O Estado são-tomense disponibilizou-se em custear o bilhete de regresso garantindo um “retorno digno e seguro” aos são-tomenses desalojados em Portugal, entretanto, o porta-voz dos moradores referiu que os mesmos não desejam regressar por verem em Portugal “uma oportunidade para um futuro melhor”.
Segundo a Agência Lusa, a embaixada de São Tomé e Príncipe em Portugal assegurou estar disponível para “custear o bilhete de regresso a São Tomé e Príncipe a todos os cidadãos nacionais que, de forma voluntária, manifestem essa vontade, garantindo um retorno digno e seguro”.
Embora a oferta apresentada pelo estado são-tomense, o porta-voz dos moradores, Engels Amaral, referiu que os moradores que ainda estão no bairro, apesar das demolições, não querem regressar ao seu país de origem, pois viram em Portugal uma oportunidade para um futuro melhor, apesar da atual conjuntura e crise habitacional do país.
Na sua opinião, a dificuldade em pagar rendas ou prestações bancárias é transversal aos imigrantes ou aos portugueses, que também estão presentes neste bairro em Loures, visto os valores estarem muito altos face aos salários pagos em Portugal.
“A solução passa pelo Governo português encontrar forma de aligeirar o problema do acesso ao mercado de habitação, tanto para os imigrantes como para os portugueses que também estão cá. Sim, porque há portugueses no bairro do Talude”, declarou Amaral.
De acordo com informações avançadas pela agência Lusa a embaixada são-tomense “não dispõe de dados estatísticos precisos quanto ao número exato de emigrantes são-tomenses naquele bairro”, mas admitiu “que a presença da comunidade é significativa”.
A embaixada foi contactada por um porta-voz dos moradores, Engels Amaral, são-tomense de ascendência portuguesa, membro do Movimento Vida Justa, com quem tem “mantido diálogo direto”.
“Foram ativadas diligências com vista à disponibilização de tendas e géneros alimentícios, tendo sido estabelecidos contactos com diversas instituições públicas e privadas para reforçar os mecanismos de resposta. A embaixada tem também procurado agir em articulação com outras estruturas da sociedade civil e autoridades locais”, declarou.
Há aproximadamente um mês a Câmara Municipal de Loures iniciou demolições de casas ilegais no bairro militar do Talude, em Loures, onde estima-se que a a maioria da população residente seja são-tomense.
Apesar das diligências feitas, a representação diplomática frisou que não foi contactada, até ao momento, pela Câmara Municipal de Loures sobre a situação neste bairro, mas, “em paralelo, têm ocorrido trocas com entidades do Governo português, no quadro da responsabilidade partilhada na proteção de cidadãos estrangeiros em situação de vulnerabilidade”, esclareceu.
“A embaixada reafirma o seu compromisso com a defesa da dignidade dos cidadãos são-tomenses no exterior e continuará a acompanhar com atenção este e outros casos, trabalhando com todas as partes interessadas para soluções humanas, legais e sustentáveis”, reiterou.
Os municípios de Loures e Amadora, no distrito de Lisboa e ambos presididos pelo Partido Socialista (PS), realizaram em julho operações de demolição de casas precárias construídas pelos habitantes, o que provocou grande polémica.
A autarquia de Loures iniciou em 14 de julho uma operação de demolição de 64 habitações precárias no bairro do Talude Militar, que acolhem 161 pessoas.