“Tlundo” está a desaparecer em STP devido a emigração e falta de interesse da juventude

Emir Boa Morte destacou ainda a necessidade de a Direção Geral da Cultura e o Governo, através do Ministério da Educação, Cultura, Ciências e Ensino Superior “proporcionar sempre essas atividades de modo a trazer sempre as pessoas às estas atividades culturais do país”.

Cultura -
Carnaval tradicional

O Carnaval tradicional, conhecido como “Tlundo” em São Tomé e Príncipe está a desaparecer no país, e apenas 7 grupos ainda resistem, alertou o diretor Geral da Cultura, Emir Boa Morte, apontando a emigração e a falta de interesse da juventude como as principais causas para a extinção desta manifestação cultural do arquipélago.

Tlundo, está a se perder. Eu recordo nos outros anos essa atividade decorria com muitos grupos, dos 12 até 14, e havia tipo de um concurso, já agora só estão os 7 grupos que existem, todos os outros desapareceram e nós só damos alguma contribuição para eles atuarem, mas antes havia um concurso e eles viviam isso com mais garra em relação aos tempos recentes”, disse Emir Boa Morte.

Das rondas que nós temos feito em São Tomé e Príncipe sobre os grupos culturais e as atividades culturais, estamos a reparar que há desaparecimento., e estivemos em vários distritos e só falta de Caué, e em todos os distritos [onde estivemos], as pessoas estão a reclamar. Primeira questão é que há muita viagem e a segunda questão é que os jovens não estão a aprender a nossa cultura“, acrescentou.

Neste sentindo, Direção Geral da Cultura através do Ministério da Educação, Cultura, Ciência e Ensino Superior, promoveu na segunda-feira, na Casa da Cultura uma noite do Carnaval Tradicional, com intuito de valorizar e promover esta manifestação cultural, bem como salvaguardar a sua transmissão para as gerações futuras.

O nosso objetivo é o resgate. Trazer aqui sempre um grupo, e nós estamos já a organizar para termos aqui uma agenda cultural que pelos menos uma ou duas vezes por ano tenha aqui um grupo carnavalesco e outras atividades culturais que São Tomé e Príncipe tem“, sublinhou.

O diretor-geral da Cultura, destacou ainda que o país assinou várias convenções da UNESCO e há necessidade de preservar aquilo que é a cultura e a história do país, enfatizando a necessidade de a Direção Geral da Cultura e o Governo, através do Ministério da Educação, Cultura, Ciências e Ensino Superior “proporcionar sempre essas atividades de modo a trazer as pessoas aos eventos culturais do país”.

Não será totalmente a UNESCO a nos ajudar, mas vamos pedir apoio junto a UNESCO para nos ajudar a resgatar estas culturas, através do financiamento, não é dar dinheiro aos grupos, mas sim comprar os materiais que os grupos necessitam para a sua atuação. Há necessidade de nós nos ajudarmos na questão de compras dos materiais que eles precisam, como viola”, admitiu Boa Morte.

 “Para além disso, é sempre os trazê-los à essas atividades e estamos a sugerir a criação de uma agenda cultural para São Tomé e Príncipe em que vamos os convidar para atuarem sempre, de forma que eles possam receber alguma quantia para comprar os respetivos materiais”, acrescentou.

Os integrantes dos atuais grupos também alertam para extinção desta manifestação cultural no país.

O grupo de Carnaval está a acabar, ninguém quer mais apostar no grupo de Carnaval. Há grupos, depois de um violista morrer já não podem atuar mais”, disse Circuito Romântico, um dos integrantes do grupo de Carnaval Tradicional “Surpresa de Mucambu”.

A investigadora portuguesa, Magdalena Chambel que há vários anos tem feito estudos sobre a cultura em São Tomé e Príncipe, apelou ao Governo são-tomense para que possa fazer “os possíveis de forma que a cultura nacional chegue à mais pessoas”, defendendo a aposta na educação musical nas escolas, ensino das histórias do país, para que o património cultural não se perca nos próximos anos.

É muito importante valorizar o património que se tem, conhecer e dar a conhecer aos próprios são-tomenses e também aos outros”, disse Chambel.

Adozia Cristo, conhecida como “Saco de Boxe”, uma das intervenientes da cultura, também apelou para a preservação das manifestações culturais do país, apontando a falta de incentivo por parte das autoridades como um fracasso para o desaparecimento de muitas atividades em São Tomé e Príncipe.

Nós temos carência, porque antigamente via-se muitos grupos de Carnaval tradicional, mas hoje quase que não vemos e é de salutar a iniciativa que [a Direção da Cultura] teve em organizar este mini espetáculo de teatro tradicional”, disse.

O Carnaval tradicional tem estado a perder no país, até porque não há incentivo na área da cultura, as pessoas fazem por amor a arte, então as pessoas optam por outras coisas e deixam para trás a arte, mas com este gesto que Direção da Cultura faz, eu espero que eles continuem, e que promovam mais espetáculo de género para que faça renascer os grupos que já existiam e que tendencialmente estão a morrer”, acrescentou.

O “TLUNDU”, Carnaval tradicional de São Tomé e Príncipe é uma manifestação cultural que envolve dança, música, trajes típicos e outras formas de celebração, refletindo a identidade e a história do povo são-tomense.

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