A escritora portuguesa, Filipa Martins apresentou no dia 23 de maio, no Centro Cultural Português, o seu mais recente livro intitulado “O Dever de Deslumbrar”, obra que retrata a vida da poetisa e romancista portuguesa, Natália Correia, que simbolizou, como poucos, as inquietações do século XX português.
A obra que demorou seis anos a escrever foi apresentada no âmbito do programa da 3ª edição do Roça Língua – Residência de Escrita Criativa.
“[Natália Correia] era uma mulher que ocupava o espaço público, que ocupa os cafés quando os cafés eram apenas ocupados pelos homens, foi uma mulher que tomou a palavra, subiu ao púlpito, chamou as coisas pelos nomes, era alguém sem medo, que em todos os momentos da história do país, soube apontar o dedo”, disse a autora da obra, Filipa Martins.
Natália Correia foi uma das personalidades mais destacadas da literatura portuguesa das últimas décadas. Notabilizada através de diversas vertentes do ofício da escrita, foi poetisa, dramaturga, romancista, ensaísta, tradutora, jornalista, guionista e editora, e tornou-se conhecida na imprensa escrita e, sobretudo, na televisão, em programas como «Mátria», no qual exprimia uma forma especial de feminismo, afastado do conceito tradicional do movimento e que mais corretamente se poderia intitular “feminilidade portuguesa”, o matricismo, identificador da mulher como matriz primordial e arquétipo da liberdade erótica e passional.
A escritora disse acreditar que os portugueses estão a reconciliar com a figura de Natália Correia, através da sua obra “Dever de Deslumbrar”.
“Ela própria dizia, só vão me perceber 30 anos a minha morte e em 2023, celebramos os 30 anos da morte de Natália Correia, e de repente, algumas coisas para as quais ela nos tentou alertar, fazem agora cada vez mais sentido”, disse Martins considerando que “Natália Correia era muito crítica deste projeto europeu, onde Portugal se insere”.
“[Ela] considerava que era um projeto mercantilista apenas focado para uma economia monetária que não tinha um sustento cultural e que de alguma maneira iria provocar mais divisões do que consenso”, acrescentou.
A obra, além de contar a vida de Natália Correia também faz o retrato de Portugal entre a ditadura e o começo da democracia.
A escritora Filipa Martins nasceu em Lisboa, em 1983, e é uma premiada escritora, romancista e argumentista. Recebeu o Prémio Revelação, na categoria de Ficção, atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores (APE), com Elogio do Passeio Público, o seu primeiro romance. Obteve ainda o Prémio Jovens Criadores do Clube Português de Artes e Ideias com Esteira.
Em 2009, publicou o seu segundo romance, Quanta Terra. Em 2014, saiu pela Quetzal o seu terceiro romance, Mustang Branco, a que se seguiu, com a mesma chancela, Na Memória dos Rouxinóis (2018), Prémio Manuel de Boaventura. Finalista dos Prémios Sophia, da Academia Portuguesa de Cinema, dedicou-se nos últimos seis anos a estudar a vida e a obra de Natália Correia, tendo sido coautora de um documentário e coargumentista de uma série de televisão sobre esta escritora açoriana.