinhou João Tavares.
“O senhor Presidente da República depois de ouvir-nos prometeu que vai fazer a sua advocacia junto do Governo para que as coisas possam mudar em benefício do país”, acrescentou o líder sindical.
Na semana passada, dezenas de trabalhadores da Agripalma realizaram uma marcha na cidade de São Tomé que culminou com a entrega de uma petição ao primeiro-ministro, Patrice Trovoada, para apelar à mediação do Governo para o fim da greve.
Antes da marcha, o primeiro-ministro são-tomense sublinhou que a Agripalma “é uma empresa privada que já há anos tem alguma dificuldade de relacionamento com os trabalhadores”, declarando que está de acordo “com um certo número de questões” reivindicadas pelos trabalhadores.
“Nós já interviemos a tentar mediar entre os trabalhadores e a direção. Até certo ponto os trabalhadores já flexibilizaram muitas coisas e estamos a espera que a direção também flexibilize um pouco”, disse Patrice Trovoada.
O chefe do Governo são-tomense referiu que o Governo não tem “intervenção direta” no caso, considerando que “é uma situação um pouco delicada” e uma intervenção do executivo poderia fazer pensar que estaria a impor e a coagir o investidor.
A Agripalma foi inaugurada em finais de 2019, anunciando a capacidade para produzir 10 mil toneladas anuais de óleo de palma num investimento da sociedade belga Socfinco de 30 milhões de euros.
Situa-se a cerca de 60 quilómetros a sul de São Tomé, capital do país, e tem uma área de 2.100 hectares de palmeiral plantados, tendo-se afirmado a partir de 2020 como a maior exportadora com cerca de 4900 toneladas de óleo de palma superando a exportação do cacau.