Dezenas de são-tomenses radicados em Portugal saíram às ruas, em protesto na tarde de sábado, clamando pela justiça, face ao acontecimento de 25 de novembro, ocorrido há dois anos, e que ceifou a vida de quatro civis, alegadamente ligados a uma suposta tentativa de golpe de Estado.
Os manifestantes exigiram investigações transparentes sobre o ocorrido, além de justiça para as vítimas e as suas famílias.
“O objetivo desta manifestação é a justiça, é uma forma de nós reivindicarmos sobretudo, a justiça porque é inadmissível dois anos depois do tão famoso e proclamado golpe [de estado], que todos nós vimos que não era golpe, era mais um acerto de contas [onde] quatro cidadãos são-tomenses foram torturados, massacrados, e é engraçado até o dia de hoje, não há justiça, não há nada”, disse um dos manifestantes, Gessy Veiga.
“Houve uma politização claramente da justiça, em que um sistema a priori, contorna e atira para o outro, e é algo vergonhoso, que mancha por completo a nossa história e o nosso povo que não foram habituados nem acostumados com estes tais atos bárbaros”, acrescentou Veiga.
A manifestação que teve como ponto de concentração na Praça do Marquês de Pombal, também foi realizada em Londres (Reino Unido), com o objetivo de sensibilizar a comunidade internacional sobre os abusos dos direitos humanos em São Tomé e Príncipe com a cumplicidade do Estado são-tomense.
O ex-primeiro ministro de São Tomé e Príncipe, Joaquim Rafael Branco que também marcou a presença na manifestação sublinhou que “há muita coisa por esclarecer” sobre este acontecimento que chocou toda a população, dentro e fora do país.
“Há muitas responsabilidades para serem apuradas, e enquanto nós como país e as instituições do país não agirem para que tudo seja esclarecido e para que aqueles que eventualmente sejam culpados, serem responsabilizados pelos seus crimes, não teremos paz. Um país onde se pratica a violência com impunidade, pode dar lugar a mais violências, pode não ser hoje, pode não ser daqui a um mês, mas impunidade gera violência”, defendeu Rafael Branco.
“Não podemos continuar a viver com essa incógnita. Há muita gente que alegadamente participou e foi promovida [do cargo] e isso é estranho”, completou o ex-chefe do governo são-tomense.
A manifestação também destacou a luta por responsabilidade no tratamento de questões de direitos humanos e a necessidade de garantir que eventos como este não fiquem impunes. No entanto, alguns manifestantes apelaram a intervenção do Presidente da República neste processo e que entregue uma cópia do relatório da CEEAC para que o chefe do governo seja investigado pelo Ministério Público.
“Viemos aqui pedir a justiça em prol destes quatro irmãos que nós temos e mais um que ficou sobrevivente, que é o Lucas. E nós queremos a justiça, pedimos ao senhor Presidente da República, Carlos Vila Nova, que seja um pai da nação são-tomense [e que] faculte o relatório da CEEAC e entregar imediatamente a demissão do governo de Patrice Trovoada para que seja entregue a justiça, para que ele seja julgado pelo seu crime cometido, tanto ele como os outros”, disseram um dos manifestantes.
“25 de novembro, é um caso que já está clarificado. Eu não sei porquê que o Ministério Público, Presidente da República não tomam decisão, o assunto está todo clarificado, já tem relatório, há todas as informações corretas que diz quem matou. Os militares estão a ser promovidos, protegidos, então quer dizer que alguém que está por detrás disso é o Patrice Trovoada, porque ele é que está a promover todos aqueles que mataram [os quatro civis]”, disse outro manifestante.
O dia “25 de novembro” passou a ser lembrado para muitos são-tomenses, como um dia de reflexão e de busca por justiça, tanto para as vítimas como para a democracia e os direitos fundamentais em São Tomé e Príncipe.