O Grupo teatral “Teatro Anguené” de Angolares apresentou na terça-feira, 02 de Julho na Casa das Artes Criação Ambiente e Utopias (CACAU), uma peça denominada “Salamon” que em português, significa “o destino” e que elucida sobre o quotidiano são-tomense em particular do povo de angolares, da zona sul da Ilha de São Tomé.
A peça que foi apresentada em crioulo Angolar, tradicional dos angolares, enquadra-se no âmbito da X Bienal de Artes e Cultura que decorre no país e foi produzida e realizada pelo grupo Teatro Anguené.
“Eu fiz isso [como] forma de tentar valorizar um bocado a língua de angolar porque eu notei que as vezes mesmo as pessoas que vivem em Angolares, principalmente as crianças [quando] tentamos dialogar com elas na nossa língua, elas têm dificuldades, então estou a fazer isso como forma de também tentar ensinar algumas pessoas que têm dificuldade de falar”, disse Victor da Cruz, responsável do grupo Teatro Anguené.
O grupo já conta com três participações na bienal de artes e cultural de São Tomé e Príncipe e tem sido trabalhado sob instruções do ator e encenador angolano Miguel Hurst.
“Este trabalho começou em 2022 na IX Bienal e ao convite de João Carlos Silva”, disse Hurst sublinhando que este trabalho em 2024 visa “mostrar o que é que a formação de 2022 trouxe” ao grupo.
“E trouxe realmente o que nós queríamos, [um grupo] autónomo, que consegue escrever as suas peças, um grupo que consegue fazer as suas peças, um grupo que consegue exprimir a sua cultura que para mim parece uma cultura um bocado escondida e esquecida lá para sul e é preciso dar força a este tipo de situação e acho que foi isso a intenção do bom coração do João ´Carlos Silva`”, acrescentou Victor da Cruz.
O público entusiasmou-se com a mensagem transmitida na apresentação que elucidou um pouco da situação de “tu me amas e eu não te amo, eu te gosto e tu não me gostas”.
“Esta peça vem mostrar-nos que a mulher não é um objeto, tudo tem que ser pelo gosto, tudo tem que ser consentido e claramente que deu uma boa lição a todos aqui [pressente]”, frisou a jovem cantora são-tomense, Vanessa Faray que presenciou a peça.
A peça que foi apresentada na terça-feira na casa CACAU, culminou também com uma palestra sobre o “Barão de Água Izé”, dinamizada pela brasileira Maysa Espíndola Souza, fruto da sua dissertação de mestrado, na qual a mesma procurou abordar questões sobre a “abolição do tráfico de escravos”.
“Porque Barão de Água Izé, ele consegue trazer o aforamento da Ilha do Príncipe e uma licença para trazer 100 dos seus escravos da região de Benguela para a Ilha do Príncipe e aí, com isso eu comecei a olhar para a história do Barão pensando a importância dele para a discussão sobre direito no império português e como ele consegue basicamente uma licença para transportar 100 escravos numa época em que não era permitido fazer isso”, conta a historiadora brasileira, Maysa Espíndola Souza.
“Ele consegue uma manobra legislativa que permite ele fazer isso e libertando as pessoas, só que ao mesmo tempo as pessoas são libertadas, mas elas são colocadas no estatuto jurídico ainda inferior aos de pessoas livres, então foi neste sentido que comecei a pesquisar Barão de Água Izé e fiquei muito interessada nas políticas de trabalho”, acrescentou Souza.
A X Bienal de Artes e Cultura de São Tomé e Príncipe decorre no país até 25 de julho, sob o lema “A (re)descoberta de Nós” – da História ao Património Comum, das Utopias ao Futuro” e conta com a participação de artistas e coletivos de mais de uma dezena de países, nomeadamente de Cabo Verde, Togo, Gabão, RDCongo, França, Portugal, Holanda, Angola, Senegal, São Tomé e Príncipe, Inglaterra e Brasil.