Luana, estudante de Solicitadoria em Mirandela, Portugal, viu a sua identidade reafirmada quando ingressou na Universidade, local onde ganhou contacto com outros estudantes São-tomenses e de diversos países.
Filha de pais São-tomenses, Luana nasceu em Portugal, viveu em Lisboa até aos cinco anos e após este período foi a São Tomé onde viveu até aos 17 anos. Em 2019, a jovem regressou a Portugal com sua familia e assim ingressou na Universidade onde tem aprendido acerca da diversidade cultural.
Sentada numa cadeira durante uma conversa distraída, Luana conta um pouco da sua história recheada de acontecimentos nos quais impulsionaram a abertura para um maior conhecimento acerca da sua identidade como São-tomense.
“Uma coisa boa que a faculdade me trouxe, é eu saber quem eu sou. São coisas que passavam na minha cabeça. Eu nasci aqui em Portugal, fui para São Tomé com cinco anos, fiquei até os 17 e voltei. Mas, quando comecei a conviver com os meus amigos e colegas São-tomenses na escola, comecei a perceber que eu não sei muita coisa sobre São Tomé”, disse a estudante.

Na convivência com outros colegas e familiares num país multicultural, Luana descobriu características e hábitos intrínsecos do povo São-tomense que muitas das vezes eram vistos de forma negativa, como no caso do sotaque e a pronúncia. A jovem que passou parte da sua infância e adolescência no país entendeu que embora fosse São-tomense, desconhecia muito de si e da sua própria cultura, vendo no campus universitário uma ponte de acesso ao autoconhecimento.
A estudante percebeu que dentro dos países de expressão portuguesa, havia uma variedade de pronúncias e que as mesmas serviam como elemento essencial de identificação, assim sendo, aproveitou a oportunidade para explorar mais sobre o multiculturalismo e reafirmar-se como uma São-tomense.
“A minha mãe por vezes dizia-me que falo muito como São-tomense, que eu falo muito mal, mas depois eu falei para ela que eu sou São-tomense, eu falo assim. Eu não vou mudar só porque acham que falo mal. Uma coisa é eu pronunciar as palavras mal, outra coisa é ter o sotaque. Como no caso do “r”. Se formos ver em outras línguas cada país tem a sua forma de se expressar. Hoje não me sinto mal por ser São-tomense. Estou a me reafirmar”, declarou.

A integração na universidade quebrou muitos estereótipos negativos e abriu portas para o autoconhecimento e o conhecimento acerca da diversidade existente entre a comunidade africana. Luana diz perceber a “variedade cultural”, mesmo entre povos africanos que têm uma língua comum, neste caso, o português.
Para além de reafirmar sua identidade como uma São-tomense, Luana tem descoberto novas paixões que vão além do conhecimento académico, a dança.

“Eu vim para Mirandela, para fazer o curso de Solicitadoria, mas só que nos últimos tempos, eu tenho estado a me reconstruir, a saber quem eu sou, saber o que gosto, a explorar, porque acho que tem muita coisa que ainda não explorei em mim e eu reparei que sempre quis dançar. […] Então eu comecei a pensar. Eu não gosto deste curso, mas nunca se sabe o futuro, pode servir de alguma coisa mais tarde. […] Mas assim que terminar eu acho que vou me inscrever numa escola de dança. É uma coisa que eu sinto que tenho que fazer e se não fizer, não ficarei realizada”, explicou a jovem.
Com os aprendizados, Luana deixa uma mensagem.

“Eu penso que nós devemos ter orgulho de quem nós somos, saber que a nossa diferença pode marcar o outro. Na universidade podemos aprender, mas é preciso ter mais do que uma opção e aproveitar também para fazer o que gostamos”, destacou a estudante.
O campus universitário pode ser um lugar de inúmeros desafios, entretanto, para muitos estudantes tem sido também um lugar de experiências com a possibilidade de descobrir o mundo e redescobrir a si mesmo.