A comunidade da Roça Boa Entrada, outrora um símbolo da história colonial e da vivência agrícola em São Tomé e Príncipe, enfrenta hoje um cenário de abandono e degradação, com casas centenárias em ruínas e moradores a pedirem apoio urgente das autoridades.
As construções, que datam da era colonial, espelham a arquitetura tradicional das antigas roças santomenses e testemunham a história de famílias que ali viveram durante gerações. No entanto, o tempo e a falta de manutenção têm deixado marcas profundas.

“Tenho 40 anos. Cresci aqui na Roça Boa Entrada e, há 40 anos, isto não era assim. A casa grande era muito bonita, até a senzala era bem cuidada. A comunidade hoje está muito mal”, lamentou Rosa, uma residente local.
João, outro habitante da comunidade, recorda os tempos áureos: “Boa Entrada era outra coisa. Essas casas eram bem cuidadas. Havia hospital, a casa grande do patrão, tudo era bom. Hoje está tudo a cair”.
Além do desgaste natural das infraestruturas, os moradores enfrentam diversos problemas sociais e estruturais. A falta de estradas, de equipamentos sociais e o abandono de infraestruturas essenciais são queixas recorrentes.

“Estamos com falta de uma boa estrada. A casa grande já caiu. Precisamos de uma escola, um pólo desportivo e de reabilitar o hospital que está parado”, apelou Ana Maria, também residente.
Rosa acrescenta que muitas famílias não têm meios para realizar obras de reabilitação: “Aqui vivemos do cacau. Nem todas as pessoas têm condições para comprar um saco de cimento. A casa está a cair e a estrada está muito má. Pedimos atenção do Governo”.

A antiga casa grande, símbolo do poder colonial na roça, foi completamente destruída. Para Carla Mendes, presidente da associação local, é urgente pensar em novas utilizações para o espaço: “Já que a casa grande não existe mais, no meu ponto de vista, o terreno poderia ser aproveitado para construir um pólo desportivo para os jovens”.
As casas de comboio das antigas senzalas também estão em avançado estado de degradação. A insegurança é crescente entre os residentes que ainda vivem nesses edifícios, alguns com estruturas comprometidas.

“Muitas casas nas senzalas estão destruídas. Há pessoas que veem os vizinhos pelos buracos nas paredes”, descreveu Lourdes Correia.
“A casa está péssima. Quando chove com vento, entra água por todo lado. O telhado está rebentado, as paredes em ruína. À noite não conseguimos dormir. O apelo que faço ao Governo é que nos ajude a reparar estas casas. Estamos praticamente a viver na rua”, disse João.

Com um vasto património histórico e arquitetónico, Boa Entrada arrisca perder para sempre vestígios valiosos do seu passado. A população local continua à espera de ações concretas por parte das autoridades para salvaguardar as suas casas, a sua segurança e a própria memória coletiva da comunidade.